Nas ruas de Belo Horizonte, boa parte da popula��o que depende do transporte p�blico espera �nibus sob sol ou chuva, em estruturas quebradas, sujas, depredadas ou muitas vezes em pontos sem qualquer prote��o. Enquanto passageiros aguardam sem o m�nimo de comodidade, est� atrasada a principal a��o para minimizar esse problema e aumentar o conforto dos usu�rios do servi�o. Para piorar, at� abrigos que j� foram trocados h� pouco tempo representam problemas e em alguns casos obrigam o cidad�o a ficar no tempo, bem ao lado de estruturas rec�m-instaladas.
Dos 500 novos abrigos com mais espa�o, tecnologia e conforto que j� deveriam estar funcionando na cidade at� 31 de agosto, a empresa respons�vel havia instalado 436 at� aquela data. A �ltima atualiza��o da BHTrans indicava que 488 abrigos est�o colocados, com perspectiva de alcan�ar 500 at� o fim do ano, com quatro meses de atraso.
A obriga��o � chegar a 1,3 mil novos pontos em quatro anos, dentro de um servi�o que come�ou em junho de 2016. Al�m da demora, muitos novos abrigos que j� est�o colocados nas ruas ainda n�o est�o completos. O principal item ausente � o painel que informa o tempo de espera para os coletivos. O atraso na viabiliza��o da novidade levou a BHTrans a advertir a empresa respons�vel pela coloca��o das estruturas, sob amea�a de multa caso a firma n�o entre com recurso e explique os motivos da demora.
Entre as estruturas consideradas antigas na cidade, no modelo anterior aos novos abrigos, � f�cil encontrar exemplos de abandono do poder p�blico. Na Rua 28 de Setembro, a principal do Bairro Esplanada, na Regi�o Leste de BH, a situa��o do ponto de �nibus obrigou o estudante Glauber Castro, de 22 anos, a esperar o coletivo que o levaria at� a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) no lado contr�rio da rua. “Estou aqui justamente para aproveitar a sombra da �rvore. Se ficar no ponto o sol incomoda bastante”, diz ele. Faltava cobertura na estrutura, assim como prote��o no espa�o destinado a publicidade.
Depois que a reportagem do Estado de Minas passou pelo local, a cobertura foi trocada, mas a estrutura antiga se manteve. “Tem dois anos e meio que pego �nibus aqui para ir � faculdade desse jeito. N�o temos conforto, ficamos expostos a sol e chuva e n�o sabemos a que hora os �nibus v�o passar”, disse ele. A indica��o do hor�rio dos coletivos, presente em v�rios pontos da cidade por meio de pain�is eletr�nicos, � importante para a estudante Ana Carolina Chaves, de14, que mora no Esplanada e estuda no Santa Tereza, ambos bairros da Regi�o Leste. Ela usa o mesmo ponto de Glauber. “Acho importante saber o hor�rio para me organizar, j� que estou sempre atrasada”, disse.
O exemplo da falta de manuten��o das estruturas mais antigas n�o se restringes a bairros, mas se repete em corredores mais movimentados da cidade, como a Avenida Get�lio Vargas. A cobertura do ponto de �nibus instalado em frente ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT), no Bairro Funcion�rios, Centro-Sul de BH, passou muito tempo completamente destru�da, com placas quebradas. A estrutura tamb�m foi modificada ap�s o registro da reportagem, mas, nesse caso, a instala��o do novo abrigo ainda n�o representa melhoria. A antiga estrutura ficou largada no ch�o, praticamente embaixo da nova, deixando passageiros expostos a sol e chuva.
A principal solu��o lan�ada pela BHTrans para melhorar o conforto de quem espera �nibus na capital � a implanta��o dos 1,3 mil abrigos j� contratados. A Emerge BH, que est� atrasada com o servi�o, venceu a licita��o para instalar as estruturas, com a contrapartida de explorar publicidade nos locais. Com mais espa�o, aumentou o conforto nos pontos contemplados, que oferecem maior prote��o contra sol e chuva, prometem oferecer internet wi-fi e informar o tempo para a chegada de cada �nibus.
A cuidadora de idosos Ellen Grace de Lima, de 31, diz que a diferen�a � enorme em rela��o aos pontos comuns. “Voc� fica protegido de sol e chuva, v� a hora em que seu �nibus vai passar e fica muito mais confort�vel. Isso deveria se espalhar para a cidade inteira. Moro em Venda Nova e l� n�o tem isso”, afirma ela, que usa com frequ�ncia um dos novos pontos na Avenida Raja Gabaglia, no Bairro Luxemburgo, Centro-Sul de BH.
Um balan�o feito pela BHTrans na quarta-feira apontava 488 abrigos instalados at� ent�o. A empresa que faz a gest�o do transporte e tr�nsito na cidade j� havia admitido atraso anteriormente, mas reviu alguns prazos, principalmente devido a problemas criados para deficientes visuais, que n�o estavam conseguindo detectar os novos equipamentos e esbarravam neles. Por isso foi suspensa a coloca��o das estruturas at� que o escrit�rio de arquitetura respons�vel pelo projeto desse uma solu��o para a quest�o. A BHTrans, ent�o, publicou no Di�rio Oficial do Munic�pio de ter�a-feira uma advert�ncia � Emerge pelo atraso no cronograma. “Fica aberto o prazo de 10 dias �teis, a contar da publica��o desta, para recurso. A n�o apresenta��o de recurso � pass�vel de multa”, informou a BHTrans.
Ponto da Savassi (acima) adequado � nova tecnologia, com o visor que aponta o tempo previsto para a chegada do transporte p�blico (abaixo)
Outra situa��o que se observada nas ruas � que em alguns pontos j� em formato novo, mais moderno, apesar de a estrutura met�lica estar posicionada, n�o h� o painel indicativo do tempo para a chegada dos �nibus. Um dos lugares onde que isso ocorre � o ponto da Avenida do Contorno quase em frente ao Hotel Mercury, no Bairro Santo Ant�nio, Centro-Sul de BH. Acostumada a pegar �nibus em v�rios lugares da cidade, a auxiliar de escrit�rio Fabiana Reis, de 29, diz que sempre consulta o painel pelos pontos por que passa. “Quando n�o tem a hora, a gente fica ansiosa, sem saber se j� passou. At� tenho o aplicativo da BHTrans, mas meu celular vive sem bateria e por isso acabo muitas vezes sem informa��o”, afirma.
A BHTrans informou que essa � a primeira puni��o � empresa por atraso no cronograma de implanta��o, mas j� houve outras san��es relacionadas � coloca��o de abrigos sem autoriza��o e � n�o apresenta��o de garantias contratuais. A Emerge BH vai investir em 25 anos de contrato R$ 51 milh�es, levando em considera��o implanta��o e manuten��o das estruturas. A empresa pagou R$ 1 milh�o de outorga pelo servi�o e tamb�m tem que gastar mensalmente R$ 58,59 por ponto instalado. N�o h� custos do poder p�blico para consertar ou implantar abrigos no contrato. O retorno da empresa vem pela explora��o da publicidade nos abrigos. O Estado de Minas tentou contato com a Emerge BH, mas ningu�m foi encontrado para comentar o atraso na coloca��o dos pontos.
SEM PADRONIZA��O
Uma situa��o chama a aten��o nos novos abrigos, pela falta de padroniza��o em rela��o ao aplicativo que a BHTrans disponibiliza para que os passageiros acompanhem o tempo para a passagem dos �nibus. O App SIU Mobile (foto), que mostra quanto tempo falta para a chegada de cada ve�culo, leva em considera��o o endere�o dos pontos de �nibus. J� os novos abrigos s�o caracterizados por nomes, como o abrigo da Avenida Afonso Pena entre as ruas Cear� e Santa Rita Dur�o, sentido Mangabeiras. Ele traz a identifica��o “Pra�a ABC 1”, o que obriga o usu�rio a saber o endere�o exato de onde se encontra para localizar a parada no App. Como muitas vezes s� se sabe o nome da rua ou avenida e o n�mero n�o � t�o vis�vel, o passageiro tem certa dificuldade de localizar a parada exata.
NOVOS ABRIGOS
Confira o que diz o contrato e o andamento dos servi�os
» O contrato da BHTrans com a Emerge BH prev� a implanta��o, em quatro anos, de 1,3 mil novos abrigos na cidade, com mais espa�o, tecnologia e design moderno. Um dos diferenciais � a indica��o do tempo para a chegada de cada linha de �nibus naquela parada.
» At� 31 de agosto, a empresa deveria ter implantado 500 abrigos, mas fez apenas 436, o que gerou advert�ncia da BHTrans. �ltima atualiza��o de 21 de novembro apontava 488 colocados.
» O contrato prev� investimentos da empresa, entre instala��o e manuten��o, de R$ 51 milh�es em 25 anos de opera��o. Para ganhar a licita��o, a empresa pagou uma outorga de cerca de R$ 1 milh�o � PBH e precisa remunerar os cofres p�blicos em R$ 58,59 mensais por abrigo instalado.