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Aplicativos de transporte mudam rela��es de trabalho, com perdas e ganhos no mercado

Tarifas de servi�o consideradas baixas e aus�ncia de v�nculo de emprego exp�em condutores a riscos, como longas jornadas de trabalho e perda de benef�cios, dizem parceiros dos apps e estudioso do tema. Por outro lado, o servi�o garante renda em tempos de crise e beneficia a economia


postado em 19/06/2019 06:00 / atualizado em 19/06/2019 10:00

Lainnio Soares reclama das relações no mercado: 'Empresas querem o lucro sem tanta preocupação com o bem-estar dos motoristas'(foto: Fotos: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Lainnio Soares reclama das rela��es no mercado: 'Empresas querem o lucro sem tanta preocupa��o com o bem-estar dos motoristas' (foto: Fotos: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

Um dos pontos mais discutidos com a entrada dos aplicativos de transporte no mercado  diz respeito � quest�o das caracter�sticas do trabalho desenvolvido pelos motoristas e entregadores, interferindo diretamente na economia. Enquanto permitem aos condutores uma liberdade de atua��o, com controle da pr�pria jornada e se tornam op��o de servi�o em um contexto de corte de postos formais de trabalho, as empresas tamb�m praticam um pre�o considerado baixo pelos condutores e n�o t�m nenhum tipo de v�nculo com eles. Em consequ�ncia, quem dirige termina se expondo a longas jornadas para obter rendimentos almejados sem a prote��o de benef�cios trabalhistas. Em contrapartida, a chegada de apps de entrega, por exemplo, abre possibilidades para empres�rios elevarem o faturamento e manter a equipe de colaboradores sem sobressaltos.

 
Esse assunto � alvo de uma pesquisa comandada pelo professor F�bio Tozi, do Departamento de Geografia do Instituto de Geoci�ncias (IGC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), iniciada em 2016. No caso dos motoristas de carros de passeio, ele observou  uma precariza��o das rela��es de trabalho a partir do momento em que os altos custos de manuten��o, aliados � baixa tarifa aplicada pelas empresas, pressionam os condutores a rodar por horas a fio sem descanso para conseguir o dinheiro suficiente para sobreviver.
 
Essa precariza��o se estende aos motociclistas e ciclistas que pilotam e pedalam por muito tempo para conseguir pagar as contas. “Concordo que as plataformas permitiram que as pessoas ganhem dinheiro para a sobreviv�ncia, n�o resta d�vida. Mas isso � emprego? � esse emprego que queremos? Se o motorista fica doente, ele pode ficar sem trabalhar. E se n�o se programou para ter reserva nesse per�odo? Ciclistas e motociclistas est�o sofrendo acidentes. Quem arca com esse custo? � o SUS”, diz o professor.
 
O motorista Rodrigo Alves, de 29 anos, concorda com as conclus�es da pesquisa da UFMG, mas ressalta que o trabalho � uma chance em meio ao desemprego. “Bem ou mal, a gente consegue ganhar um dinheiro, sem passar dificuldades, mas n�o � f�cil. Para ter uma renda boa com aplicativos, a pessoa tem que trabalhar de 12 a 14 horas por dia. Estou falando de um sal�rio bom. E mesmo assim depende de v�rios fatores, como se o carro � do condutor ou de aluguel, entre outros”, afirma. 
 
Rodrigo diz que n�o pretende continuar no servi�o depois de estabilizar sua sua vida financeira. Ele ainda trabalha como motorista em outra fun��o que n�o pelos aplicativos. “Hoje tenho uma vis�o que o trabalho com os apps � meio que escravo. Voc� usa seu carro, desgasta seu ve�culo, e o retorno � baixo. Se voc� colocar tudo na ponta do l�pis, acho que n�o compensa. Mas voc� v� o dinheiro na sua m�o todos os dias”, completa.
 
A opini�o de Rodrigo � compartilhada pelo motorista Lainnio Soares de Oliveira, de 50. Ele trabalha com aplicativo desde 2014 e inicialmente atuava para complementar a renda. Quando foi demitido de uma empresa em que trabalhava como analista de sistemas, a fun��o de motorista se tornou principal. “Tentei arrumar outro emprego, mas infelizmente, pela idade e a situa��o do pa�s, tive que permanecer no aplicativo”, diz ele. Soares chegou a tirar R$ 12 mil quando tinha um carro que se enquadrava na categoria Uber Black, mas hoje tem dificuldades para arrecadar cerca de R$ 4 mil por m�s. “O trabalho hoje de motorista de app tornou-se um trabalho escravo, porque os apps n�o escutam os motoristas. Tivemos paralisa��o mundial e n�o fomos ouvidos. As empresas querem o lucro sem tanta preocupa��o com bem-estar dos motoristas”, completa.
 
O motorista J. S., de 34, admite que h� pontos positivos e negativos, mas se considera satisfeito ao trabalhar s� com aplicativos. Rodando s� pela Uber, ele se tornou membro da categoria diamante e por isso tem acesso a vantagens e benef�cios financeiros quando consegue superar uma determinada quantidade de corridas por semana. “Hoje tenho mais a exaltar o aplicativo, porque me ajudou demais quando eu estava desempregado. Atualmente, s� trabalho com isso. A  categoria diamante me deixa em uma situa��o um pouco melhor do que a maioria dos motoristas e a� a gente acaba querendo bater as metas para alcan�ar um rendimento melhor”, diz o motorista, que prefere n�o se identificar. J. faz cerca de R$ 5 mil por m�s sem considerar eventuais gastos com manuten��o.

SA�DA LEGAL O presidente da C�mara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo de Souza e Silva, considera que os aplicativos abriram alternativa de trabalho e lembra que h� op��es para buscar prote��o contra acidentes ou outros problemas. “Hoje as leis permitem que essas pessoas se formalizem, se tornem microempreendedores individuais com o pagamento de INSS e ainda acoplem um servi�o de atendimento m�dico”, afirma ele. Silva diz que n�o acredita em precariza��o se houver um acompanhamento de perto. “A rela��o do dono com o colaborador tem que ser pac�fica. Se a empresa cresce, o colaborador cresce junto e conquista condi��es melhores. A gente sabe que existem abusos das duas partes, mas isso vai mudar a partir de evolu��o da cultura”, afirma.

Mais retorno e esfor�o


Um ponto importante a ser agregado � discuss�o a respeito das rela��es de trabalho geradas pelos aplicativos especialmente nas entregas de mercadorias (com destaque para os alimentos) � o retorno para as empresas que aderiram �s plataformas de apps. No caso da empres�ria Nat�lia Neves, dona de uma hamburgueria inaugurada h� um ano e quatro meses na Savassi, Centro-Sul de Belo Horizonte, foi justamente a tecnologia dos apps que deu a ela a seguran�a para manter sem sobressaltos uma estrutura considerada grande de funcion�rios, com nove colaboradores. Nat�lia primeiro aderiu � plataforma do iFood, o que possibilitou mais conhecimento da hamburgueria pelos clientes. Depois, fechou com a Uber Eats e viu seu faturamento aumentar 30%. Ela tamb�m fez um contrato com a Rappi, que durou pouco tempo e, por fim, ficou apenas com a Uber Eats. Foi a escalada no faturamento que garantiu estabilidade para manter sua equipe rodando o neg�cio sem sobressaltos.
 
Na avalia��o dela, � importante criar regras que consigam manter a conviv�ncia harm�nica entre o bem-estar dos entregadores e a inova��o trazida pelo servi�o, que j� consolidou uma realidade do ponto de vista dos consumidores. A empres�ria avalia que � papel dos aplicativos um foco maior nos entregadores. "S�o as empresas dos aplicativos que t�m o contato maior com os motofretistas. � claro que a gente tem uma parcela a agregar, mas nosso contato com eles � muito ef�mero. A gente recebe orienta��es at� para saber como fazer e agir em caso de problema, mas quem precisa orientar um pouco mais � a empresa que contrata", afirma.

A tecnologia dos aplicativos gerou aumento de 30% no faturamento da hamburgueria da empresária Natália Neves, que garantiu a manutenção da equipe de nove funcionários que ela tem na empresa sem sobressaltos(foto: Fotos: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
A tecnologia dos aplicativos gerou aumento de 30% no faturamento da hamburgueria da empres�ria Nat�lia Neves, que garantiu a manuten��o da equipe de nove funcion�rios que ela tem na empresa sem sobressaltos (foto: Fotos: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

 
Ela cita exemplos de cursos para qualifica��o ou iniciativas similares que desenvolvam mais consci�ncia entre os condutores quanto � necessidade de respeito �s normas. Nat�lia acredita que � importante o poder p�blico encampar a discuss�o por regras que permitam uma conviv�ncia sem grandes problemas, mas defende que n�o sejam normas que venham a engessar as opera��es, pois os consumidores aprovam a inova��o e dificilmente v�o abrir m�o dela. "Todo mundo tem que ter a sua contribui��o. Tudo tem que ter a sua regra para conviver em harmonia. Precisamos de coisas pontuais, n�o pode ser burocr�tico ao ponto de inviabilizar a opera��o", completa.

rotina dura Pedalando a servi�o dos aplicativos de entrega h� cerca de tr�s meses, Altino Almeida, de 37, perdeu cerca de 20 quilos percorrendo at� 70 quil�metros por dia para garantir algo em torno de R$ 70 todos os dias. Quando n�o h� tarifa din�mica, o valor m�nimo das entregas que ele faz fica na faixa dos R$ 3,50. Dependendo das condi��es do dia, esse valor pode aumentar, o que eleva tamb�m o montante ao fim do dia. O certo � que o esfor�o � t�o grande que ele adaptou h� uma semana um motor de dois tempos na bicicleta, movido a uma mistura de gasolina e �leo. “Facilitou bastante, principalmente nas subidas. Quando tem entrega em bairros como Santo Ant�nio e S�o Pedro voc� quase morre, n�o � brincadeira”, diz ele.
 
A rotina de Altino come�a por volta das 11h e o primeiro turno de trabalho vai at� as 14h30. Depois ele almo�a e descansa, retomando o trabalho perto das 19h, encerrando a jornada �s 2h praticamente todos os dias. Antes de pedalar, ele chegou a trabalhar como motorista de carro a servi�o dos apps. “Quando teve a greve dos caminhoneiros, n�o consegui renovar meu contrato com a empresa em que eu alugava o carro para trabalhar e a� o que me restou foi a bike. Acho que as pessoas est�o partindo para isso pela necessidade, porque em rela��o aos ganhos n�o � vantagem. � mais para tirar o p�o de cada dia. Voc� trabalha fim de semana, com sol e chuva e n�o tem tempo de lazer”, afirma.

Pedalando a serviço dos aplicativos de entrega, Altino Almeida perdeu cerca de 20 quilos em três meses percorrendo até 70 quilômetros por dia(foto: Fotos: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Pedalando a servi�o dos aplicativos de entrega, Altino Almeida perdeu cerca de 20 quilos em tr�s meses percorrendo at� 70 quil�metros por dia (foto: Fotos: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)


Op��o para 5,5 milh�es


As empresas que operam aplicativos de transporte no Brasil trouxeram uma alternativa de trabalho em um contexto de mais de 13 milh�es de desempregados no pa�s. Esse � o ponto destacado pelo diretor da Associa��o Brasileira Online To Offline, Marcos Carvalho. O representante da entidade, que agrega empresas de economia colaborativa e plataformas digitais, lembra que um estudo do Instituto Lokomotiva aponta que 5,5 milh�es de pessoas ganham dinheiro apenas com os apps de transporte. 
 
Segundo Carvalho, pesquisa encomendada por empresas conveniadas � ABO2O e que ouviu 1,5 mil entregadores a servi�o dos apps em centros urbanos do Brasil indica que os apps vieram para facilitar a vida das pessoas.
 
O levantamento foi feito entre fevereiro e mar�o pela Funda��o Instituto de Administra��o (FIA) e apontou que 72,3% dos entrevistados preferem trabalhar com entregas de forma aut�noma do que com v�nculos CLT. Mais de 90% relataram que os apps permitem maior liberdade para composi��o da renda e a maioria declarou que ela aumentou. 
 
Em nota, a empresa Uber destacou que cerca de um ter�o dos motoristas de BH dirigem menos de 20 horas por m�s com a plataforma. A companhia tamb�m informou que seus motoristas parceiros t�m liberdade para escolher suas horas online. “A plataforma permite que eles aceitem ou cancelem viagens, sem qualquer tipo de penaliza��o”, informou a empresa. A Uber tamb�m destacou que acaba de iniciar os testes de recurso que mostra o destino do usu�rio antes do in�cio da viagem.
 
Por fim, a Uber destacou op��es para seus parceiros que contribuem para melhoria das condi��es de trabalho. Entre elas, seguro para condutores e passageiros para acidentes, que pode chegar a R$ 100 mil em caso de morte, desconto de 5% em combust�veis da rede Ipiranga, microcr�ditos para instala��o de kit g�s natural, cobran�a do usu�rio de cada minuto que ele faz o motorista parceiro esperar, parado, diante do seu endere�o (ap�s cinco minutos de espera) e cobran�a do usu�rio das viagens que ele cancela cinco minutos depois da solicita��o.
 
S�rie de reportagens

O Estado de Minas publica desde domingo a s�rie “Para onde vamos”, na qual discute os impactos positivos e negativos dos aplicativos de transporte de passageiros e mercadorias no cotidiano dos belo-horizontinos. No primeiro dia, especialistas, usu�rios e empresas falaram sobre a populariza��o dos patinetes el�tricos e a necessidade de se criarem leis para regulamentar o uso nas ruas de BH. A edi��o de segunda-feira abordou os gargalos criados por servi�os como Uber, Cabify e 99pop no tr�nsito da capital, em contrapartida � simplifica��o dos deslocamentos. Ontem, o foco foi a populariza��o das entregas na cidade e seus efeitos para a seguran�a do tr�nsito com a maior circula��o de motos e bicicletas a servi�o dos aplicativos.




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