“Tem muita gente que aproveita e se alimenta do suor dos outros. Eu n�o.” Jos� Rubens da Silva, de 83 anos, � o homem em situa��o de rua que teve sua imagem captada e viralizada ao almo�ar em um restaurante de luxo na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte no in�cio desta semana. Com os R$ 50 que tinha, parte da aposentadoria que recebe, fez quest�o de pagar a refei��o e acabou ganhando desconto de mais de 90%. “A comida estava boa, mas n�o gostei do lugar. Ningu�m fala com ningu�m, eu n�o conhe�o ningu�m”, completou Jos�, que � conhecido nas ruas como Azulinho ou Jamaica.
O homem, que parecia an�nimo, tornou-se popular nas redes sociais. Mas, nas ruas, j� era muito conhecido. Com um problema de locomo��o, Jos� Rubens perambula muito pelas vias movimentadas do Centro da capital. Na ter�a-feira, saiu para comprar um conjunto de roupas, mas a fome fez com que batesse na porta do Benvindo, restaurante localizado em Lourdes, bairro sofisticado e com o metro quadrado mais caro da capital.

Ele nasceu no Bairro Saudade, na Regi�o Leste de BH, segundo ele na “carro�a” do pai. Nas m�os, leva a tatuagem “m�e, amor e Deus”, mas pouco sabe sobre por onde anda a fam�lia. O nome dos pais � Ary da Silva e Celina Lu�za da Silva. Sente falta da madrinha, com quem foi morar aos 8 anos no Bairro Funcion�rios, na Regi�o Centro-Sul.
Muito acanhado, preferiu n�o contar sobre sua situa��o de rua e os la�os familiares. Entretanto, diferentemente do que se acreditava, o homem n�o � catador de material recicl�vel: “N�o preciso disso. Deixo pra quem n�o tem”, afirmou Azulinho. Ele conta que vive da sua aposentadoria.
Normalmente, ele almo�a em “restaurantes em que algu�m possa atend�-lo”. Ao ser questionado sobre seu prato favorito ele disse: “R� assada na brasa”. O prato lhe tr�z lembran�as dos seus 14 anos quando ia pescar no Rio de Janeiro, revela. Mas como � muito dif�cil de encontrar, ele disse: “gostaria de um arroz de forno com asinha frita, acompanhado de refrigerante. Guaran�, mas n�o pode ser zero.” Azulinho ainda contou que n�o costuma beber bebidas alco�licas e, por isso, n�o tomou mais que duas ta�as de vinho no restaurante. "O rapaz trouxe um vinho pra mim. A� tomei o vinho e pensei: 'meleca, gostei desse vinho n�o," lembrou ele.
A reportagem lhe ofereceu um lanche. Azulinho aceitou, sob a condi��o de que ele pr�prio pagasse. Pediu refrigerante e dois p�es com mortadela. Comeu um e dispensou o segundo.
Encontr�-lo demandou apenas uma tarde. Apesar de ser reconhecido pela repercuss�o apenas agora, o homem j� � muito conhecido pelas ruas. “� o Azulinho”, contou um homem ao ver uma foto mostrada pela reportagem. Andando por abrigos e restaurantes populares, todos j� o viram. “Sempre est� pr�ximo ao Instituto de Previd�ncia dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg)”, disse um morador em situa��o de rua. L�, a dona de uma banca de revistas revela: “Faz alguns meses que n�o o vejo, mas sempre comprou comigo. Ele 'dependura' na conta. Gosta das guloseimas e dos sucos. Sempre paga certinho”, completou.

Entenda o caso
O caso ocorreu na �ltima ter�a-feira. Segundo o gar�om Felipe Rodrigues Fontes, de 21 anos, o homem abordou os gar�ons na varanda e pediu uma refei��o. “Ele disse que fazia quest�o de pagar, que queria pagar com o suor dele. Ele estava com R$ 50”, contou ao EM no in�cio da semana. O gar�om e um colega o atenderam, oferecendo o card�pio e sugest�es.
O cliente optou por um almo�o executivo, que inclui entrada, prato principal e sobremesa. Tamb�m pediu um vinho e foi atendido pelos gar�ons, que levaram uma garrafa. Ele n�o terminou a bebida, devolvendo a garrafa e pedindo dois refrigerantes. Tamb�m dispensou a sobremesa. Segundo Fontes, o total da conta era de R$ 121,80.
No entanto, na hora de pagar, o cliente teve uma surpresa. Segundo ele, um dos propriet�rios do restaurante estava presente e ofereceu a refei��o como cortesia. Mas, como o cliente insistiu, eles cobraram apenas uma quantia simb�lica de R$ 10. Uma mulher que almo�ava com duas amigas no restaurante fotografou o momento e divulgou um texto em seu perfil no Instagram e a imagem se espalhou.
O dono do Benvindo, Gustavo Viana de Melo, est� surpreso e muito feliz com a repercuss�o. “N�o fiz esperando nada de volta. Mas estou achando interessante. Os clientes est�o comentando, estou recebendo muitas mensagens positivas nas redes sociais”, contou. Na tarde de ontem, o local estava lotado. “Benvindo � mais que um nome, � a nossa miss�o”, completou.
