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Estado de Minas

Evacua��o que assustou moradores de Macacos deve se tornar frequente em outros munic�pios

Para especialistas, com a revis�o dos crit�rios de seguran�a para obter atestados de estabilidade das barragens, as evacua��es emergenciais tendem a ser mais frequentes de agora em diante. Governador v� rea��o exagerada


postado em 19/02/2019 06:00 / atualizado em 19/02/2019 07:48

Falta de informação, acessos fechados ou restritos, ônibus parados e crianças sem aulas elevaram a tensão e geraram protestos em Macacos(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Falta de informa��o, acessos fechados ou restritos, �nibus parados e crian�as sem aulas elevaram a tens�o e geraram protestos em Macacos (foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press)


A prov�vel mudan�a nos crit�rios de avalia��o de barragens e o temor de assumir a responsabilidade t�cnica pela estabilidade de represas, especialmente as de rejeitos de min�rio, tornam prov�vel que sirenes voltem a soar, determinando evacua��o imediata de comunidades em outras cidades de Minas. A retirada de moradores de Brumadinho, Bar�o de Cocais, Itatiaiu�u e, agora, de S�o Sebasti�o das �guas Claras (Macacos), em Nova Lima, pode ser apenas o in�cio de uma sequ�ncia de a��es preventivas, diante da preocupa��o com poss�vel rompimento dessas estruturas. O alerta � de especialistas, que chamam a aten��o para as consequ�ncias do aumento da produ��o do min�rio de ferro e da falta de uma pol�tica estadual de acompanhamento da situa��o dessas estruturas. Em declara��o dada ontem, o governador Romeu Zema (Novo) tamb�m considerou que, se a legisla��o atual se mantiver, o estado pode ter dezenas de cidades com pessoas retiradas de suas casas nos pr�ximos meses. Por�m, ele avaliou que os �ltimos alertas criaram rea��es “al�m do recomend�vel”.

“At� antes do evento em Brumadinho, muitos laudos davam como coeficiente de estabilidade o �ndice 1. Mas um coeficiente de barragem de rejeitos � de, no m�nimo, 3”, afirma o professor titular do Departamento de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Evandro Moraes da Gama. “Est�o revendo esse crit�rio, j� que duas represas ru�ram. As empresas agora ficaram preocupadas e adotaram um novo crit�rio de seguran�a. Logo, n�o sei se esse protocolo de evacua��o vai ocorrer apenas em um per�odo inicial. Penso que sirenes podem tocar todo dia e a qualquer hora”, afirma.

Segundo o professor, desde 2006 a universidade tenta mostrar que d� para transformar o conte�do de barragens em cimento, areia, entre outros materiais, al�m de recuperar o ferro. Teses desenvolvidas ao longo desse tempo refor�am os alertas. “Estamos falando sobre isso h� muito tempo, mas a produ��o de min�rio de ferro triplicou, o estado exportou bilh�es de reais e, como consequ�ncia �bvia, foram gerados milh�es de toneladas de rejeitos. Barragens que foram constru�da para ter determinada capacidade come�aram a ter volumes maiores e, agora, estamos vendo o que isso tem acarretado: caos e p�nico na popula��o”, ressalta.

Evandro da Gama defende o uso do rejeito na forma industrial em escala, a exemplo da China, que aproveita 25% dos res�duos de barragem. “E exporta para n�s, em forma de diversos produtos. No Brasil, vamos continuar na rela��o extrativista com o planeta Terra?”, questiona. O professor cobra ainda um plano emergencial do governo do estado. Ele avalia como prec�ria a situa��o, cuja solu��o tem sido uma s�: desocupar cidades e repetir o enredo.

Por�m, ontem o governador Romeu Zema, em discurso durante solenidade na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, afirmou que vai pedir a revis�o das regras para classifica��o das barragens, ap�s evacua��es ocorridas em tr�s cidades de Minas nos �ltimos dias. Segundo ele, com a legisla��o atual, dezenas de munic�pios podem ter moradores retirados de suas casas nos pr�ximos meses, o que “seria extremamente danoso” para a atividade da minera��o. “Ningu�m pode ficar exposto a riscos, mas parece que estamos assistindo, num momento em que todos est�o com as emo��es afloradas, a uma rea��o que seria al�m do recomend�vel. N�o � f�cil lidar com um problema desse, porque n�o podemos expor ningu�m a risco, mas tamb�m n�o podemos parar uma atividade t�o relevante para o estado”, afirmou. O governador quer discutir com o Minist�rio das Minas e Energia “o que pode ser feito” para “evitar a desestrutura��o total do setor”.

Prioridade para preservar vidas


Na vis�o de especialistas, a relev�ncia econ�mica n�o pode se sobrepor a outros elementos, sobretudo �s vidas humanas. Engenheiro hidr�ulico da Universidade Federal de Itajub� (Unifei), Carlos Barreira Martinez, avalia que a retirada das popula��es em �rea de risco pr�ximas �s barragens � fundamental at� que garantias de seguran�a sejam atestadas. “O fato de as estruturas estarem em processo de instabilidade indica a necessidade de retirar as pessoas”, afirma. Mas ele questiona o fato de as evacua��es serem feitas � noite ou de madrugada. “Eles recebem esses relat�rios apenas nessa parte do dia? Acho dif�cil. Talvez seja uma forma de cadastrar apenas as pessoas que moram no local e n�o correr risco de ter no meio pessoas que n�o s�o moradoras”, opina.

Segundo o engenheiro, as empresas mineradoras j� det�m informa��es sobre os riscos de rompimento de barragens e mant�m uma postura de “arrog�ncia” diante do perigo de novas trag�dias. “As universidades cansaram de falar sobre esses problemas no setor da minera��o nas �ltimas d�cadas. As empresas sabem muito bem desses riscos. Mas h� uma arrog�ncia das mineradoras, que acreditam ter o total controle do processo de extra��o e dominar a tecnologia”, afirma.

Para Martinez, o cen�rio de incertezas para vizinhos de barragens deve se estender pelos pr�ximos meses, ou at� que as estruturas sejam completamente descomissionadas. Ele adverte ainda que o processo � dif�cil e levar� algum tempo at� que a seguran�a das comunidades esteja garantida. No entanto, diante do grande impacto que a extra��o mineral causou a cidades mineiras nas �ltimas d�cadas, n�o existe outra possibilidade para resolver a situa��o.

“Essa incerteza n�o vai desaparecer. Existe uma como��o no pa�s e, a partir da pris�o de t�cnicos, a Justi�a deu um sinal de que n�o tolera esses erros. Ent�o ningu�m mais vai assumir esses relat�rios de seguran�a. A primeira medida agora � retirar as pessoas das �reas de risco e entender que elas est�o tendo suas vidas viradas de cabe�a para baixo. Ent�o, a empresa tem que se responsabilizar por essa situa��o, que ela mesma criou. N�o d� para ser como foi com o caso de rompimento da barragem em Mariana, onde se passaram tr�s anos e pouca coisa aconteceu. A outra medida � descomissionar as barragens, n�o tem alternativa”, alerta.

IMPACTOS Outra consequ�ncia das �ltimas trag�dias recai sobre o trabalho de profissionais da �rea, que avaliam que os crit�rios de seguran�a foram alterados, ficando mais r�gidos. “Os geot�cnicos n�o querem mais assinar a responsabilidade t�cnica. Na nossa profiss�o de engenheiro, estudamos quase 15 anos para chegar at� o doutorado. A geotecnia se estuda na p�s-gradua��o. S�o profissionais respons�veis, cuja imagem est� manchada”, comenta o professor Evandro da Gama. O engenheiro, que j� trabalhou em v�rios pa�ses, diz que essa � uma situa��o que s� se iguala ao que ocorre em pa�ses da �frica nigeriana. “Em outros pa�ses, o presidente da empresa mineradora assina o laudo com os t�cnicos”, relata o professor. (Colaborou D�borah Lima, estagi�ria sob supervis�o do editor Roney Garcia)

Reflexos do alarme


Confira a quantidade de desalojados nas tr�s �ltimas cidades em que houve evacua��o de �reas pr�ximas a barragens de minera��o em Minas

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)

Macacos (Nova Lima): 215 pessoas retiradas de suas casas

(foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
(foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)

Bar�o de Cocais: 492 pessoas retiradas de suas casas

(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
(foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press)

Itatiaiu�u: 166 pessoas retiradas de suas casas

Fonte: Defesa Civil/MG


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