
Andar de �nibus em Belo Horizonte custar� mais caro a partir de domingo. A passagem predominante na capital, dos coletivos convencionais e do Move, vai subir 11% e passar dos atuais R$ 4,05 para R$ 4,50. O aumento, que tamb�m incide sobre as outras tarifas, vem acompanhado de condicionantes acordadas ontem entre os empres�rios do setor e a BHTrans e de estudos que podem representar mais infraestrutura para o servi�o. Depois de um impasse que se estende desde a sexta-feira passada, quando a prefeitura divulgou os resultados de auditoria sobre os contratos com as concession�rias, prevaleceu o valor ofertado pela administra��o municipal, abaixo dos R$ 6,35 apontados pelo trabalho que apurou os custos do servi�o. Por�m, movimento que representa usu�rios amea�a levar o assunto � Justi�a. E o impacto do acordo de ontem pode se expandir, j� que at� amanh� o sistema de transporte metropolitano, que liga a capital a cidades da Grande BH, deve definir o valor de suas passagens.
Em Belo Horizonte, as empresas reclamam continuar no vermelho, apesar do aumento, sem o qual sustentam que n�o teriam f�lego para continuar operando a partir de janeiro. Por isso, ser� criada m�s que vem uma agenda para fazer um plano de trabalho na expectativa de equil�brio dos custos e receitas do servi�o. Para isso, as concession�rias pretendem se debru�ar sobre a auditoria feita pela prefeitura, cujos resultados foram divulgados na semana passada. “O reajuste est� abaixo do �ndice da infla��o. Como todos acompanharam, na greve dos caminhoneiros, somente o diesel subiu mais de 25% no ano passado”, disse o presidente da BHTrans, C�lio Bouzada.
A queda de bra�o em torno do valor das passagens na capital come�ou na semana passada, com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) anunciando ter preju�zo mensal que chega a R$ 20 milh�es. Na sexta, foi a vez de a PBH divulgar os resultados da auditoria sobre os custos do sistema e a rela��o das empresas com a BHTrans. O estudo indicou que as concession�rias operam no vermelho e que, para equacionar despesas e receitas, a passagem deveria custar R$ 6,35, em vez dos atuais R$ 4,05 – valor congelado desde 2017.
J� o movimento Tarifa Zero BH tamb�m divulgou levantamento, mas com valores totalmente diferentes. Segundo o estudo, a passagem na capital deveria custar R$ 3,45 e a diferen�a de R$ 0,60 teria permitido �s concession�rias do servi�o de transporte coletivo um faturamento indevido de quase R$ 180 milh�es no ano passado. O grupo afirma ter usado nos c�lculos os par�metros de uma planilha que era usada pela prefeitura at� 2007.

CONTRAPARTIDAS Pol�mica � parte, no acordo que permitiu a fixa��o do novo valor, as empresas ter�o de dar contrapartidas e o munic�pio tamb�m assumiu compromissos. Para chancelar o aumento para R$ 4,50, a prefeitura cobrou das empresas de �nibus a renova��o da frota, com a aquisi��o de 300 �nibus com ar-condicionado e suspens�o a ar, a ser conclu�da no primeiro quadrimestre de 2019.
As concession�rias tamb�m devem contratar, ainda no m�s que vem, 500 cobradores. De janeiro a novembro, a BHTrans aplicou 8.726 multas por viagens feitas sem trocador fora dos hor�rios permitidos. Em todo o ano passado foram 210. Viagem sem agente de bordo, popularmente conhecido como trocador, � permitida por lei durante o per�odo noturno, entre as 20h30 e as 5h59, durante os domingos e feriados, em hor�rio integral, e nos ve�culos do Move, mas passou a ser adotada irregularmente em situa��es n�o permitidas.
Por sua vez, as concession�rias impuseram duas condi��es � prefeitura: a amplia��o de faixas exclusivas para �nibus e a intensifica��o da presen�a da Guarda Municipal nos coletivos. De acordo com o presidente do sindicato que representa as empresas, Joel Paschoalin, as faixas diminuem o tempo de deslocamento e melhoram a frequ�ncia das viagens, suprindo a demanda de passageiros. Eles reivindicam corredores para o transporte coletivo n�o apenas nas avenidas principais, mas tamb�m em vias de bairros. “Procuramos um sistema mais eficiente e podemos usar alternativas de tecnologia para isso, como novos modelos de ve�culos, talvez novas fus�es de linhas”, afirmou o representante do Setra.
Ele sustenta que as medidas n�o v�o fazer passageiros esperarem mais no ponto, mas contribuir para rearranjar trajetos equivocados, melhorar hor�rios e itiner�rios dentro dos pr�prios bairros, atendendo mais pessoas. Em busca de novos profissionais, as empresas v�o apelar para uma central de recrutamento e para redes sociais. “Por causa do programa de capacita��o de cobradores, muitos foram para outras profiss�es, com remunera��o at� maior e, provavelmente, n�o v�o querer voltar”, disse Paschoalin.
Vigil�ncia e novas pistas
O presidente da BHTrans, C�lio Bouzada, informou que a Guarda Municipal est� estudando onde houve aumento de incidentes nos coletivos para intensificar a atua��o entre o fim da tarde e o in�cio da noite. Em janeiro, ser� divulgado edital de contrata��o de projeto de faixas exclusivas, segundo ele, que devem totalizar cerca de 50 quil�metros extras de faixas.
A BHTrans ainda n�o definiu os locais, mas apontou a regi�o do Buritis (Oeste de BH), Avenida Afonso Pena (no Centro), Avenida Iva�, no Bairro Dom Bosco (Regi�o Noroeste), e Avenida Portugal, na Pampulha, como possibilidades. O presidente da empresa tamb�m aposta na tecnologia para implantar melhorias, desde incrementar venda de passagens pela internet, por aplicativos e nos postos de vendas, at� usar ferramentas digitais que permitam, na madrugada, deixar os passageiros diante da porta de casa.
Apesar do acordo e dos compromissos de lado a lado, quem usa o servi�o na capital reclama dos novos pre�os. A motorista Daiane Gabriela Rosa de Morais, de 30 anos, � uma dos que discordam do reajuste. “Pesa no bolso de quem pega �nibus todos os dias. N�o foi feita melhoria alguma nos coletivos. N�o d� para acreditar que as empresas est�o tendo esse preju�zo. Os �nibus est�o sempre lotados e as pessoas em p�. Se fosse verdade, com um rombo desse tamanho j� teriam rescindido o contrato”, disse ela.
A assistente jur�dica Renata Righi, de 32, j� fez as contas de quanto vai ter de desembolsar agora: R$ 18 por dia. Esse � o valor que gasta quando paga a passagem em dinheiro, pelos quatro �nibus que pega diariamente. “� um valor absurdo para um �nibus que nem cobrador tem. O motorista tem que ficar parado para receber a passagem, ajudar a subir cadeirante e depois desc�-lo e verificar outras quest�es. Tudo isso faz a viagem ainda mais longa, pois perde-se muito tempo”, relata.
J� o sapateiro Jorge Pitanga, de 63, que usa o transporte coletivo todos os dias, acha razo�veis as condi��es em que ocorreu o reajuste. “Se eles trocarem esses �nibus, que s�o mais lentos que carro�as, acho que vale a pena. De fato, o valor do combust�vel aumentou e � esperado o reajuste por isso. Mas espero que fa�am valer a pena os R$ 4,50”, disse.
REA��O O movimento Tarifa Zero convocou para as 19h de hoje reuni�o aberta ao p�blico no Centro de Refer�ncia da Juventude (CRJ), na Regi�o Central de BH, para debater o aumento. O movimento n�o acredita no resultado da auditoria feita pela prefeitura e diz que o prefeito Alexandre Kalil (PHS) n�o cumpriu a promessa de “bater de frente” com as empresas de transporte p�blico em BH. O movimento amea�a entrar na Justi�a contra o aumento e argumenta que n�o se pode tratar como vantagem o an�ncio de contrata��o de 500 cobradores e a compra de 300 �nibus com ar-condicionado, medidas que avalia como obriga��o das empresas. (Com Larissa Ricci e Lucas Negrisoli, estagi�rio sob supervis�o do editor Roney Garcia)