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Estado de Minas

Males f�sicos e psicol�gicos podem atingir sobreviventes e moradores de Brumadinho

Contamina��o dos rejeitos pode afetar a sa�de de sobreviventes e moradores como ocorreu em Mariana. S�o doen�as variadas, como problemas respirat�rios, infecciosos e mentais


postado em 06/02/2019 06:00 / atualizado em 06/02/2019 08:00

Socorristas que trabalham nos resgates em Brumadinho também podem sofrer danos pela exposição à lama tóxica, segundo especialista (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Socorristas que trabalham nos resgates em Brumadinho tamb�m podem sofrer danos pela exposi��o � lama t�xica, segundo especialista (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


Como se n�o bastasse toda a dor da perda, os atingidos pela trag�dia do rompimento da barragem da Mina C�rrego do Feij�o, em Brumadinho, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, ter�o de lidar com problemas de sa�de e doen�as das mais variadas, f�sicas e ps�quicas. O impacto da contamina��o dos rejeitos sobre a popula��o acarretar� mazelas respirat�rias, intoxica��es, afec��es de pele, doen�as mentais e comportamentais, doen�as infecciosas e muito mais. Enfermidades que os moradores e sobreviventes do desastre de Mariana enfrentam desde novembro de 2015.
Evangelina da Motta Pacheco Alves de Ara�jo Vormittag, m�dica patologista cl�nica e microbiologista com doutorado em patologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de S�o Paulo (USP), especialista em gest�o de sustentabilidade pela Faculdade de Administra��o da Funda��o Getulio Vargas (FGV) e em gest�o de pol�ticas em sa�de informadas por evid�ncias pelo Minist�rio de Sa�de e Hospital S�rio-Liban�s, alerta que “os efeitos da sa�de v�o al�m de doen�a, as consequ�ncias s�o irrepar�veis”.


Idealizadora e diretora do Instituto Sa�de e Sustentabilidade (ISS) em mar�o de 2017, Evangelina foi uma das autoras do estudo “Avalia��o dos riscos em sa�de da popula��o afetada pelo desastre de Mariana”, a partir de iniciativa da sociedade civil com gest�o de recursos do Greenpeace. O foco dos pesquisadores foi o munic�pio de Barra Longa, o segundo alcan�ado pela lama t�xica da Barragem do Fund�o, cuja popula��o representa uma das mais expostas aos riscos da degrada��o ambiental. O estudo teve como objetivo identificar a sa�de f�sica, mental e social, al�m do atendimento das suas necessidades. Foram 507 entrevistas com os moradores residentes nas �reas urbana e rural, dos quais 37% confirmaram sa�de pior do que antes do desastre.


Entre os problemas de sa�de relatados, 40,5% s�o respirat�rios, 15,8% doen�as de pele e tecido subcut�neo, 11% transtornos mentais e comportamentais, 6,8% doen�as infecciosas, 6,3% doen�as do olhos e 3,1% problemas do aparelho digest�rio. Outras enfermidades, 16,5%. Em rela��o �s crian�as de at� 13 anos, 60% queixaram de doen�as respirat�rias.
A sa�de dos atingidos pelo desastre de barragem est� comprometida de diversas formas e para o resto da vida. Ter�o de lidar com vetores de doen�as como dengue, chikungunya, zika v�rus, esquistossomose, Chagas, leishmaniose e problemas com animais pe�onhentos deslocados do seu habitat. Em Brumadinho, j� foi confirmada a contamina��o do Rio Paraopeba pelo Instituto Mineiro de Gest�o das �guas (Igam) em conjunto com a Ag�ncia Nacional de �guas (ANA), o Servi�o Geol�gico do Brasil (CPRM) e a Copasa. Foram verificadas concentra��es de chumbo e merc�rio 21 vezes maior do que o limite permitido pelas normas ambientais. Tamb�m foram constatadas a presen�a no manancial de outros metais, como n�quel, c�dmio e zinco, acima dos valores que podem ser tolerados, apresentando riscos � sa�de humana e animal”.


Evangelina Vormittag alerta que para tratar as pessoas afetadas a medida esperada � afast�-las do local. Para a m�dica, “em Brumadinho, a primeira atua��o deve ser assist�ncia � sa�de”. “A omiss�o, vivida em Barra Longa, � desesperadora e n�o pode se repetir. � preciso que saibam que o adoecimento tem fases. A primeira, que dura de dias a um m�s, a que vive Brumadinho agora, � a de les�es, acidentes, fraturas e mortes. A segunda, de dois a seis meses, chamada de recupera��o, � a das doen�as infecciosas, cr�nicas, press�o alta, descontrole do diabetes, doen�as psicol�gicas e mentais, o ac�mulo de lixo com a prolifera��o do mosquito. E a �ltima fase, a da reconstru��o, � a da intoxica��o (grav�ssima), derrame cerebral, que pode durar anos e piorar.” Ela lembra os desastres de Chernobil, ocorrido em 1986, na Ucr�nia, que na �poca fazia parte da ent�o Uni�o Sovi�tica; e Fukushima, no Jap�o, em 2011. Com consequ�ncias para a sa�de dos afetados at� hoje.

DIST�RBIOS P�S-TRAUM�TICOS A m�dica patologista cl�nica alerta que “o desastre em Brumadinho n�o � natural, � tecnol�gico, ou seja, h� um culpado”. “Nesse caso, o risco � que a comunidade n�o se organiza bem e as decis�es s�o morosas. Quando o desastre � qu�mico, envolve toxicidade, as pessoas ficam inseguras, estigmatizadas, receosas e a sa�de mental � a mais afetada, h� maior propens�o dos dist�rbios p�s-traum�ticos e aumento do risco de suic�dio”, explica. Por isso, Evangelina Vormittag avisa, � preciso que “imediatamente ocorra a assist�ncia, o reparo e o resgate dessa popula��o com acesso a psic�logos e assistentes sociais. Nesse primeiro momento, n�o � necess�rio m�dico psiquiatra.”


Para Evangelina Vormittag, cabe ao munic�pio de Brumadinho uma for�a-tarefa organizada para acompanhar os sintomas da popula��o: “Cada cidade tem uma realidade. Em Mariana, foi mais afetado o lado mental e comportamental; em Barra Longa, a toxicidade da lama. Em Brumadinho, ainda n�o sabemos.” Certo mesmo, enfatiza a m�dica, � que “os bombeiros e as demais pessoas envolvidas no resgate t�m maior risco de intoxica��o”.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)

 

Alerta da Fiocruz


A Fiocruz divulgou, ontem, estudo em que avalia os impactos imediatos do desastre da mineradora Vale, em Brumadinho. Nele, h� uma alerta para a possibilidade de surtos de doen�as infecciosas – dengue, febre amarela e esquistossomose – mudan�as no bioma e agravamento de problemas cr�nicos de sa�de, como hipertens�o, diabetes e doen�as mentais. Mapas constru�dos pela institui��o permitiram identificar resid�ncias e unidades de sa�de afetadas, comunidades potencialmente isoladas e as �reas soterradas pela lama. Os resultados foram apresentados no evento realizado no c�mpus Manguinhos. A pesquisa chama a aten��o para a perda de condi��es de acesso a servi�os de sa�de, que pode agravar doen�as cr�nicas j� existentes na popula��o afetada, assim como provocar novas situa��es de sa�de delet�rias, como doen�as mentais (depress�o e ansiedade), crises hipertensivas, doen�as respirat�rias e acidentes dom�sticos, al�m de surtos de doen�as infecciosas.

SES pede cautela nas an�lises


A diretora de Vigil�ncia Epidemiol�gica da Secretaria de Estado de Sa�de de Minas Gerais (SES-MG),  Jana�na Fonseca Almeida, diz que, com rela��o aos poss�veis riscos para a sa�de por tratar-se de um evento inusitado, que tem como base apenas o desastre ocorrido em Mariana h� tr�s anos, o monitoramento de qualquer ocorr�ncia de sa�de na popula��o � realizado com muito cuidado. “Importante ressaltar que ainda est�o sob an�lise as poss�veis consequ�ncias para a sa�de da popula��o provocadas pelo contato com os rejeitos. � importante frisar que a orienta��o para toda a popula��o � que, neste momento, evite contato com a lama e com as partes atingidas do Rio Paraopeba. A orienta��o � v�lida desde a conflu�ncia do Rio Paraopeba com o C�rrego Ferro-Carv�o at� Par� de Minas.”


Jana�na Fonseca Almeida alerta que n�o h�, at� o momento, “nenhuma ocorr�ncia at�pica para doen�as provenientes da �gua contaminada na regi�o. Contudo, algumas doen�as de transmiss�o h�drica e alimentar podem acometer a popula��o que tiver contato com a �rea afetada. Por esse motivo, � importante avaliar poss�veis sintomas, como v�mitos frequentes, convuls�es e desidrata��o, entre outros.” Ela refor�a que “qualquer pessoa que tenha tido contato com a �gua bruta do Rio Paraopeba – ap�s a chegada da pluma de rejeitos – ou ingerido alimentos que tamb�m tiveram esse contato, e apresentar n�useas, v�mitos, coceira, diarreia, tonteira, ou outros sintomas deve procurar a unidade de sa�de mais pr�xima e informar sobre esse contato.”

ACOLHIMENTO A diretora de Vigil�ncia Epidemiol�gica da SES-MG explica que entre as doen�as que podem surgir est�o leptospirose e doen�a diarreica. “Contudo, at� o presente momento n�o foi notificado nenhum caso de leptospirose na localidade. J� em rela��o � doen�a diarreica, at� o momento, a SES-MG recebeu a notifica��o de quatro casos na regi�o. No entanto, os casos n�o evolu�ram para formas mais graves da doen�a e todos que apresentaram sintomas foram acolhidos pelas equipes de Aten��o B�sica � Sa�de do munic�pio de Brumadinho.”


Jana�na Fonseca Almeida enfatiza que equipes da SES-MG, incluindo trabalhadores da Vigil�ncia Sanit�ria da Regional de Sa�de de Belo Horizonte, estiveram em campo investigando as causas que levaram ao aparecimento dos casos. “Foram verificadas, inclusive, as condi��es dos alimentos que estavam chegando � popula��o afetada. Um cuidado especial tamb�m foi tomado em rela��o � �gua utilizada, em sua maioria mineral, at� que todas as medidas de vigil�ncia sejam tomadas.”
Conforme Jana�na Fonseca Almeida, a SES-MG est� emitindo orienta��es e alertas a todos os profissionais envolvidos no atendimento, para que fiquem atentos ao surgimento de novos casos de diarreia e de outras doen�as de notifica��o compuls�ria (imediata), como leptospirose e rotav�rus. “Al�m disso, em conjunto com a Secretaria Municipal de Sa�de Brumadinho, est� atuando de forma �gil para o fortalecimento da vigil�ncia, diagn�stico, tratamento e controle de poss�veis agravos que possam vir a ocorrer na regi�o afetada.”


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