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Estado de Minas

Pre�os sobem at� 80% e Brumadinho sofre com explora��o econ�mica no p�s-trag�dia

Indeniza��es e puni��es ainda n�o chegaram, mas moradores denunciam que dinheiro prometido pela Vale como compensa��o fez disparar pre�os na cidade, pressionando popula��o


postado em 25/04/2019 06:00 / atualizado em 25/04/2019 07:19

Em postos de Brumadinho, preços subiram mais que em município vizinho e valores estão alinhados (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A PRESS)
Em postos de Brumadinho, pre�os subiram mais que em munic�pio vizinho e valores est�o alinhados (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A PRESS)

Tr�s meses depois da cat�strofe que abalou Brumadinho e chocou o Brasil e o mundo, o sofrimento de quem vive na cidade da Grande BH que j� contabiliza 233 mortos e 37 pessoas ainda desaparecidas parece uma hist�ria sem fim. As fam�lias ainda se recuperam da dor pela perda de parentes, vizinhos e amigos ap�s o rompimento das barragens 1, 4 e 4A, da Mina C�rrego do Feij�o, operada pela mineradora Vale.

Passados 90 dias da trag�dia, ningu�m est� preso, as indeniza��es �s v�timas ainda s�o alvo de pol�mica que promete se estender, mas a comunidade j� enfrentou o medo de novos rompimentos, se viu isolada, assistiu ao fechamento de postos de trabalho e teve de abandonar suas moradias. Agora, experimenta a explora��o econ�mica, representada por uma escalada de pre�os sem precedentes, com �gio sobre produtos que chega a atingir 80% de um m�s para o outro (veja tabela), no caso de g�neros de cesta b�sica, e mais de 6% nos combust�veis, com pre�os uniformizados entre postos e gasolina que j� passa dos R$ 5 o litro.

Moradores, indignados, culpam a gan�ncia de comerciantes, diante da inje��o de recursos de indeniza��es para toda a popula��o – donos de com�rcio locais inclu�dos –, que v�m sendo pagas pela Vale desde a ruptura da represa de rejeitos. H� inclusive acusa��es de forma��o de cartel, com pre�os sendo combinados para impedir a concorr�ncia. Comerciantes negam, afirmando que a culpa � do mercado. O Minist�rio P�blico afirma estar atento a poss�veis pr�ticas econ�micas abusivas, mas enquanto responsabilidades s�o empurradas entre os formadores de pre�o a popula��o v� seus recursos minguarem diante da escalada de pre�os.

O que mais deixa as pessoas aflitas � que muitos habitantes nem sequer receberam as indeniza��es e contribui��es prometidas pela Vale, embora j� convivam com a alta de pre�os que atribuem ao aporte de recursos – a Vale informou fazer pagamentos emergenciais em valores que giram em torno de um sal�rio para todas as pessoas que viviam em Brumadinho ou que moravam at� um quil�metro da calha do Rio Paraopeba desde a cidade diretamente atingida at� o munic�pio de Pomp�u, na usina de Retiro Baixo, na Regi�o Central do estado.

Pouco depois de a Vale informar que iria injetar recursos na economia de Brumadinho, moradores dizem ter testemunhado um abrupto aumento de pre�os. N�o � um fen�meno novo: depois do rompimento da Barragem do Fund�o, em Mariana, em 2015, o pre�o da �gua mineral na regi�o de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce chegou a sofrer �gio de 150%.

Pelas lojas em Brumadinho � f�cil perceber movimento parecido. Em uma rede de supermercados da cidade, por exemplo, o pre�o do feij�o carioquinha de uma determinada marca e do tomate longa vida passaram de R$ 4,98, em mar�o, para R$ 8,98, em abril, aumento de 80,3%. Em uma mercearia, o gr�o saltou de R$ 6,35 para R$ 9,85 (alta de 55,11%).

“N�o fui diretamente atingida pela lama, pois moro no Bairro de Lourdes, no Centro de Brumadinho. Mas acabei sendo atingida agora. N�o recebi nada da Vale, mas os pre�os que preciso pagar com o mesmo sal�rio de antes est�o exorbitantes. A mineradora informa que vou receber indeniza��o,  por ser moradora de Brumadinho, mas ainda n�o vi nem o cheiro desse dinheiro, s� as contas”, reclama a coordenadora de vendas Dulcilene Moraes, de 35 anos.

Outro grande problema tem sido o pre�o dos combust�veis, que j� foi denunciado at� ao Minist�rio P�blico. Para se ter uma ideia, no m�s passado o vendedor Weverton Juliano Rosa Queiroz, de 32, passou a ter de pagar R$ 5,11 pelo mesmo litro de gasolina que custava R$ 4,79 h� um m�s, uma alta de 6,6%. “O pior � que n�o nos resta op��o. Os tr�s postos que h� em Brumadinho t�m diferen�a de um centavo nos pre�os, o que nos leva a imaginar que estamos sob a a��o de um cartel que possa estar se aproveitando de nossa situa��o e do dinheiro que a Vale trouxe ao mercado depois da trag�dia”, afirma.

Nem donos de postos nem de supermercados quiseram se posicionar diante das perguntas da equipe do Estado de Minas, mas concordaram em exp�r seus argumentos. De acordo com o dono do posto mais caro, que cobra R$ 5,11 pela gasolina, o problema � o mercado. “O frete para BH � mais caro do que para Brumadinho, de R$ 250 para R$ 400, considerando aqui como viagem, apesar de mais pr�ximo e de ter menos tr�nsito. Antes, eu pagava R$ 41 mil por caminh�o de combust�vel, hoje pago R$ 46 mil. Compro R$ 80 mil em combust�vel por semana, mas s� tenho conseguido vender R$ 60 mil”, argumenta.

Ele mesmo diz estar sofrendo com a impossibilidade de competir com os pre�os de mercado. “Quando as pessoas recebem, fazem fila aqui. Mas abastecem R$ 15 ou R$ 20, para ter combust�vel para encher seus tanques em BH”, sustenta. Contudo, em Sarzedo, que � cidade vizinha, praticamente �  mesma dist�ncia das distribuidoras, o pre�o da gasolina � R$ 4,89, cerca de 4,5% a menos. A diferen�a de pre�os n�o � o �nico indicativo de cart�is, mas � interessante notar que o pre�o dos tr�s principais postos de Sarzedo s�o os mesmos, e que entre os de Brumadinho difere em R$ 0,02.

‘Bitmonkey’ no rastro do medo


H� exatos tr�s meses, a comunidade de Brumadinho, na Grande BH, se viu abaixo de uma avalanche de 20 milh�es de metros c�bicos de rejeitos de min�rio de ferro que se desprendeu com a trag�dia da Mina C�rrego do Feij�o, operada pela Vale. Foi, tamb�m, o estopim para a crise de seguran�a em barragens, que resultou em evacua��es de popula��es vizinhas de complexos miner�rios em outras cinco cidades mineiras (Itabira, Itabirito, Itatiaiu�u, Nova Lima e Ouro Preto) devido � incerteza de estruturas semelhantes � que se rompeu, mesmo sendo algumas detentoras de atestados de estabilidade assinados por engenheiros.

A alta de pre�os tamb�m prejudica consumidores de �reas amea�adas por essas barragens. Em Nova Lima, onde 263 pessoas foram desalojadas do distrito de S�o Sebasti�o das �guas Claras, conhecido como Macacos, os vouchers oferecidos pela mineradora Vale aos moradores geraram sobrepre�o no com�rcio. Os cart�es t�m valor de R$ 20, mas n�o admitem troco, tendo de ser inteiramente consumidos. Tampouco podem ser usados para outras finalidades que n�o sejam a aquisi��o de alimentos, sendo vedados para produtos de limpeza, por exemplo.

Cada cart�o pode ser usado para almo�o e jantar, com uma cor para cada dia da semana. Os moradores apelidaram os vouchers de bitmonkey – jun��o da palavra bitcoin, que � a moeda eletr�nica mais conhecida do mercado, e a palavra macaco em ingl�s (monkey).

Segundo moradores ouvidos pelo Estado de Minas, h� casos de sobrepre�os de at� 20% nos estabelecimentos que se conveniaram com a Vale. Aumentos foram observados no pre�o unit�rios de marmitas, de R$ 15 para R$ 18, o que tamb�m foi observado em outros g�neros aliment�cios, sobretudo dos componentes da cesta b�sica.

*Estagi�ria sob supervis�o do editor Roney Garcia


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