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Estado de Minas

Conhe�a os bombeiros que aparecem em foto viral das buscas em Brumadinho

Bombeiros flagrados exaustos ap�s os trabalhos de resgates no C�rrego do Feij�o falam dos seis dias em que passaram nas opera��es de socorro e revelam os momentos sens�veis


postado em 07/02/2019 06:00 / atualizado em 07/02/2019 11:20



Barbacena – Era fim de tarde, tr�s dias depois da cat�strofe que comoveu o mundo, quando eles se sentaram, exaustos e cobertos de lama, no ch�o do posto avan�ado da comunidade do C�rrego do Feij�o, em Brumadinho, na Grande BH. A segunda-feira come�ara �s 5h para M�rcio Jos� Br�ck, o tenente Br�ck, de 43 anos, Heberth Jos� de Melo Afonso, o cabo Melo, de 35, e M�rcio Afonso de Miranda, o cabo M�rcio, de 33, mergulhados at� o pesco�o na tentativa de salvar vidas, resgatar corpos e buscar desaparecidos no meio do loda�al no qual se transformou a regi�o ap�s o rompimento da barragem da Mina C�rrego do Feij�o, em 25 de janeiro. O flagrante do fot�grafo Gladyston Rodrigues, do Estado de Minas, viralizou na internet e faz parte da mem�ria da grande trag�dia socioambiental como registro da atua��o dos 227 bombeiros de Minas, 110 de outros estados, 27 volunt�rios e 64 da For�a Nacional envolvidos nas opera��es de socorro.

Na manh� de ter�a-feira, na sede da 2ª Companhia Independente de Bombeiros Militares, em Barbacena, na Regi�o Central de Minas, os tr�s falaram sobre os seis dias de trabalho em Brumadinho, para onde foram destacados logo depois do estouro da barragem. No s�bado, nas primeiras horas na chamada “zona quente” no C�rrego do Feij�o, uma surpresa. O tenente e os dois cabos localizaram, enterrada na lama, uma carregadeira tendo ao volante o corpo de um homem. “Em poucos segundos, o telefone celular tocou dentro da mochila da v�tima. Deixamos tocar, n�o atendemos em sinal de respeito”, recorda-se o cabo Melo.

A partir do momento da convoca��o, os militares da 2ª Companhia, que inclui pelot�es de S�o Jo�o del-Rei, Congonhas e Conselheiro Lafaiete, seguiram para Brumadinho, chegando �s 5h do s�bado. Nenhum dos tr�s tinha atuado em Mariana, na Regi�o Central do estado, onde ocorreu o rompimento da Barragem do Fund�o, em Bento Rodrigues, na tarde de 5 de novembro de 2015, ou em outro epis�dio semelhante. Mas nada os intimidou. Rastejaram na lama como guerreiros em luta, “nadaram” como peixes, embora desta vez fora d’�gua, enfrentaram chuvas torrenciais de granizo e vento forte sem se abater, e muitas vezes se atolaram nos terrenos trai�oeiros deixados pelos rejeitos de min�rio.

Tenente Brück, cabo Melo e cabo Márcio foram convocados para auxiliar nas buscas por vítimas do rompimento da barragem em Brumadinho (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Tenente Br�ck, cabo Melo e cabo M�rcio foram convocados para auxiliar nas buscas por v�timas do rompimento da barragem em Brumadinho (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)


(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press - 28/01/19)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press - 28/01/19)


SEM CONTATO Foram muitos os momentos de dificuldade, e outros tantos de extrema delicadeza, mas em nenhum deles os militares choraram. “As fam�lias estavam ali esperando not�cias dos parentes, a sensibilidade intensa, n�o pod�amos deixar a emo��o transbordar. Era preciso cuidado e tranquilidade e respeito aos familiares. Tamb�m n�o mantivemos, nesses dias, qualquer contato com a fam�lia, esposa, filhos, enfim, ningu�m”, afirma o tenente. “� fundamental manter o foco”, acrescenta cabo M�rcio.

A conviv�ncia com os militares de Israel, que chegaram a Minas para ajudar nas opera��es, se tornou muito positiva, inclusive no aspecto cultural, destaca o cabo Melo. “Cada vez que um corpo era encontrado, eles ficavam em sil�ncio alguns instantes, em ora��o. Eu s� pensava que cada pessoa merecia um enterro digno.” Seguindo o lema “quando o corpo n�o aguenta, o moral sustenta”, tenente Br�ck diz que a “zona quente” se traduz tamb�m por um campo minado, cheio de perigos e armadilhas. Al�m de vag�es retorcidos e encobertos, h� muito vidro quebrado e espinhos. “Os coqueiros ficaram deitados, ent�o os espinhos s�o enormes. Um deles enfiou na minha perna e, por sorte, consegui tir�-lo inteiro. Al�m disso, o barro gruda nos cabelos do bra�o e d�i na hora de limpar”, revela.

"Her�i � meio pesado, soa como indestrut�vel. Somos humanos, homens e mulheres que desempenham seu servi�o em prol da comunidade"

Tenente Br�ck



ROUPAS MOLHADAS 
A miss�o di�ria se estendia at� quase 22h, quando ent�o os militares se recolhiam ao alojamento coletivo, na escola, para descansar. Cobertos de lama e usando roupas de neoprene, os bombeiros chegavam ao local e recebiam um jato de �gua para limpar o excesso. S� depois tomavam banho no chuveiro, embora, na madrugada seguinte, tivesse que usar a mesma roupa molhada. “Quando o sol sa�a, ficava melhor. Somos acostumados com o fogo, a �gua e, agora, a lama”, diz o cabo Melo.

No fim da conversa, imposs�vel n�o falar mais uma fez sobre a foto que viralizou na internet, cobertos de barros, os tr�s militares lembram os guerreiros do ex�rcito de terracota de Qin Shi Huang, o primeiro imperador da China. O tenente Br�ck gosta da compara��o, e deixa sua li��o sobre Brumadinho. “N�o pode haver outro. Quando houve o rompimento em Mariana, pensei: basta. Mariana foi um aviso”, afirma. E vem a pergunta derradeira: O que voc�s pensavam no momento de descanso, cobertos de lama? “Sede! Muita sede!”, os tr�s responderam em sincronia.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)


Comemora��es s�o adiadas


Curiosamente, ao contr�rio do que os tr�s militares imaginavam, o fim de semana seguinte � trag�dia seria de festa em fam�lia: enquanto o tenente Br�ck comemoraria o anivers�rio do filho ca�ula em Juiz de Fora, na Zona da Mata, o cabo Melo j� estava soprando, em casa, as 35 velinhas do bolo, em Barbacena, e o cabo M�rcio celebraria seis anos de casado em S�o Jo�o del-Rei, no Campo das Vertentes. “Meu anivers�rio foi naquela sexta-feira, e ainda tive que internar minha m�e no hospital, com pneumonia. Uma correria”, conta o cabo Melo, lembrando, ao lado dos colegas, sem perder o humor, que as comemora��es foram adiadas para este fim de semana.

Depois de posar para uma foto com o cabo Bicalho e os sargentos Wellington e Cimino, da 2ª Companhia, Br�ck, Melo e M�rcio se voltam para Brumadinho. Para chegar ao local de buscas, os bombeiros se deslocam em helic�pteros e a� come�a realmente a pr�tica na lama. “O local � movedi�o, os p�s v�o agarrando, ent�o � preciso agir em seguran�a. Somos treinados para as miss�es, ent�o ficamos tranquilos. Na hora, s� pensamos mesmo em salvar vidas, mas, para isso, precisamos preservas as nossas”, diz o tenente Br�ck, que afasta o t�tulo de her�is que os bombeiros ganharam da boca do povo desde a trag�dia. “Her�i � meio pesado, soa como indestrut�vel. Somos humanos, homens e mulheres que desempenham seu servi�o em prol da comunidade.”

Depoimentos

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)


FOR�A

“Nos dias que passei em Brumadinho, senti que a dor das pessoas que perderam seus entes queridos na trag�dia nos tornava mais fortes para continuar a miss�o. Os bombeiros n�o s�o her�is... fica parecendo que somos indestrut�veis. Somos humanos, homens e mulheres treinados para fazer o servi�o da melhor forma poss�vel, prontos parar salvar vidas e preservar a nossa. Numa situa��o dessas, sempre penso que podemos localizar algu�m vivo, pois, para Deus, nada � imposs�vel. O pior dia em Brumadinho, sem d�vida, foi durante a chuva de granizo e vento muito forte. Parecia que a lama ia nos engolir, mas fomos recolhidos por um helic�ptero de S�o Paulo. A melhor li��o de Brumadinho � que isso n�o ocorra nunca mais”

Tenente M�rcio Jos� Br�ck, de 43 anos, casado, pai de dois filhos e bombeiro militar h� 20 anos


DETERMINA��O

“A cada instante no C�rrego do Feij�o e outros lugares da chamada ‘zona quente”, pensava na import�ncia de se valorizar a vida. Numa miss�o como essa, colocamos em pr�tica tudo o que aprendemos, ent�o � fundamental manter a tranquilidade a fim de salvar e resgatar pessoas. � preciso tamb�m ter preparo f�sico, pois tem hora que as pernas afundam na lama, impedindo a locomo��o. No dia da partida para Brumadinho, era meu anivers�rio e, pior, tive que internar minha m�e, no hospital, pois ela estava com pneumonia. Foi uma correria danada e agora est� tudo bem. No dia a dia, enfrentamos calor, temporais, lama e espinhos de coqueiro, que penetram na pele e causam muita dor. N�o tivemos contato com a fam�lia durante os seis dias”

Cabo Heberth Jos� de Melo Afonso, de 35 anos, casado, pai de um casal de filhos e bombeiro militar h� 15 anos


VOLUNT�RIOS

“Uma das li��es mais bonitas em Brumadinho est� na a��o dos volunt�rios, pessoas da localidade ou que vieram de todo canto para ajudar, da forma que puderem. Acho que esses s�o os verdadeiros her�is. Sou cat�lico e acho fundamental pensar sempre nas pessoas, pois o mundo precisa mesmo � de mais humanidade. Poder atual numa miss�o como a de agora aumenta minha f� em Deus. J� no nosso trabalho, tenho certeza de que foco � fundamental para conseguir os objetivos que � tentar encontrar pessoas vivas e resgatar os mortos. Em momento algum, pode bater um desespero, mesmo nos momentos em que temos que rastejar na lama, ‘nadar’ e seguir em frente”

Cabo M�rcio Afonso de Miranda, de 33 anos, casado e bombeiro militar h� 9 anos


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