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Estado de Minas ENTREVISTA

'� muit�ssimo importante entregar o corpo � fam�lia', diz coronel da FAB sobre trabalho em Brumadinho

Militar da FAB que atua em C�rrego do Feij�o compara cen�rios e afirma: lama torna as opera��es mais complicadas e perigosas do que os resgates em desastre a�reo na selva


postado em 11/02/2019 06:00 / atualizado em 11/02/2019 09:36

Coronel Edmilson Leite Guimarães, especialista em resgate pela Força Aérea Brasileira(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Coronel Edmilson Leite Guimar�es, especialista em resgate pela For�a A�rea Brasileira (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)


O resgate dos corpos dos 154 passageiros que morreram no desastre do voo Gol 1907 – o Boeing 735 que colidiu no ar com um Legacy e caiu em mata fechada no Mato Grosso – em 2006, tinha sido a maior experi�ncia com salvamentos do coronel Edmilson Leite Guimar�es Filho, o coronel Leite, que ganhou proje��o tamb�m com os programas de sobreviv�ncia do canal pago Discovery: Desafio em Dose Dupla Brasil (2 temporadas) e Desafio Celebridades. Como integrante da equipe de resgate da For�a A�rea Brasileira (FAB), no Rio de Janeiro, o coronel foi agora acionado para a Opera��o Brumadinho, uma trag�dia que j� supera o n�mero de v�timas do voo da Gol, com 165 corpos j� resgatados, numa conta que n�o para de crescer. Seu chamado foi feito no dia 25, quando se rompeu a Barragem 1 do complexo miner�rio de C�rrego do Feij�o, da Vale. Como estava fora da sede, n�o p�de atender de imediato, passando a operar anteontem, na segunda fase dos trabalhos em Brumadinho, emprestando sua expertise no trabalho de resgate da pior trag�dia socioambiental brasileira. Natural de S�o Luiz (MA) e criado em Fortaleza (CE), Leite ingressou na Escola Preparat�ria de Cadetes do Ar (Epcar), em Barbacena. Casado, � pai de tr�s meninas e um menino. “A oportunidade de mostrar tudo que aprendi com a FAB no g�nero de sobreviv�ncia surgiu a partir de uma indica��o para participar dos testes. Foi a� que comecei a gravar no Discovery”.

Qual � a miss�o do senhor hoje, em Brumadinho?
Nossa miss�o � de infiltra��o (desembarque de resgatistas na �rea atingida) e apoio log�stico para as equipes de bombeiros com aeronaves de grande porte, no caso helic�pteros de transporte de tropas Caracal H36, que levam de 15 a 20 pessoas por viagem. Devido � lama, os bombeiros t�m dificuldade de chegar at� as �reas de resgate. A aeronave voa at� cada ponto. Cada equipe � desembarcada no ponto espec�fico de trabalho e no final do dia os resgatamos. Feito isso, ficamos de sobreaviso no campo de futebol para atender qualquer emerg�ncia dos bombeiros. (No dia 30, por exemplo, foi necess�rio evacuar todos os bombeiros por meio dessas aeronaves devido � chegada do n�vel de seguran�a da barragem 6 a um estado cr�tico).

"� um teatro de opera��es muito dif�cil. Veja que, mesmo numa situa��o controlada, ao ajudar no desembarque dos bombeiros, meu p� afundou at� a altura do uniforme. Realmente n�o d� para andar. A aeronave n�o pode pousar, precisa pairar"

Coronel Edmilson Leite Guimar�es, da FAB



Quais s�o os maiores perigos e desafios desse tipo de opera��o?

Numa cat�strofe dessa natureza, v�rios organismos se unem para atender a essa emerg�ncia. O recurso a�reo aumenta e a coordena��o do tr�fego das aeronaves � extremamente importante. N�s (FAB) viemos para Brumadinho com uma unidade de controle de tr�fego a�reo para coordenar s� esse voo local feito por aeronaves de asa rotativa. O perigo de se gerar um novo acidente � grande. Por isso, a coordena��o precisa ser muito bem planejada.


Qual � a diferen�a de atuar num desastre a�reo em �rea de floresta, como o Voo 1907 da Gol, em 2006, na Serra do Cachimbo, e num rompimento como o de Brumadinho?
Para os homens de resgate esses teatros de opera��es s�o diferenciados. A selva � muito diferente desse tipo de desastre. A selva t�m �rvores muito altas e as temperaturas s�o elevadas. Nesse rompimento encontramos outros fatores, de alguma forma at� mais complicados. Principalmente devido ao solo. Temos muita lama. A minha primeira impress�o foi diferente das imagens veiculadas pela m�dia. � um teatro de opera��es muito dif�cil. Veja que mesmo numa situa��o controlada, ao ajudar no desembarque dos bombeiros meu p� afundou at� a altura do uniforme. Realmente n�o d� para andar. A aeronave n�o pode pousar, precisa pairar.

Como � operar sobre os rejeitos e a lama?
Para o desembarque dos bombeiros a gente precisa orientar. Se ele (bombeiro) pular da aeronave para o solo, afunda at� a cintura na lama. Acaba precisando ser resgatado e impedindo o desembarque de mais bombeiros. Tem de descer como se fosse numa escada. Na lama, voc� perde o seu apoio. Ela escorrega e fica como se fosse pegar um sabonete no chuveiro. A pessoa que est� dentro da lama n�o consegue fazer for�a para erguer outra, porque se a elevar, ela acaba afundando mais. � um teatro de opera��es diferenciado e os bombeiros daqui est�o muito preparados para enfrentar isso.

(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
(foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)


Qual � a sensa��o para algu�m do resgate saber que cada vez h� menos chance de trazer algu�m com vida de volta para a sua fam�lia?
Nos trabalhos do acidente do voo da Gol 1907, aprendi que � muito bom voc� trazer algu�m de volta com vida para a sua fam�lia e essa pessoa te abra�ar e dizer: “Que bom que voc� veio”. Mas tamb�m � muit�ssimo importante para a fam�lia a gente poder entregar o corpo do seu parente, para que possam se despedir dele de maneira honrosa, e a v�tima ir descansar em outra dimens�o.

Qual foi a sua primeira impress�o ao ver a abrang�ncia dessa trag�dia?
A minha primeira impress�o n�o foi de grandes propor��es, de dimens�o. O que me impressionou foi a for�a desprendida por esse rompimento. O quanto essa for�a foi destruidora. O quanto essa for�a conseguiu devastar o meio em que vivemos e de uma maneira t�o r�pida. S� estando aqui para sentir realmente as propor��es que esse desastre tomou.

Qual a li��o que as pessoas podem tirar dessa cat�strofe?

Prepare-se. Esteja sempre preparado para tudo. Prepare-se para uma aventura, para uma viagem, para a possibilidade de que as coisas possam dar errado. Pode ser uma coisa legal, divertida, que vai ter foto. Mas tenha essa consci�ncia e se prepare para as coisas que podem dar errado. Assim, os recursos dos bombeiros e do SAR (Salvamento A�reo da FAB) poder�o ser empregados para aqueles que n�o tiveram op��o de estar preparados, como no caso aqui em Brumadinho. Estar preparado � um esp�rito sobrevivencialista (filosofia de prepara��o). � sempre pensar o que poder� dar errado numa atividade.


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