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Estado de Minas

Familiares de desaparecidos em Brumadinho mostram �ltimas mensagens enviadas por eles

Os �ltimos contatos s�o palavras de amor, de agradecimento a Deus ou planejando um encontro com os amigos no fim de semana que viria


postado em 03/02/2019 06:00 / atualizado em 06/02/2019 14:49



Brumadinho – H� mais de uma semana, parentes e amigos de v�timas e desaparecidos da trag�dia da barragem 1 da Mina C�rrego do Feij�o, da Vale, em Brumadinho, aguardam um retorno que n�o acontece. Com celular nas m�os, eles se emocionam ao rolar a barra de mensagens. Os �ltimos contatos s�o palavras de amor, de agradecimento a Deus ou planejando um encontro com os amigos no fim de semana que viria. O fim de semana n�o veio para os mais de 121 mortos e 226 desaparecidos.

Para pouco mais de 90 mortos identificados resta a dor dos familiares que velam e sepultam os entes queridos cujas vidas foram tragadas pelos cerca de 13 milh�es de metros c�bicos de rejeitos que vazaram da �rea da mineradora. Para os familiares de desaparecidos, resta um fio de esperan�a. � espera de um milagre, n�o se separam dos celulares.

Muitos funcion�rios costumavam ligar para os parentes na hora do almo�o. Naquela sexta-feira, a liga��o n�o aconteceu, o que causou estranheza. “Ele ligava na hora do almo�o e eu estava esperando”, conta Nayara Cristina Dias, esposa do desaparecido Everton Lopes Ferreira. A barragem se rompeu pouco depois das 12h, hora em que a �rea do refeit�rio registrava grande fluxo – um dos primeiros pontos a ser engolidos pela lama.

 
De: Everton Lopes Ferreira (desaparecido)

Para: Grupo dos irm�os

(foto: Renan Damasceno/EM/D.A Press)
(foto: Renan Damasceno/EM/D.A Press)


“A �ltima mensagem que ele me mandou foi para fazer um anivers�rio surpresa para o nosso pai. Ele teve a ideia. Olha, esse � o nosso grupinho. A �ltima mensagem eu mandei foi dia 24, falando que eu tinha resolvido meu problema com a operadora. Todos viram, menos ele”

Everton Lopes Ferreira � t�o querido por todos que a irm� Daniele Fernanda Ferreira come�a a sorrir s� de ver as mensagens do irm�o. O grupo dos irm�os Ferreira n�o aceita intrusos. “Nem eu podia entrar”, conta Nayara Cristina Dias, esposa do estoquista de armaz�m, que trabalhava h� oito anos na Vale.

“O Everton era um palhacinho, muito brincalh�o, muito alegre. Todo mundo gostava do meu marido, n�o tinha ningu�m que n�o gostava. Minha tia mais velha tratava ele como filho, as pessoas da minha igreja o adoravam.” Todo dia, Everton fazia sempre igual. “Ele levantou para trabalhar e me abra�ou, como de costume. E saiu para trabalhar e n�o o vi mais”, conta Nayara.

No celular dos irm�os est�o mensagens de bom-dia e v�deos de Everton andando de moto com o irm�o Daniel Ant�nio Ferreira. A �ltima mensagem foi para fazer um anivers�rio surpresa para o pai, ideia que Everton apresentou aos irm�os, que toparam de primeira. 

 

De: Josu� Oliveira da Silva (desaparecido)

Para: Shirley Aparecida Corr�a dos Santos, esposa


(foto: Renan Damasceno/EM/D.A Press)
(foto: Renan Damasceno/EM/D.A Press)


“Essa foi a mensagem do dia 24. Ele falando que me ama, que eu ficasse com Deus. J� eram 22h24. Eu respondi, falei para ele ficar com Deus. Aqui j� era no dia 25, quando mandei mensagem e j� n�o tive retorno”. Shirley Aparecida Corr�a dos Santos e Josu� Oliveira da Silva completariam um ano de casados ontem.

Na quarta-feira (23), Josu� completou 27 anos. Na quinta, eles conversaram pela �ltima vez. “Assim que chegava no servi�o, ele ligava falando que estava tudo bem e, na sexta, isso n�o ocorreu. Mandei mensagem, liguei. Liguei e fiquei esperando o retorno dele que, at� agora, n�o aconteceu”, conta a executiva de obras.

Shirley est� h� mais de uma semana de plant�o no Espa�o do Conhecimento, em Brumadinho, onde funciona um centro de apoio aos familiares dos desaparecidos. Nas m�os, ela carrega dois telefones: o seu e o de Josu�, que, na sexta-feira da trag�dia, acordou atrasado e esqueceu o telefone no dormit�rio antes de seguir para a Mina do C�rrego do Feij�o.

Ao rolar a barra de mensagens do celular, Shirley mostra com olhar marejado as mensagens carinhosas do marido. “Ele me falava ‘te amo’ e eu falava que o amava muito mais”. A f� � o que mant�m Shirley de plant�o � espera de not�cias do marido, mais de uma semana depois da trag�dia. 

 

De: Giovani Paulo da Costa (desaparecido)

Para: Leonardo Geraldo da Costa, irm�o

(foto: Renan Damasceno/EM/D.A Press)
(foto: Renan Damasceno/EM/D.A Press)


“Vim desejar aquele dia maravilhoso e muito aben�oado, que todos estejam sob a prote��o de Deus”

Os �ltimos dias n�o estavam sendo f�ceis para a fam�lia Costa. No in�cio do ano, Geovani e Leonardo perderam a m�e, v�tima de um infarto fulminante. No dia 25, por volta das 14h, Leonardo soube do rompimento da barragem e que o irm�o, mec�nico de manuten��o, poderia estar entre as v�timas.

“Minha cunhada conseguiu conversar com ele de manh� atrav�s do Zap, n�. E na hora do almo�o ela mandou a mensagem e ele n�o respondeu. O acidente foi por volta das 12h40 e depois disso a gente liga, liga e s� cai na caixa postal”

Geovani tem dois filhos: um menino de 9 anos e uma menina de 3. A fam�lia n�o tem not�cias desde sexta-feira. “Estive l� na hora do acidente e nunca vi nada t�o fora do comum. Parece um filme que a gente v� na televis�o”, conta o irm�o.

Enquanto n�o recebe not�cias do mec�nico, a fam�lia se reveza no centro de apoio. “A gente quer encontr�-lo com vida e sei que � dif�cil, pela quantidade de dias, mas a gente quer pelo menos encontrar, para dar um enterro digno, que ele merece.”

 

Amor de pai e filho  gravado no Whatsapp

(foto: Jair Amaral/EM/DA Press )
(foto: Jair Amaral/EM/DA Press )


No fat�dico dia da trag�dia em Brumadinho, �verton Guilherme Ferreira Gomes era s� felicidade. Empregado havia 30 dias na Progen, empresa terceirizada da Vale, o jovem, de 21 anos, cujo posto de trabalho como gestor de qualidade era na sede da empresa, em Nova Lima, foi a Brumadinho conhecer o novo chefe, que estava na Mina C�rrego do Feij�o. Pouco antes de a barragem se romper, o rapaz trocou mensagens via WhatsApp com o pai, Paulo Aniceto Gomes, que n�o via havia alguns dias.

“Bom-dia pai ontem eu n�o fui porque estava em outra cidade e hoje estou de novo. Em Brumadinho. Mina do Corr�go do Feij�o. Eu te amo! Fica com Deus.” O pai respondeu. “Am�m, meu filho, papai tamb�m te ama muitoooooo...”

Paulo Aniceto vai � Esta��o do Conhecimento, em Brumadinho, onde a Vale montou um ponto de apoio para informa��es sobre as v�timas, todos os dias em busca de not�cias sobre �verton. Ele acredita que o �verton possa ter escapado da trag�dia. “Eu conversei com ele pouco tempo antes e ainda acredito que ele possa estar vivo, que tenha corrido pra mata. N�o era pra ele estar aqui”, lamenta. A convic��o de Paulo na sobreviv�ncia do filho � tanta que, nos dois dias seguintes, ele enviou novas mensagens pelo celular. No dia 26 ele disse: “Amo voc� meu filho. Senhor Jesus cuida do meu filho...” E outra no dia 27: “Oi meu filho estou com muita saudade!!! Oi meu amor papai com muita saudade de voc� beijos te amo...”

�verton est� inclu�do na lista de desaparecidos. “A Vale t� falando em dar dinheiro, R$ 100 mil, mas eu n�o quero dinheiro. Quero meu menino!” O garoto tinha planos de se casar com a namorada, Camila, com quem estava h� dois anos. “Os dois faziam tudo juntos, jogavam futebol, entre outras coisas. � dif�cil romper quando se tem uma liga��o assim. Ela est� muito abalada”, dis Paulo sobre a nora.

Paulo conta que a mulher veio at� Brumadinho na sexta-feira, 25, dia em que aconteceu o desastre, e agora n�o quer vir mais. Ela e o filho mais novo do casal ficam em Belo Horizonte � espera de not�cias.

 


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