Itatiaiu�u, Bar�o de Cocais e Brumadinho – O terror vivido com a destrui��o e o rastro de centenas de mortos que assombrou o Brasil ap�s o estouro da barragem da Vale em C�rrego do Feij�o, em Brumadinho, Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, espalha o medo entre comunidades vizinhas de diversos empreendimentos miner�rios estado afora. Nessa sexta-feira, em duas cidades, o temor de que outros reservat�rios n�o estivessem 100% seguros retirou de suas casas quase 400 pessoas, removidas �s pressas em opera��es de emerg�ncia coordenadas que envolveram a Defesa Civil e for�as de defesa social em Bar�o de Cocais, na Regi�o Central, e Itatiaiu�u, na Grande BH.
Mas o sentimento de inseguran�a � muito mais amplo e se espalha por v�rias regi�es de um estado marcado pela minera��o, onde milhares de pessoas vivem abaixo de represas nem sempre seguras, de rejeitos ou de �gua. O Estado de Minas mapeou em mais de 10 cidades empreendimentos que v�m tirando o sono de seus vizinhos, especialmente desde a �ltima cat�strofe. Algumas delas somam mais de 20 dep�sitos de restos de minera��o em seus limites. Clique na imagem para ampliar o mapa:
Foi esse temor que se tornou transtorno concreto em Itatiaiu�u, outra cidade que tem a minera��o como ponto forte da economia, na Grande BH, onde a madrugada de mais de 50 fam�lias foi marcada pelo p�nico. Moradores da comunidade de Pinheiros receberam a not�cia de que precisavam deixar suas casas �s pressas, sob o argumento de que um desastre como o que arrasou C�rrego do Feij�o poderia se repetir. A maioria saiu apenas com a roupa do corpo, temendo que a barragem da Mina Serra Azul, desativada desde 2012, mas armazenando 5,8 milh�es de metros c�bicos de rejeitos, pudesse despejar um novo tsunami de lama sobre suas casas.
De manh�, quando um posto de comando foi montado pela Defesa Civil de Minas Gerais para coordenar as a��es de evacua��o das fam�lias, o clima era de desinforma��o, at� que as not�cias come�aram a chegar com mais clareza. A ArcelorMittal Minera��o Brasil informou que a trag�dia de Brumadinho gerou uma mudan�a nas refer�ncias do projeto geot�cnico da barragem da Mina Serra Azul, e nova avalia��o com uma consultoria internacional contratada pela pr�pria empresa apontou mudan�a de est�gio de seguran�a, de 1 para 2, o que exigia a sa�da das fam�lias da mancha de inunda��o da barragem.
“Estou tendo at� febre. A cabe�a est� doendo, estou tonta, o est�mago embrulhando, vontade de ir embora”, contou a dona de casa Joice Maia Ferreira, de 31 anos. “Tem 12 anos que moro aqui e tem 12 anos que vivo com medo. Agora, esse medo aumentou ainda mais. Como vou lidar com isso?”, questionou, antes de saber que sua casa, na verdade, estava fora da �rea de risco e que ela poderia retornar. “Meus vizinhos do lado tiveram que sair. Mas e o medo de ir com meu menino e acontecer uma trag�dia?”, perguntava, insegura.
Mais tarde, o presidente da ArcelorMittal Minera��o Brasil, Sebasti�o Costa Filho, chegou a Itatiaiu�u e garantiu que a sa�da das pessoas de suas casas era necess�ria. “As altera��es vieram por meio de auditorias externas, que levaram em considera��o determinadas circunst�ncias que foram aprendidas ap�s o �ltimo rompimento, que at� ent�o n�o fazia parte desse contexto. Eles puseram fatos novos para avaliar a seguran�a de uma barragem de rejeitos”, explicou o executivo.
Essa situa��o fez com que 54 fam�lias fossem obrigadas a sair �s pressas de seus im�veis em Pinheiros, totalizando cerca de 150 pessoas. “Daqui para a frente, estamos trabalhando com novos par�metros. Vamos executar uma s�rie de testes na barragem e assim que tivermos a garantia de que ela est� 100% segura, de que n�o existe nenhum risco para a comunidade, retornaremos com as pessoas para suas resid�ncias”, disse Costa Filho.
O executivo tamb�m enfatizou que todas as prefer�ncias da comunidade ser�o estudadas e garantiu que quem quiser novas casas fora da �rea de risco ser� atendido pela Arcelor. “Vamos oferecer toda possibilidade de mudan�a. O que o residente quer? ‘Eu quero vender meu im�vel. Eu quero trocar meu im�vel, eu quero morar na resid�ncia, eu quero ir para outro local...’, essas possibilidades v�o ser estudadas. A empresa assume o compromisso de tratar essas pessoas com a dignidade que merecem”, completou.
Preven��o
Os 239 moradores retirados das imedia��es da Mina Gongo Soco, da Vale, em Bar�o de Cocais, e os 150 habitantes de Itatiaiu�u removidos das imedia��es da barragem da ArcelorMittal, na madrugada de ontem, s� poder�o retornar �s suas casas ap�s a constata��o t�cnica de que as estruturas vizinhas n�o representam risco. A informa��o foi dada pelo tenente-coronel Fl�vio Godinho da Defesa Civil. “N�o houve rompimento nessas duas cidades. A medida foi para preservar vidas que ali est�o, para que n�o acontecesse nova trag�dia como a de Brumadinho”, afirmou.Numa escala crescente de 1 a 3 de risco, a barragem da Vale subiu do n�vel 1 para o n�vel 2. Segundo Godinho, ao mesmo tempo em que empresa contratada pela mineradora n�o quis atestar a estabilidade da barragem, t�cnicos da Ag�ncia Nacional de Minera��o (ANM) que estiveram em Bar�o de Cocais se pronunciaram pela evacua��o imediata, determinando que se adotasse o n�vel 2 de aten��o.
J� no caso de Itatiaiu�u, a pr�pria ArcelorMittal se antecipou e solicitou a evacua��o dos moradores nas imedia��es da barragem, como forma de preven��o. N�o houve, como no caso da Vale, recusa de t�cnicos de atestarem a estabilidade da barragem da Mina Serra Azul em Itatiaiu�u.
Resgate em Brumadinho
Na sexta-feira, 15º dia de buscas em Brumadinho, foi o primeiro desde a trag�dia em que os bombeiros n�o conseguiram localizar nenhuma v�tima. Com o passar do tempo, as condi��es do ambiente tornam a tarefa mais dif�cil, como j� havia antecipado o tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros. Balan�o divulgado pela Defesa Civil no in�cio da noite indicou o mesmo n�mero de �bitos – 157, com 151 identificados – e 165 desaparecidos, dos quais 42 funcion�rios da Vale e 123 terceirizados e moradores da comunidade.