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Estado de Minas

M�dia de acidentes de tr�nsito envolvendo bicicletas salta 20% em Belo Horizonte

Bicicleta pintada de branco em local de acidente fatal na Regi�o da Pampulha � manifesto mundial que tem se tornado mais frequente na capital. Enquanto frota de carros beira 2 milh�es na cidade, m�dia de acidentes com ciclistas sobe e ativistas pedem mais visibilidade e conscientiza��o de motoristas


postado em 17/09/2018 06:00 / atualizado em 17/09/2018 07:44

Ghost bike no Bairro Jardim Paquetá: protesto, que se repete em várias cidades do mundo, é manifestação silenciosa pela morte de Luís Filipe Marques, atropelado em agosto (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
Ghost bike no Bairro Jardim Paquet�: protesto, que se repete em v�rias cidades do mundo, � manifesta��o silenciosa pela morte de Lu�s Filipe Marques, atropelado em agosto (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)


Lu�s Filipe Marques, de 19 anos, foi pedalar na orla da Lagoa da Pampulha. Na volta, ao passar pela Rua P�voa de Varzim, no Bairro Jardim Paquet�, na mesma regi�o, foi atropelado por um condutor com sinais de embriaguez, que trafegava pela contram�o. Lu�s era soldado do Ex�rcito. Filho �nico, foi enterrado no Dia dos Pais deste ano, sob forte como��o dos familiares e amigos. No local do acidente, est� hoje uma bicicleta pintada de branco, adornada com flores, e um cartaz que cobra justi�a e respeito no tr�fego. Esse tipo de homenagem, conhecido como “ghost bike”, � instalado em locais de desastres que resultam na morte de ciclistas. O movimento, adotado no mundo todo com o intuito de alertar motoristas, tem se tornado tristemente mais comum em Belo Horizonte, em um contexto em que crescem na cidade o n�mero de autom�veis e de adeptos do pedal, e paralelamente o de acidentes envolvendo ciclistas. �s v�speras da Semana Nacional do Tr�nsito, que come�a amanh�, ativistas das duas rodas dizem que o quadro � motivo para aumentar a conscientiza��o e a visibilidade desse meio de transporte pois, sustentam, quanto mais gente trocar o carro pela bike, menores ser�o os riscos.

O desastre que tirou a vida de Lu�s Filipe foi uma das 284 ocorr�ncias de tr�nsito envolvendo bicicletas nos oito primeiros meses deste ano nas ruas de Belo Horizonte. A m�dia mensal vem aumentando: enquanto em 2016 foram 16,16 ocorr�ncias a cada 30 dias, a taxa bateu em 17,08 no ano seguinte e saltou para 19,5 entre janeiro e agosto de 2018, aumento de 20% nos �ltimos dois anos,  segundo n�meros mais recentes disponibilizados pela Pol�cia Militar (veja gr�fico). De acordo com o tenente Marco Ant�nio Said, porta-voz do Batalh�o de Tr�nsito da Pol�cia Militar de Minas Gerais, o perfil predominante das colis�es � exatamente aquele que vitimou o soldado: “Normalmente, os acidentes ocorrem entre ve�culos de passeios e bicicletas. E s�o acidentes feios, porque, de fato, o ciclista est� em uma posi��o de vulnerabilidade, assim como o pedestre. Como a pr�pria lei de tr�nsito prev�, condutores de ve�culos maiores precisam ter cuidado com os menores”.

Foi na noite de 11 de agosto que o empres�rio Geraldo Figueiredo, de 42, ouviu o choro de uma m�e ao ver o filho atropelado pela imprud�ncia de mais um motorista. Dono de um restaurante na Rua P�voa de Varzim, no Bairro Jardim Paquet�, onde ocorreu o atropelamento, ele n�o se esquece da cena: “Escutei um barulho muito alto. Quando fui ver do que se tratava, avistei um corpo estendido no ch�o e um carro fugindo, acelerando. A bicicleta entrou debaixo do carro, e s� por isso o motorista n�o conseguiu escapar”, descreve.

Ele contou que um grupo de pessoas correu em dire��o ao condutor, depois identificado como Gabriel Palhares Gir�o, de 23, para n�o deix�-lo fugir, “Tomaram o celular dele e chamaram a PM. Ele estava com sinais de embriaguez, mal sabia o que tinha acontecido”, lamenta o empres�rio que testemunhou a cena. De acordo com o boletim de ocorr�ncia registrado na data, o carro acertou o jovem em sua bicicleta, jogando-o contra um muro. O motorista dirigia na contram�o, ap�s ultrapassar tr�s carros, segundo a pol�cia. O Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia (Samu) foi chamado, mas Lu�s morreu no local.

Os sinais de consumo de �lcool pelo condutor eram claros, segundo o boletim. Os policiais registraram que ele apresentava olhos vermelhos e h�lito et�lico, e que se recusou fazer o teste do baf�metro. Mesmo assim, de acordo com a assessoria de imprensa da Pol�cia Civil, foi preso por dirigir alcoolizado e teve a Carteira Nacional de Habilita��o (CNH) apreendida. O inqu�rito est� em andamento e depende do fim da per�cia.

A morte de Lu�s Filipe exp�e a falta de respeito no tr�nsito, mas tamb�m, para quem conhece a regi�o, as defici�ncias de infraestrutura que submetem especialmente pedestres e ciclistas a risco: “A rua � perigosa e outros acidentes j� aconteceram no mesmo ponto. J� pedimos um quebra-molas, exatamente onde ocorreu o desastre. Esse caso foi de pura imprud�ncia do motorista, mas um quebra-molas ajudaria a diminuir a velocidade do carro. Ele estava a pelo menos 100km/h”, disse Geraldo Figueiredo.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)
GHOST BIKERS Em 25 de agosto, moradores do bairro onde ocorreu o desastre, familiares e ciclistas se reuniram para fazer manifesta��o, cobrar justi�a e conscientizar motoristas. O grupo partiu da igrejinha da Pampulha e seguiu para a rua onde ocorreu o atropelamento. L�, houve um ato para a instala��o da ghost bike. As bicicletas brancas servem como um alerta aos condutores de autom�veis,  para que tomem cuidado com as vidas que pedalam pelas ruas. “O padr�o � usar a bicicleta da v�tima, pint�-la de branco e retirar pe�as que chamam mais a aten��o, como bancos e pneus”, explicou o ciclista Carlos Edward Campos, de 52, integrante da Associa��o dos Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte (BH em Ciclo). O protesto de amplitude mundial chegou ao Brasil por volta de 2009, em S�o Paulo. Na capital mineira, sabe-se de bicicletas que foram instaladas na Via Expressa, na Avenida Pedro II e na Avenida Crist�v�o Colombo. Entretanto, n�o h� um n�mero preciso de registros.

Apesar do alerta pela conscientiza��o, Carlos Campos frisa que os ciclistas n�o devem ser desestimulados diante desse tipo de situa��o. “Se pensarmos do ponto de vista da seguran�a, andar de bicicleta � muito mais seguro do que andar de carro ou de moto na cidade. Est� longe de ser perigoso. No Brasil, morrem mais de 50 mil pessoas por ano v�timas de acidentes automobil�sticos e ningu�m para de usar o carro, ningu�m fala que � perigoso. Na verdade, a amea�a na cidade � o carro”, afirma.

Ciclistas buscam recorde e maior visibilidade


A m�dia mensal de acidentes envolvendo ciclistas em Belo Horizonte subiu nos �ltimos dois anos, paralelamente ao aumento da frota de ve�culos motorizados e � percep��o de maior ades�o da popula��o �s pedaladas. Mas, para ativistas das duas rodas, a tend�ncia � de que quanto mais bicicletas haja nas ruas, maior a conscientiza��o, devido � visibilidade que o movimento vai ganhando. E a meta � que os n�meros de ocorr�ncias envolvendo bikes diminua, com maior ocupa��o dos espa�os urbanos. “Isso acontece em consequ�ncia da mudan�a de comportamento das pessoas em rela��o � bicicleta”, explica Amanda Cristine Alves Corradi, de 27 anos, ciclista e integrante da Associa��o dos Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte (BH em Ciclo). A capital ainda passa por um processo de conscientiza��o dos motoristas e ocupa��o de espa�os pelas bikes: “Infelizmente, a gente passa despercebido muitas vezes, e isso � um problema. Uma das maneiras de garantir a seguran�a � fazendo a��es que aumentem o n�mero de adeptos da bicicleta”, afirma. Outra � ampliando a quantidade de ciclovias, consideradas ainda t�midas e fragmentadas.

� preciso abrir caminho para um contingente que n�o para de crescer, nem de pedalar. Em 2018, a previs�o � de que 100 mil bicicletas passem pelo contador instalado na Avenida Bernardo Monteiro, no Bairro Funcion�rios, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte. Um recorde que deve representar um aumento de pelo menos 14% em rela��o a 2017, quando o marcador registrou 87.139 ciclistas.

Os ativistas da BH em Ciclo explicam que, pelos n�meros do contador, com in�cio de funcionamento em 1º de julho de 2016, j� � poss�vel comparar cada um dos 12 meses do ano com o respectivo per�odo do ano anterior. “At� o dia 12 deste m�s, 71.942 ciclistas passaram pelo trecho. Acreditamos que vamos alcan�ar o recorde”, avalia Amanda Corradi. O grupo at� organizou um bol�o para apostar em que dia e hora que o contador registrar� os 100 mil, e qual o n�mero total de ciclistas contabilizado ao fim de 2018.

Segundo a BH em Ciclo, em m�dia, uma pessoa � vista pedalando a cada 13 segundos e 273 a cada hora na capital mineira. No hor�rio de pico, esse n�mero pode aumentar: um a cada oito segundos. Os n�meros fazem parte da pesquisa Contagem de Ciclistas 2017, que teve como objetivo gerar dados que possam ser usados para orientar e monitorar a��es do poder p�blico e da sociedade civil, visando a garantir o direito de usar a bicicleta como meio de transporte.

O levantamento foi realizado outras duas vezes e, comparando as vers�es anteriores, percebe-se que houve aumento anual desde 2010. “Visualmente, a gente percebe que aumentou. Tem mais gente pedalando pela capital, mas n�o conseguimos mensurar o impacto na cidade inteira”, completa a cicloativista Amanda Corradi.


Passeio ciclístico estimula doação de sangue e reflete popularização das bikes em BH: adeptos pedem passagem e cobram mais respeito no trânsito (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Passeio cicl�stico estimula doa��o de sangue e reflete populariza��o das bikes em BH: adeptos pedem passagem e cobram mais respeito no tr�nsito (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
 

 

Ciclovias em marcha lenta


Belo Horizonte conta hoje com 89,93 quil�metros de ciclovias, com tend�ncia de amplia��o. A l�gica adotada pelo munic�pio foi criar pistas nas regionais e, gradativamente, ir unindo a rede ciclovi�ria, com a meta de chegar a 2020 com 411 quil�metros, j� que o Plano Diretor de Mobilidade Urbana de Belo Horizonte identificou aproximadamente quatro centenas de quil�metros de rotas que poderiam ser demarcadas e destinadas ao ciclismo. Com isso, a expectativa � que 6% de todos os deslocamentos da capital se deem por bicicleta.

Mas o quadro atual � considerado vergonhoso por cicloativistas. “Muito aqu�m do que deveria ser. A malha ciclovi�ria � fragmentada. N�o existe uma conex�o entre as pistas. S�o peda�os espalhados na cidade e isso n�o promove um deslocamento inteiro de forma segura”, critica Amanda Corradi. Para atingir sua pr�pria meta, segundo ela, a prefeitura precisaria criar 13 quil�metros de ciclovia por m�s – mas n�o atinge esse n�mero nem anualmente.

Carlos Edward Campos, de 52, tamb�m da BH em Ciclo, concorda de que � muito dif�cil que o objetivo seja alcan�ado: “As ciclovias s�o poucas e s�o desconectadas, porque a implanta��o delas parou. Entretanto, o projeto que prev� mais de 400 quil�metros – obviamente, quando totalmente implantado –, vai ter conex�o entre as estruturas ciclovi�rias e entre elas e os meios de transporte p�blico”, disse.

Ele tamb�m pondera que n�o basta construir ciclovias para tornar a cidade segura, uma cidade “cicl�vel”. “As estruturas ciclovi�rias, ciclovias e ciclofaixas, s�o important�ssimas, principalmente, em vias de tr�nsito pesado. Mas em nenhuma cidade do mundo h� essa estrutura em cada metro de via p�blica. O espa�o tem de ser compartilhado”, destaca.

Por isso, para Campos n�o se trata de restringir ciclistas e pedestres a espa�os delimitados, mas sim de reduzir velocidades. “Existe uma tend�ncia mundial de criar as famosas zonas 30, zonas 20, que s�o �reas onde as pessoas podem caminhar e os carros v�o passar (em velocidades limitadas), as bicicletas v�o andar e todo mundo vai usar o mesmo espa�o. Nas regi�es de grande concentra��o, por exemplo, dentro da Avenida Contorno, n�o deveria ser permitido ve�culos transitando a 60km/h”, defende. “A redu��o de velocidade, mais estruturas ciclovi�rias, mais toneladas de campanhas educativas perenes v�o transformar a cidade, em alguns anos, em uma cidade cicl�vel, onde ciclistas e pedestres n�o v�o ser mais abatidos nas vias.”

Segundo a BHTrans, n�o h� previs�o de recursos neste momento para as a��es prometidas para o setor. A estimativa � de que, em m�dia, cada quil�metro de ciclovia custe cerca de R$ 150 mil. “A quest�o econ�mica atual do pa�s impacta na evolu��o dessa quilometragem. Contudo, � fundamental, al�m de criar as estruturas de ciclovia e os biciclet�rios/paraciclos, educar e conscientizar a popula��o sobre a import�ncia da bicicleta na mobilidade sustent�vel que queremos para Belo Horizonte,” informou a assessoria da empresa municipal.

 


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