
Perdas e esperan�a na ci�ncia, na cultura e na pesquisa, em um momento que comove o mundo e deixa em aberto os caminhos do Museu Nacional, consumido pelo fogo no Rio de Janeiro. Minas pode ajudar na recomposi��o do riqu�ssimo equipamento cultural destru�do na capital fluminense durante inc�ndio entre a noite de domingo e a madrugada de segunda-feira. Mas lamenta a perda de um acervo valioso, composto, entre muitas pe�as, pelos milhares de vest�gios arqueol�gicos retirados da gruta Lapa Vermelha IV, em Pedro Leopoldo, na Grande BH, e levados para a institui��o, na d�cada de 1970. Nesse s�tio da regi�o metropolitana da capital mineira foi tamb�m encontrado o cr�nio de Luzia, considerada a primeira brasileira, pe�a sobre a qual ainda n�o se tem not�cia concreta ap�s o desastre.
Segundo o arque�logo Andr� Prous, professor aposentado do Departamento de Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal de Minas Gerais, o acervo recuperado em Minas e mandado ao Museu Nacional inclu�a fragmentos de cer�mica, ossos e rochas. “Tenho toda a documenta��o e os escritos sobre isso”, disse Prous. As pe�as forma levadas para o Rio pela miss�o franco-brasileira chefiada pela arque�loga Annette Laming Emperaire (1917-1977), que fez escava��es entre 1974 e 1975 na regi�o c�rstica de Lagoa Santa. Em 1975, Annette encontrou o f�ssil humano mais antigo com data��o no Brasil (11,4 mil anos), o qual foi estudado em 1998 pelo antrop�logo Walter Neves, da Universidade de S�o Paulo (USP). Foi ele o respons�vel por estudos que contaram uma nova hist�ria do povoamento do continente, e por batizar Luzia – numa alus�o a Lucy, um f�ssil de australopitecos de 3,2 milh�es de anos descoberto no Deserto de Afar, na Eti�pia, considerado um dos mais antigos homin�deos de que se tem not�cia.
Outra perda, que tende a se transformar em um mist�rio insol�vel, refere-se ao acervo de milhares de anos que ajudaria a contar a pr�-hist�ria de Belo Horizonte – bem antes dos tempos de Curral del-Rey, que deixou de existir para dar lugar � capital inaugurada em 1897. No fim da d�cada de 1930, foram enviados ao Museu Nacional, conforme registros fotogr�ficos, vest�gios cer�micos (peda�os de potes de variados tamanhos e rodas de fuso) e l�ticos (machados, soquetes e bigornas de pedra) provenientes de antigas aldeias ind�genas existentes principalmente nas regi�es onde hoje fica o Horto Florestal, no Bairro Santa In�s, e do C�rrego do Cardoso, no atual Bairro Santa Efig�nia, na Regi�o Leste. “Certamente, esse material est� perdido”, lamenta o ge�logo e professor Ant�nio Gilberto Costa, diretor do Museu de Hist�ria Natural e Jardim Bot�nico da UFMG.
COOPERA��O Com a trag�dia consumada no Rio de Janeiro e uma parte ainda n�o descrita do acervo perdido no Museu Nacional, os cientistas, apesar de lamentar a destrui��o, t�m a possibilidade de trabalhar em um sistema de coopera��o, fundamental para reerguer o equipamento das cinzas. O Museu de Ci�ncias Naturais da PUC Minas, em Belo Horizonte, por exemplo, est� pronto a auxiliar o Museu Nacional a repor parte do acervo paleontol�gico (f�sseis) que, conforme estimativas iniciais, arruinou n�o s� o pr�dio de 200 anos como tamb�m 90% do acervo em exposi��o no im�vel hist�rico. Segundo o coordenador do equipamento mineiro, Bonif�cio Jos� Teixeira, as r�plicas de exemplares da megafauna expostas na unidade do c�mpus Cora��o Eucar�stico, na Regi�o Noroeste da capital, foram feitas em resina, sobre originais exibidos no museu fluminense.


Mesmo diante da atitude solidariedade entre cientistas de institui��es de renome, fica dif�cil n�o falar sobre a destrui��o do Museu Nacional, que abrigava um acervo composto de parcela consider�vel da hist�ria da humanidade. Cartelle n�o esconde a indigna��o, sugerindo at� mesmo deixar o pr�dio como est�, como “testemunha do descaso, do desleixo e do abandono do bem nacional”. Para Bonif�cio, os inc�ndios s�o ou um “azar da natureza ou coroamento de uma s�rie de erros e neglig�ncias”, que levam � deteriora��o da educa��o, da ci�ncia e da cultura. “A sociedade precisa ficar unida e se apropriar de seus bens para proteg�-los da melhor forma”, afirma.

“Fiquei muito triste com a destrui��o do Museu Nacional. J� conhecia a hist�ria da Luzia, mas � bom ver tudo aqui de perto. Fico emocionada”, disse Maria J�lia Medina, de 12 anos. Perto dela, os colegas J�lia Lopes, Lu�za Vit�ria, Breno Eduardo, Alejandro Mateus e Stephany Alves estavam atentos aos detalhes e �s informa��es. Ao fim da visita, contemplaram o pterossauro (r�ptil voador), que domina um dos andares do Museu de Ci�ncias Naturais da PUC Minas.