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Estado de Minas

Esquadr�o a�reo em a��o: por dentro das buscas por aeronaves

Procura de v�timas da cat�strofe conta com o apoio imprescind�vel de helic�pteros. Habilidade de tripula��es e orienta��es do comando s�o fundamentais para equipes de terra


postado em 03/02/2019 06:00 / atualizado em 03/02/2019 08:06

Aeronave atua resgatando corpo encontrado em meio à lama, após árduo trabalho de equipes de terra: atuação afinada entre militares(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Aeronave atua resgatando corpo encontrado em meio � lama, ap�s �rduo trabalho de equipes de terra: atua��o afinada entre militares (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press)

Em uma guerra, a cavalaria a�rea tem entre suas miss�es a de suprir a necessidade de deslocamento por terrenos hostis e de dif�cil acesso. Na batalha pelo resgate de v�timas daquela que caminha para se consolidar como a pior trag�dia humana da hist�ria da minera��o no Brasil, da mesma forma t�m sido fundamentais as opera��es com 17 helic�pteros para salvar vidas e recuperar corpos desde o �ltimo dia 25, quando ocorreu o rompimento da Barragem 1 da Mina C�rrego do Feij�o, operada pela mineradora Vale em Brumadinho, na Grande BH. Sem esses aparelhos, o custo de tempo e esfor�os para o transporte de socorristas, translado de restos mortais e identifica��o dos atingidos seria ainda maior, na avalia��o de autoridades que atuam no local. Para mostrar as dificuldades e desafios que essas tripula��es enfrentam, a equipe de reportagem do Estado de Minas acompanhou toda uma opera��o de resgate do corpo de uma v�tima, embarcada em uma aeronave P�gasus da Pol�cia Militar de Minas Gerais que atua desde o rompimento da represa de rejeitos.

Para se ter uma ideia das dimens�es da opera��o e da log�stica que ela envolve, diariamente s�o realizados cerca de 300 pousos e decolagens das bases na Faculdade Asa, de Brumadinho, e do Centro de Comando da Igrejinha, em C�rrego do Feij�o, na mesma cidade. H� oportunidades em que seis aeronaves se encontram em rotas para pouso, exigindo do comando a�reo e de pilotos extremo cuidado e per�cia para evitar acidentes. Enquanto bombeiros embarcam nos aparelhos para serem lan�ados no mar de lama inst�vel em que os helic�pteros n�o podem sequer pousar, sob risco de afundar, outros i�am corpos localizados por algumas das diversas equipes de socorristas ou vasculham a lama para identificar poss�veis v�timas, humanas ou animais.

A bordo dos helic�pteros em miss�o de resgate, basta que a aeronave se erga para que a mancha vermelha de min�rio e barro aberta entre matas, fazendas e moradias fique evidente. Circulando em alturas diferentes, tomando trajetos distintos, v�rias aeronaves de diferentes for�as sobrevoam essa ferida aberta no C�rrego do Feij�o.

ENSURDECEDOR Dentro da aeronave, a comunica��o s� � poss�vel por meio de fones de ouvido com microfones acoplados, devido ao ru�do intenso dos rotores. As comunica��es de r�dio das diversas equipes mostram toda a aten��o necess�ria em uma opera��o desse porte. Enquanto os pilotos informam sobre o seu deslocamento e os operadores alertam sobre outras aeronaves e obst�culos, a central de comunica��es e controle determina quais os procedimentos para cada equipe, quem pousa, quem decola. Tudo simult�nea e coordenadamente.

Em um pasto pr�ximo � margem do Rio Paraopeba, perto da linha f�rrea da Vale e de uma estrada rural, uma multid�o ao lado de alguns carros observava a opera��o. Outro helic�ptero P�gasus estava no solo, preparando-se para resgatar restos mortais encontrados sete dias ap�s o rompimento da Barragem B1. As duas aeronaves ganham altura e deslizam pelo ar at� o meio do rio, um dos principais afluentes do Rio S�o Francisco, agora vermelho e assoreado pela lama. Sobre um dos bancos de rejeitos no meio do rio, dois bombeiros afundados at� a alinha da cintura marcam o local da localiza��o do corpo.

Com dificuldade, os policiais posicionam a aeronave sobre a dupla, tentando deixar a corda e a rede de carga numa posi��o acess�vel aos bombeiros. O deslocamento brusco e constante de ar das p�s dos rotores arranca at� poeira dos barrancos, dificultando a vis�o dos resgatistas em solo e sua miss�o. Quando os restos mortais s�o finalmente acomodados na rede e o helic�ptero acelera para ganhar altura, os dois socorristas desabam sobre o banco de rejeitos, demonstrando o al�vio da tarefa cumprida depois de um esfor�o extenuante.

Como ocorreu centenas de vezes isso na pequena comunidade de C�rrego do Feij�o, a aeronave transportando uma v�tima i�ada aparece no horizonte, atraindo a aten��o dos moradores, sobretudo daqueles que perderam amigos e familiares na regi�o. O ponto de recolhimento foi batizado de IML, numa alus�o � sigla de Instituto M�dico-Legal, por ser o local formal onde a Pol�cia Civil recebe corpos para a identifica��o e outros procedimentos legais.

A aeronave n�o chega a tocar o solo. Apenas desarma a rede, depositando o corpo sobre uma parte do pasto. N�o pode demorar, porque o deslocamento de ar de outra aeronave se aproximando j� � sentido e essa turbul�ncia pode ser perigosa para ambas. Assim que o P�gasus parte, a equipe de legistas, protegidos por um macac�o vedado e com m�scaras de g�s, sai de uma tenda branca para recolher mais uma v�tima. Naquele local, mais de 120 atingidos recuperados sem vida foram limpos e submetidos a exames e testes para reconhecimento. Aqueles que ainda n�o podem ser devolvidos para suas fam�lias s�o levados para caminh�es frigor�ficos.


Exerc�cios di�rios de per�cia

Quantidade de helicópteros em espaço restrito exige controle rigoroso(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Quantidade de helic�pteros em espa�o restrito exige controle rigoroso (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press)

Vasculhando as margens de um rio de lama com barro na altura dos joelhos, 12 resgatistas das brigadas da Associa��o Mineira de defesa do Ambiente (Amda) e do povoado de Casa Branca procuram por sinais de vida na regi�o onde ficava a Pousada Nova Est�ncia. A constru��o foi arrasada pelo rompimento da Barragem do C�rrego do Feij�o, em Brumadinho, na Grande BH. Naquele s�bado, segundo dia de buscas, um helic�ptero surgiu de tr�s de uma curva e o piloto da aeronave P�gasus, da Pol�cia Militar de Minas Gerais, ao avistar o trabalho das equipes em solo, manobrou de forma r�pida e precisa, deixando o helic�ptero de lado.

O tripulante operacional que estava do lado externo, em p� sobre os esquis, gesticulou para que todos abandonassem os trabalhos e fugissem para o alto dos morros. Al�m de resgatar sobreviventes e corpos, o trabalho das tripula��es das aeronaves que trabalham na Opera��o Brumadinho inclui o apoio direto �s equipes de solo.

Antes de embarcar na aeronave, o tripulante operacional precisa fazer sua ancoragem, que consiste em prender um cabo de dentro do aparelho ao cintur�o que fica atado �s pernas e � cintura do militar. As cordas t�m ajustes manuais simples, que permitem que o resgatista fique mais pr�ximo � fuselagem, com a porta aberta, ou at� mesmo de p� no esqui de pouso do helic�ptero. “Muitas vezes, nas opera��es de resgate, � preciso orientar o piloto sobre a aproxima��o de obst�culos como fia��es, antenas, torres, �rvores, drones que podem estar nas proximidades e outras aeronaves”, disse o sargento S�rgio Natalino.

O militar atua h� 13 anos na fun��o e foi respons�vel por remover da lama e levar para o hospital Alessandra Paulista de Souza, de 42 anos, que depois se reencontrou com a irm�, Talita Cristina de Oliveira Souza, de 15. A filha dela, La�s de Souza, de 14, continua desaparecida. O resgate obrigou o militar a receber a mulher dos bra�os dos bombeiros enquanto o helic�ptero ainda pairava.

Uma das pe�as mais importantes da aeronave � o rotor de cauda, que consiste em h�lices que giram em orienta��o vertical na cauda do helic�ptero, permitindo que a aeronave voe de forma est�vel. Caso o rotor seja danificado, o helic�ptero perde o controle e come�a a girar. “Nessa posi��o, somos os olhos do piloto. Por isso temos de conhecer o limite dos rotores de cauda e do principal, para evitar obst�culos”, conta o militar.

N�o h� como conversar dentro da aeronave, devido ao ru�do extremamente alto do giro das p�s dos rotores. Por isso, as informa��es e orienta��es que a tripula��o troca precisam ser transmitidas por fones de ouvido com microfones. A outra forma � por gestos. O tripulante respons�vel por ficar na porta da aeronave sinaliza para indicar dire��es, esticando os bra�os, sempre fazendo refer�ncias aos ponteiros do rel�gio. “Quando sinalizo tr�s horas, me refiro a algo que est� � direita, seis horas, bem atr�s de n�s”, explica.

Os militares da tripula��o que ficam na porta s�o tamb�m aqueles respons�veis por se comunicar com equipes de socorro em solo e com pessoas em �reas amea�adas. “Fazemos gestos sobretudo pra alertar sobre perigos, indicando que as pessoas devem se afastar e para qual dire��o devem ir. Para saber se est� tudo bem, uso os gestos com os polegares para o alto. Se � para acabar, sinalizo com uma das m�os sobre a outra.”

As dificuldades dos pilotos tamb�m s�o grandes. “� um processo muito complexo, por envolver diversas aeronaves voando simultaneamente em um mesmo local. J� enfrentamos chuvas fortes aqui, inclusive com granizo. Nesse momento, v�rias aeronaves faziam o sobrevoo e a nossa visibilidade ficou extremamente reduzida. Tanto o nascer quanto o p�r do sol atrapalham nossa vis�o. Tamb�m encontramos muita fia��o nas proximidades da altura em que precisamos voar”, detalhou o major Fl�vio Barreto, comandante da equipe P�gasus 08.


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