
Um desafio gigantesco, que mistura quest�es urban�sticas, sociais, de mobilidade e infraestrutura, mobiliza equipes cada vez maiores da Prefeitura de Belo Horizonte, mas est� longe de ter uma solu��o � vista. Neste ano, desde que intensificou as abordagens � popula��o em situa��o de rua na capital, a administra��o j� recolheu em pontos onde essas pessoas se re�nem ou improvisam barracos nada menos que 122 toneladas de materiais inserv�veis. � uma montanha de lixo, entulho e restos de m�veis e de recicl�veis capaz de encher as ca�ambas de uma frota de 17 caminh�es de coleta. Tudo retirado nos primeiros oito meses deste ano de cal�adas e sob viadutos e outras estruturas urbanas da cidade.
Para fazer frente a essa miss�o, o munic�pio aumentou o n�mero de equipes multidisciplinares na cidade. E como os servidores diagnosticaram que essas pessoas t�m se deslocado cada vez mais do Centro para os bairros, dentro de um m�s cada uma das nove regionais da capital mineira ter� um grupo pr�prio, formado por seis profissionais ligados � �rea social, de fiscaliza��o e da Superintend�ncia de Limpeza Urbana (SLU). A meta � tentar reduzir o conflito por espa�o e os obst�culos criados em diferentes pontos pela deposi��o irregular desses materiais nas ruas.
N�o � uma tarefa f�cil, pois o n�mero de moradores em situa��o de rua em Belo Horizonte vem crescendo ao longo dos anos. Segundo o �ltimo levantamento da prefeitura, s�o pelo menos 4,5 mil pessoas. O trabalho para convenc�-las a deixar os locais em que se abrigam � constante, assim como as abordagens das equipes municipais. Mas o trabalho n�o tem fim. Tanto que, apesar de ter cerca de mil vagas em abrigos, o munic�pio enfrenta dificuldades para convencer muitos desses cidad�os a trocar a vida ao relento por uma das unidades de acolhimento da capital. A atua��o das equipes municipais de assist�ncia social resultou em 16.556 abordagens de janeiro a agosto, o que indica que v�rias dessas pessoas s�o abordadas diversas vezes, mas continuam a viver nas cal�adas e sob viadutos.
Antes, essa popula��o se concentrava, basicamente, no Centro da cidade e nas imedia��es do Bairro Lagoinha, na Regi�o Noroeste. Mas passou a migrar para outras regi�es, o que demandou a mudan�a de estrat�gia por parte da administra��o municipal, principalmente no treinamento de mais pessoas para as abordagens. “A gente trabalhava at� pouco tempo com uma equipe s�. Como as pessoas que estavam concentradas se movimentaram, vimos a necessidade para manter um n�mero maior de equipes. Provavelmente, ser� uma para cada regional”, explicou Maria Caldas, secret�ria municipal de Pol�ticas Urbanas.
As novas equipes multidisciplinares est�o em treinamento h� dois meses. No in�cio deste m�s, passaram a compor o grupo que faz as abordagens aos moradores nas ruas da cidade. As a��es s�o coordenadas por um profissional da �rea social. T�m ainda um fiscal, duas pessoas que d�o o apoio e dois integrantes da SLU. Nesta semana, eles participaram de pelo menos duas grandes a��es: uma na trincheira sob a Avenida Ant�nio Carlos, no encontro das avenidas Bernardo Vasconcelos e Am�rico Vesp�cio, e outra em frente ao Hospital Belo Horizonte, no Bairro Cachoeirinha.

“Primeiro, o coordenador da �rea social faz um contato com as pessoas, para que sejam informadas do que est� acontecendo, de que tipo de conflito a situa��o est� gerando. Caso esteja tomando o passeio, por exemplo, � informado de que � necess�rio diminuir a ocupa��o. Tamb�m s�o informados de que ser�o retirados os materiais considerados inserv�veis, e de que eles poder�o portar o que conseguirem levar em seus deslocamentos. Se quiserem guardar outras coisas, como televisores ou m�veis, esses objetos s�o levados para um dep�sito da prefeitura, onde as pessoas poder�o reav�-los quando quiserem”, esclareceu Maria Caldas. Segundo ela, os pr�prios moradores escolhem os materiais que querem conservar.
OPERA��O Somente na �ltima quarta-feira, 9 mil quilos de material, ou mais de um caminh�o de lixo, foram removidos da trincheira sob a Avenida Ant�nio Carlos, onde foram encontradas 23 pessoas pelas equipes do munic�pio. A a��o liberou parte da cal�ada, e muitos dos ocupantes deixaram a �rea. Por�m, logo que os servidores municipais viraram as costas, a reocupa��o come�ou: menos de 24 horas depois da opera��o, j� havia cinco barracas no espa�o, e mais material voltava a se acumular, como mostrou o Estado de Minas em sua edi��o de quinta-feira.
Os trabalhos de abordagem, que se intensificaram no Centro da cidade, agora seguem para outras regi�es. Atualmente, est�o concentrados na Noroeste, ao longo da Avenida Ant�nio Carlos, onde, segundo Maria Caldas, existe no momento uma aglomera��o maior da popula��o de rua. Mas a atua��o � apenas um paliativo, como reconhece a pr�pria Prefeitura de BH. “Mesmo depois das visitas, eles voltam a acumular objetos e temos que fazer tudo novamente”, disse a secret�ria Maria Caldas.
As ocupa��es junto a pilares de estruturas urbanas traz tamb�m outra preocupa��o: em rela��o � integridade do concreto e das ferragens. A Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informa que, al�m de dificultar o acesso para manuten��o, a ocupa��o irregular dos espa�os debaixo dos viadutos pode potencializar riscos decorrentes do desgaste e exposi��o das estruturas de concreto armado, pelo contato com a urina, outros dejetos e pela a��o cont�nua do fogo, usado na queima de cabos de cobre e madeira. Apesar do alerta, a Sudecap acrescenta que, em monitoramento constante, ainda n�o foi diagnosticado risco estrutural motivado pela presen�a e a��o dessa popula��o.
Equipes multidisciplinares
Cada grupo de atua��o distribu�do pelas regionais administrativas da
capital ser� composto de:
>> Um coordenador da �rea social
>> Um fiscal
>> Dois profissionais de apoio
>> Dois integrantes da Superintend�ncia de Limpeza Urbana
>> Guardas municipais, caso necess�rio debaixo do viaduto
Confira os n�meros relacionados � popula��o em situa��o de rua na capital
122 toneladas
de materiais inserv�veis foram recolhidas das ruas de BH em oito meses
17 caminh�es
de lixo seriam necess�rios para carregar todo o material removido
4,5 mil
� a �ltima estimativado n�mero de sem-teto vivendo em Belo Horizonte
16.556
� o n�mero de abordagens feitas apenas por equipes da Subsecretaria Municipal de Assist�ncia Social,de janeiro a agosto
68
� a m�dia di�ria de abordagens em BH, considerando todos os dias do per�odo, inclusive fins de semana e feriados
1 mil
� a quantidade aproximada de vagas dispon�veis para acolher esse contingente. Apesar de o n�mero ser menor do que a popula��o estimada, convencer essas pessoas a trocar as ruas por uma dessas unidades � um desafio