
Falta de informa��o, acessos fechados, �nibus parados e crian�as sem aula. Entre a sensa��o de desamparo e a revolta, o primeiro dia �til depois que as sirenes anunciaram a necessidade de sa�da de fam�lias de suas casas em S�o Sebasti�o da �guas Claras, distrito de Nova Lima conhecido por Macacos, na Grande BH, pelo risco de rompimento da barragem B3/B4 da Vale, foi marcado pelo transtorno e paralisa��o da comunidade. Com a entrada e sa�da restritas a um caminho prec�rio pelo Condom�nio Pas�rgada, a rotina se tornou invi�vel, com momentos de tens�o elevada e protestos. Reuni�es ao longo do dia apontaram para uma poss�vel flexibiliza��o dos bloqueios, mas os moradores n�o sabem o que esperar. Segundo a Defesa Civil, 108 pessoas sa�ram de casa e foram para dois hot�is em BH e duas pousadas em Macacos.
Uma das expectativas da popula��o local era que o transporte p�blico fosse suprido pela Vale, mas a comunidade acordou no primeiro dia �til p�s-acionamento de sirenes sem as op��es metropolitana, entre BH e Macacos, e municipal, de Macacos a Nova Lima. O pedreiro Maykon Santos Amaral, de 26 anos, chegou �s 6h a um ponto de �nibus da Rua dos Guaranis, no Hipercentro de BH, e esperou at� o meio-dia sem sucesso pela passagem do �nibus para Macacos. O jeito foi pegar um coletivo para Nova Lima, mas como de l� tamb�m n�o sa�a nenhum para sua comunidade, teve que pegar carona para chegar em casa, no Bairro Capela Velha. “Como vou conseguir trabalhar dessa forma?”, questiona ele.
A dificuldade com o transporte foi gerada pela imposi��o de cinco pontos de bloqueio ao tr�nsito de ve�culos pela Pol�cia Militar, alguns flexibilizados mais tarde. Segundo a corpora��o, os bloqueios se tornaram necess�rios a partir do momento em que a Vale identificou a mudan�a de est�gio da barragem e por isso, em caso de rompimento, uma prov�vel onda de lama poderia atingir lugares com acesso por esses pontos. Entre eles est� a entrada principal de Macacos, via AMG-160 a partir da BR-040. As empresas Santa F� e Via Ouro retiraram os coletivos e moradores afirmam que a Vale prometeu suprir a demanda com vans, mas elas n�o apareceram pela manh�.
A situa��o gerou um cen�rio de desinforma��o t�o grande na popula��o que a arte educadora Tatiana Santana, de 36, uma das moderadoras de um grupo de mensagens via celular da comunidade, teve que bloquear os envios dos demais participantes, para n�o disseminar informa��es desencontradas. “O transporte coletivo parou e os alunos ficaram sem aula. Os professores n�o chegaram a nossa escola aqui na vila e os alunos que estudam no Jardim Canad� e em Nova Lima n�o conseguiram transporte para chegar �s escolas”, afirma Tatiana.
Em meio a v�rios moradores que n�o sabiam o que fazer no centro comunit�rio onde a Vale cadastrava os ocupantes da zona de autossalvamento em caso de rompimento, houve alguns momentos de maior tens�o, com gritos e discuss�es r�spidas. Diante de informa��es desencontradas, o professor e artista pl�stico Almiro Mendon�a, de 72, foi um dos que acabaram se exaltando. “As pessoas querem ir embora de Macacos, para onde viemos em busca de tranquilidade. Tenho 72 anos e minha esposa, 65. Ela est� traumatizada com essa situa��o. Isso � crime, a Vale tem que resolver isso urgentemente”, disse.

ALIMENTA��O J� cadastrada por ser moradora de uma poss�vel �rea de passagem de lama, a auxiliar de servi�os gerais Andreza de Jesus Silva, de 33, reclamava da necessidade de alguns produtos de higiene pessoal e tamb�m mais comida. “N�o temos roupa, porque elas est�o molhadas pela chuva. Ficamos dois dias andando de mochila na chuva e por isso molhou. A pousada que eles arrumaram tem conforto para dormir e �gua para tomar banho, mas est� faltando material de higiene e alimenta��o. O caf� da manh� tem, mas e o almo�o e o jantar, as crian�as v�o ficar passando fome?”, questiona ela, que saiu de casa com o marido e tr�s filhos. A Vale a colocou em uma pousada dentro de Macacos.
Uma d�vida recorrente da popula��o ontem era sobre a dimens�o de uma poss�vel �rea atingida em caso de rompimento de barragem. Do terreno onde cria 50 ovelhas, o motorista Rui Maia Amorim, de 70, v� a barragem e conta que perdeu o sono desde que as sirenes tocaram, no s�bado. “N�o sei se corro risco ou n�o e preciso saber qual � a minha situa��o, mas ningu�m fala nada. A sirene n�o tem hora pra tocar, se eu ficar doente aqui, como vou fazer?”, pergunta. (Colaborou Gabriel Ronan)
Bloqueios flex�veis
Ao perceber as reclama��es da comunidade desorientada em Macacos, integrantes da c�pula da Pol�cia Militar e da Defesa Civil de Minas Gerais se reuniram com membros da Vale e levaram as demandas para buscar uma solu��o. Ao fim do encontro, o coronel Ant�nio Balsa, comandante da 3ª Regi�o da PM, informou que para amenizar o sofrimento e melhorar a qualidade da vida da popula��o, houve uma flexibiliza��o nos pontos de bloqueio ao tr�fego, que passaram a ser monitorados de perto com autoriza��o de tr�nsito de ve�culos, e tamb�m a abertura de um novo acesso, no Campo do Costa, que tem totais condi��es de ser usado como rota de fuga sem nenhum risco. As libera��es sob monitoramento valem para os hor�rios em que ainda houver luz natural, mais ou menos entre as 5h e as 20h.
A flexibiliza��o dos acessos ocorreu, por exemplo, na entrada do Bairro Capela Velha, onde o fechamento gerou protesto de moradores na parte da manh�. Mas n�o na AMG-160, que continuou fechada, sem permiss�o de acesso. Segundo Ant�nio Balsa, esse caminho funcionar� a partir de hoje, das 5h �s 20h, em um sistema siga e pare que permita o monitoramento dos ve�culos por meio de r�dio. J� no caminho que d� acesso a Nova Lima, o bloqueio foi liberado entre a capela de S�o Sebasti�o das �guas Claras e a BR-040, permitindo uma segunda op��o ao tr�fego prec�rio do Condom�nio Pas�rgada, �nica alternativa que estava liberada at� ent�o.
Outra situa��o viabilizada pela Pol�cia Militar foi a entrada em Macacos pelo Campo do Costa, uma regi�o que pertence � Vale, mas que � conhecida da popula��o local. “O fluxo nessa estrada vai ser de m�o dupla. � uma estrada que consegue retirar toda a comunidade de Macacos sem risco nenhum, se for necess�rio”, diz o militar. No local, as autoridades colocaram p� de asfalto para facilitar o vai e vem de ve�culos. Sobre o transporte p�blico, Balsa afirmou que ao longo do dia as vans prometidas pela Vale entraram em opera��o.