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Estado de Minas

Desalento e revolta: como moradores de Itatiaiu�u reagiram a mais uma evacua��o

Reavalia��o sobre a �rea de inunda��o em caso de rompimento de barragem p�e mais 23 fam�lias em risco e causa indigna��o


05/07/2019 06:00 - atualizado 05/07/2019 08:00

A fotógrafa Tânia Magalhães olha com desolação o estúdio recém-construído: história de vida abalada
A fot�grafa T�nia Magalh�es olha com desola��o o est�dio rec�m-constru�do: hist�ria de vida abalada (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A.Press)

O medo e a tristeza invadiram novos lares e voltaram aos olhares de moradores de Itatiaiu�u. O clima de incerteza que perdura na cidade h� cinco meses, por causa do risco de rompimento da Barragem da Mina Serra Azul, da ArcelorMittal, aumentou no Bairro Pinheiros, na cidade da Grande BH, onde ontem outros 23 im�veis foram formalmente postos na zona de perigo, aumentando para 71 o n�mero de fam�lias amea�adas, que j� foram ou ser�o obrigadas a abandonar suas casas em at� cinco dias.

Representantes da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) passaram ontem em cada endere�o afetado oferecendo a possibilidade de outra moradia. Para os que v�o deixar suas hist�rias para tr�s, fica a pergunta: como vai ser o futuro? “Terei que sair, sem prazo para voltar”, disse, ainda incr�dula com a not�cia, a fot�grafa T�nia Regina Magalh�es, de 57 anos.


Em 8 de fevereiro, quando o n�vel de emerg�ncia que retrata a seguran�a da barragem aumentou de 1 para 2 em uma escala que vai at� 3, 48 fam�lias, ou 159 pessoas, tiveram de sair de suas  casas na regi�o do Bairro Pinheiros. Desde ent�o, de acordo com a Arcelor, o monitoramento foi ampliado para incluir medidas adicionais, como acompanhamento por v�deo 24 horas, vigil�ncia via radar, monitoramento s�smico, inspe��es por drone e automa��o dos dispositivos de medi��o de n�vel do reservat�rio. A empresa assinou com o Minist�rio P�blico de Minas Gerais termo de ajustamento de conduta (TAC), comprometendo-se a refazer o estudo que avalia os impactos de um poss�vel rompimento de barragem, conhecido como dam break. As �ltimas remo��es s�o resultado dessa reavalia��o.

“A empresa trabalhava com um estudo de 2015, que era mais conservador em algumas quest�es. Foi feito um novo documento, simulando a possibilidade de uma chuva milenar, com a maximiza��o do cen�rio de risco, abrangendo uma �rea maior”, explicou o coordenador-adjunto da Cedec, tenente-coronel Fl�vio Godinho. “Com isso, a �rea atingida seria um pouco maior, chegando a essas 23 resid�ncias”, disse. Ele ressaltou que n�o houve mudan�a no fator de seguran�a do reservat�rio, que segue em n�vel 2. A a��o do governo do estado ocorre de forma preventiva, ressaltou, por causa da nova avalia��o sobre da mancha de inunda��o. As fam�lias est�o sendo avisadas individualmente e recebendo a oferta de hot�is e casas para que possam sair de suas moradias.

Equipes multidisciplinares, formadas pela Defesa Civil, profissionais da �rea psicossocial e agentes de sa�de, fizeram as abordagens ontem. Ao todo, 70 pessoas ser�o afetadas pela nova ordem de evacua��o. O prazo para a retirada das fam�lias � de cinco dias, de acordo com o tenente-coronel Godinho. “A quest�o da quantidade potencializada de chuva faz com que a barragem tenha um aumento significativo. No estudo anterior, a represa poderia se romper por galgamento, quando a �gua extravasa por cima. No atual, ficou demonstrado que pode se romper por liquefa��o, o que � mais r�pido, imediato, e a proje��o de �gua com rejeitos � maior”, ressaltou. “A legisla��o da ANM (Ag�ncia Nacional de Minera��o) determina evacua��o de moradores quando barragens atingem n�vel 3 de emerg�ncia. Mas, em Minas Gerais, fazemos em n�vel 2, em respeito a essas pessoas que tanto t�m sofrido em fun��o das barragens”, completou.

(foto: Arte/EM)


SONHO DESMORONADO


H� oito anos, T�nia Regina Magalh�es, a filha de 15 anos, a irm� e o pai se mudaram para uma casa na Rua Jo�o Daniel de Paula, com 2 mil metros quadrados e 14 c�modos. “Compramos o lote em 1997, com uma casa de adobe. Desde ent�o, fomos construindo tudo”, contou a fot�grafa, com os olhos marejados. No terreno, h� um tanque para peixes e vivem dezenas de animais dom�sticos, como c�es, gatos e galinhas. As mudan�as no im�vel ainda est�o em andamento. A mais recente foi como a realiza��o de um sonho para T�nia: a constru��o de um est�dio de fotografia. “Investi R$ 15 mil nesse projeto e n�o sei como vou fazer. � muito dif�cil esta situa��o, ter que deixar minha casa. N�o quero ir para um hotel. Preciso de um local amplo para continuar meu trabalho”, afirmou. No est�dio, ela registra imagens de gestantes, debutantes e crian�as, entre outros.

Desde janeiro, simulados de emerg�ncia foram feitos na cidade para orientar os moradores. Mesmo sem estar na �rea de risco at� ent�o, T�nia participou e foi repreendida pelos respons�veis pela a��o. “� at� engra�ado. Fui para o ponto de encontro e l� falaram que eu n�o precisava, pois n�o estava em risco. Respondi que o c�rrego passa nos fundos de minha casa e por isso poderia ser atingida. Hoje, vieram aqui e me deram a mesma informa��o que apresentei no dia”, comentou.

A fotógrafa Tânia Magalhães olha com desolação o estúdio recém construído: história de vida abalada
A fot�grafa T�nia Magalh�es olha com desola��o o est�dio rec�m constru�do: hist�ria de vida abalada (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS)

 

'Nasci e me criei aqui. N�o saio'


“Eu nasci e me criei aqui. N�o vou sair. Vamos confiar em Deus.” A frase de Pedro da Fonseca, de 75 anos, morador do Bairro Pinheiros, em Itatiaiu�u, resume o misto de perplexidade e tristeza das 23 fam�lias que foram informadas que ter�o de deixar suas casas em Itatiaiu�u, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, depois de novo estudo sobre a �rea de inunda��o em caso de rompimento da Barragem da Mina Serra Azul. No novo cen�rio tra�ado pela ArcelorMittal, dona do empreendimento, a lama atingiria a parte de tr�s da casa de Pedro e da mulher, Cust�dia Maria da Fonseca, de 76, onde h� tamb�m um im�vel no qual vive a fam�lia de uma filha do casal.

“A gente n�o esperava receber essa not�cia. Ficamos com medo e assustados. Isso nos d� inseguran�a”, disse Cust�dia. Ela e o marido estavam reunidos na varanda com os filhos e netos, ainda pensando no que fazer diante da not�cia. No terreno, que agora est� sob a sombra da �rea de risco, a fam�lia cultiva milho, laranja, lim�o e manga, planta��es que tamb�m seriam atingidas.

Família de Pedro Fonseca disse que não esperava a notícia da necessidade de saída de casa e se apega em Deus para reverter a situação
Fam�lia de Pedro Fonseca disse que n�o esperava a not�cia da necessidade de sa�da de casa e se apega em Deus para reverter a situa��o (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A.Press)


Maria Aparecida Queiroz, de 64, j� foi l�der comunit�ria na cidade. Com isso, ao ver os amigos se aproximando, ontem, at� brincou: “Voc�s n�o vieram me tirar de casa n�o, n�?”. Mas foi exatamente o que o grupo havia ido fazer. Ela conversou com a equipe por alguns minutos, dentro da casa, localizada a poucos metros da BR-381 e em frente a um dos pontos de encontro criados diante do risco de rompimento da represa.

Mostrou-se tranquila com a not�cia, mas ressaltou os transtornos. “Moro h� 40 anos aqui. N�o imaginava um dia ter que sair, fiquei surpresa. A lama atingiria a parte dos fundos, que ter� que ser isolada”, disse. “� um transtorno. Muda as nossas vidas. A gente j� n�o vive mais tranquilo”, completou. Ela vive no local com a filha, de 34 anos, a neta de 10, um cachorro, al�m de galinhas e gansos.

JUSTIFICATIVA Por meio de nota, a ArcelorMittal informou que a empresa est� em contato constante com as autoridades locais e que a prioridade � garantir que os moradores estejam em seguran�a. Acrescentou que novas a��es e estudos complementares relativas � Mina de Serra azul est�o em andamento para avaliar as op��es para retornar ao plano de descaracteriza��o da barragem de rejeitos de maneira segura. “Ap�s conclus�o das melhorias para recuperar o fator de seguran�a, que est�o em andamento, a empresa vai executar o descomissionamento da estrutura”, diz o texto.

Procurado, o Minist�rio P�blico informou que houve ajuizamento de diversas a��es civis p�blicas que cont�m pedidos para revis�o dos planos de seguran�a de barragens de mineradoras em Minas Gerais. Acrescentou que em reuni�o ocorrida no �ltimo dia 26, apresentou a outra mineradora, a Vale, proposta de acordo tendo como um dos objetos a elabora��o ou atualiza��o de todos os estudos de cen�rios de ruptura hipot�tica de estruturas (barragens e diques) da empresa situadas em Minas Gerais, “seguindo-se a metodologia que permite a aferi��o correta/adequada da mancha de inunda��o, metodologia que foi apresentada pelo MPMG e j� adotada pela Defesa Civil Estadual”. Ainda segundo o MP, a quest�o se encontra em fase de tratativas entre as partes.


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