
M�dicos cubanos que atendiam em munic�pios brasileiros j� n�o ocupam seus postos de trabalho. Desde ontem, com o cancelamento da renova��o dos contratos e a divulga��o pelo Minist�rio da Sa�de do edital para preenchimento 8.517 vagas em 2.824 munic�pios e 34 Distritos Sanit�rios Especiais Ind�genas (veja quadro), os profissionais j� n�o compareceram aos consult�rios em v�rias cidades. Na Grande BH, a mudan�a deixa na sala de espera cerca de 200 mil pacientes apenas nas duas cidades que contavam com maior contingente de estrangeiros do pa�s caribenho: Ribeir�o das Neves e Santa Luzia. Do total de 603 cargos que dever�o agora ser reocupados em Minas, 87 se destinam a munic�pios da Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, 32 �s duas prefeituras.
Em Ribeir�o das Neves, do total de 35 profissionais do Mais M�dicos, 17 vieram de Cuba. O c�lculo � que a partida deles deixe cerca de 130 mil pessoas na fila, � espera de substitui��o. J� em Santa Luzia, da equipe de 23 integrantes do programa, 15 eram cubanos. Com a volta deles para a ilha da Am�rica Central, uma popula��o estimada em 68 mil pessoas aguardar� o preenchimento das vagas.
Em Santa Luzia, no posto de sa�de do Bairro Bom Jesus, o clima era de desola��o na segunda-feira, �ltimo dia de trabalho da doutora Alba, como se referiam os pacientes � m�dica cubana que os atendia. Na sala de espera, v�rias pessoas que aguardavam atendimento fizeram coro para elogiar o trabalho da profissional. A funcion�ria p�blica S�nia Maria Santos, de 56 anos, disse que a chegada da estrangeira foi “a melhor coisa que aconteceu para a comunidade na �rea de sa�de”.
Ela se lembrou de tempos em que os postos da cidade n�o conseguiam contratar profissionais, devido ao valor dos sal�rios e � competi��o com munic�pios com maior poder econ�mico. “Eram raros os m�dicos que permaneciam aqui por muito tempo”, contou. Segundo a servidora, a m�dica cubana e sua equipe mudaram a concep��o de atendimento. “Muito atenciosa, educada, examinava o paciente com as m�os, conversava olhando nos olhos e nos visitava em casa em situa��es em que n�o pod�amos nos deslocar. Ser� uma perda insuper�vel”, lamentou.
Os elogios s�o repetidos por Luciana Aparecida da Silva, de 35. “Fiz com ela todo o pr�-natal de minha filha ca�ula, nascida h� 15 dias. Pessoa maravilhosa. N�o senti com ela o pouco caso que sentia com outros profissionais”, disse. Antero Ant�nio dos Reis, de 66, mec�nico de manuten��o, ainda torcia para a m�dica permanecer no posto. “A gente aqui na periferia custa a ter algo de bom. Agora n�o podemos deixar que ela v� embora”, lamentava.
Tamb�m sem acreditar na possibilidade de afastamento da m�dica, Terezinha Lu�za Alves, de 85, disse j� ter passado em sua vida por v�rios profissionais, “uns bons, outros nem tanto, mas essa � muito especial”, dizia, com a concord�ncia do vizinho de espera, L�lio Louren�o, de 60. “Ela aqui � unanimidade”, elogiou. No Posto de Sa�de S�o Geraldo, no Centro de Santa Luzia, elogios se repetiram para a m�dica Leidys Peres. E Hyohana Fernandes, de 25, atendida pela m�dica Ros�lia Verdecia Gonzalez, disse que as consultas eram objetivas e com muito profissionalismo.
Prefeituras j� fazem contas
Para a secret�ria de sa�de de Santa Luzia, N�dia Cristina Duarte Tom�, a baixa no Programa Mais M�dicos � “a maior perda para o modelo assistencial pelo qual viemos lutando desde 1998”. A cidade da Grande BH teve no projeto o suprimento para a m�o de obra que faltava nos pontos mais cr�ticos de viol�ncia e vulnerabilidade social. “Nesses quatro anos, n�o houve nenhum registro de hist�rico de conflito entre essas comunidades e os m�dicos cubanos”, disse ela.
N�dia acredita que a forma��o desses profissionais seja mais humanizada, uma vez que o foco de sua atua��o � preventiva. Mas ela cr� que o efeito mais positivo para a cidade foi conseguir fixar o m�dico com a equipe. “A diretriz do programa de atendimento b�sico, como o Programa de Sa�de da Fam�lia (PSF), por exemplo, � a rela��o da equipe m�dica com a fam�lia, e eles trouxeram esse legado, uma nova filosofia de trabalho. T�m experi�ncia com sa�de comunit�ria”, disse.
Mesmo dizendo concordar com os motivos que levaram aos questionamentos sobre a participa��o cubana, N�dia acha que a forma “abrupta” com que o conv�nio foi interrompido � negativa para o atendimento. E espera que o tempo para readequar as equipes seja o m�nimo poss�vel. A secret�ria j� faz c�lculos e prev� uma despesa mensal de R$ 270 mil para os cofres do munic�pio caso as vagas n�o sejam preenchidas via Mais M�dicos.
O secret�rio de Sa�de de Ribeir�o das Neves, Jos� Jacinto da Mota J�nior, considera que o programa desafogou a demanda por m�dicos na cidade, principalmente nos locais mais distantes, onde n�o houve recusa pelos profissionais de Cuba. A cidade tem 55 equipes do PSF, 35 delas do Mais M�dicos, das quais 17 eram chefiadas pelos cubanos. O chefe da pasta disse que j� acionou o setor de Recursos Humanos da prefeitura para providenciar um processo seletivo, caso n�o consiga candidatos para suprir as vagas, o que gerar� aumento de despesas no or�amento em torno de R$ 210 mil mensais.
Sem n�meros consolidados, o secret�rio disse ser vis�vel o “desafogo” nas unidades de atendimento de emerg�ncia e nos hospitais quando se d� prioridade � sa�de preventiva. “O grande impacto do PSF � prevenir a doen�a aguda, evitar que o paciente com diabetes ou hipertens�o, por exemplo, chegue a um acidente vascular cerebral ou enfarto. Para cada um d�lar gasto na preven��o, economizamos quatro”, disse.
Rea��o r�pida para manter atendimento
De acordo com o Minist�rio da Sa�de, o edital lan�ado ontem � medida emergencial adotada pelo governo brasileiro para garantir a assist�ncia em locais que contavam com profissionais de Cuba, ap�s o comunicado da Organiza��o Pan-Americana da Sa�de (Opas), no qual o governo cubano informou ter encerrado a coopera��o no programa Mais M�dicos. Est� prevista a abertura de nova chamada em 27 de novembro, para brasileiros formados no exterior e estrangeiros.
A diminui��o da participa��o dos m�dicos cubanos no Mais M�dicos foi implementada pelo Minist�rio da Sa�de desde 2016. At� aquela data, cerca de 11.400 profissionais de Cuba trabalhavam no programa, n�mero que caiu para os atuais 8.332. Al�m dos ativos, ser�o substitu�dos 185 m�dicos da coopera��o que estavam no per�odo de recesso ou encerrando a participa��o.
O presidente do Conselho Nacional de Secret�rios Municipais de Sa�de (Conasems), Mauro Junqueira, avaliou que a rea��o do Minist�rio da Sa�de foi mais r�pida do que o esperado. “Antes, a valida��o da documenta��o do m�dico demorava cerca de 90 dias. Com essa facilita��o, teremos o profissional em dezembro. O prazo � curto, por isso � importante envolver os munic�pios e chamar os m�dicos para n�o deixar a popula��o desassistida”, afirmou Mauro Junqueira.
Temos vagas
Confira detalhes da contrata��o do Programa Mais M�dicos
» Postos de trabalho
8.517 em 2.824 munic�pios e 34 Distritos Sanit�rios Especiais Ind�genas de todo o pa�s
603 vagas em Minas
87 na Grande BH
» Pr�-requisitos
M�dicos com registro no Conselho Regional de Medicina ou com diploma revalidado
» Prazo
Das 8h de hoje at� as 23h59 de domingo
» Sal�rio
R$ 11,8 mil por 36 meses, com possibilidade de prorroga��o
»Carga hor�ria
32 horas em unidades b�sicas de sa�de e 8 horas te�ricas
» In�cio das atividades
3 de dezembro
» Nova chamada
27 de novembro (para brasileiros formados no exterior e estrangeiros)
» Inscri��es
maismedicos.gov.br