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Estado de Minas

De roupas a solidariedade: o que mudou para a diarista que pedia comida em troca de faxina

Publica��o comoveu muita gente e Ana Paula recebeu propostas de servi�o, doa��es e ajuda para buscar a recoloca��o profissional


postado em 26/07/2019 06:00 / atualizado em 26/07/2019 07:53

Rede de solidariedade ajuda Ana Paula Oliveira, a diarista que se ofereceu para trocar faxina por refeição(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Rede de solidariedade ajuda Ana Paula Oliveira, a diarista que se ofereceu para trocar faxina por refei��o (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press)


Situa��es extremas requerem medidas extremas. Foi pensando mais ou menos dessa forma que Ana Paula Oliveira, de 37 anos, come�ou a dar uma guinada na sua vida. Desempregada e com a despensa de casa vazia, ela postou um an�ncio nas redes sociais oferecendo servi�o de faxina em troca de refei��o. S� que ganhou muito mais do que isso: a solidariedade. A publica��o comoveu muita gente e Ana Paula recebeu propostas de servi�o, doa��es e ajuda para buscar a recoloca��o profissional.
 
“Foi surpreendente. Postei com a ideia de que uma pessoa ou outra mais pr�xima me oferecesse a faxina em troca da refei��o para me ajudar, mas muita gente me procurou. N�o esperava. Algumas pessoas perguntaram: 'Onde voc� mora? Quero te ajudar. Vou levar algo para voc�.' Outros perguntaram quanto era minha faxina, dizendo que pagariam o valor para mim”, relata.
 
E as boas not�cias n�o pararam por a�. “Teve uma comerciante que trabalha com roupas que me ofereceu ajuda com os looks para me sair melhor nas entrevistas de emprego. Uma designer repaginou meu curr�culo. � tamb�m por a��es como essa que ainda acredito na solidariedade das pessoas”, afirma a moradora do Bairro Esplanada.
 
� claro que tamb�m apareceu quem criticasse a iniciativa de Ana Paula. “Foi uma minoria, mas teve gente dizendo que era para eu vender meu celular, ir para a zona (de prostitui��o)... Outros disseram que eu estava s� querendo causar, aparecer, mas n�o me abalo com isso”, acrescentou. Sempre com alto-astral e um sorriso no rosto, Ana Paula vibra com a nova fase. “Hoje estou feliz demais. Estou com alimentos na despensa em casa. J� tenho faxina agendada para hoje e amanh�”, destaca.

"Queria muito continuar meus estudos, poder fazer uma faculdade. N�o consigo me colocar no mercado por falta de qualifica��o. E n�o tenho como parar para tentar me qualificar, porque sen�o vou passar fome. Mas n�o vou desistir"

Ana Paula Oliveira, 37 anos


 
“Morava no Bairro Pindorama, em uma esp�cie de quartinho de despejo. O pessoal da igreja (Adventista do 7º Dia) que me ajudou, reformando tudo e me ajudando no aluguel. Trabalhei em escrit�rio e com telemarketing, mas depois que perdi o emprego tive que me virar. Veio uma a��o de despejo e tudo ficou mais dif�cil”, relembra.
 
Foi uma fase dura na vida de Ana Paula. E ela n�o conseguiu suportar a barra sozinha. “Em 2017, tive um per�odo muito complicado. Fiz uso de subst�ncias, usava maconha. Fiquei um m�s internada em uma comunidade terap�utica”, revela, sem medo de remoer o passado recente.
 
Mas o fundo do po�o ainda estava por vir. Ao sair da comunidade terap�utica, Ana Paula recebeu a pior not�cia: “Nesse per�odo, minha m�e decidiu tirar meu filho de mim (um garoto ent�o com apenas 2 anos). Gerou um boletim de ocorr�ncia com um monte de inverdades. Chegou a falar que eu era garota de programa... Ningu�m exigiu sequer que ela provasse. Nunca estive sequer diante de um juiz. Hoje n�o tenho contato com meu filho”, alega. Desesperada, Ana Paula chegou at� a anunciar nas redes sociais a venda de um de seus rins (o que � uma pr�tica ilegal). “Foi uma ideia infeliz, muito idiota. Alguns amigos me alertaram e logo retirei o an�ncio”, acrescenta.
 
Como alternativa para se manter, Ana Paula passou como diarista, com valores variando de R$ 120 a R$ 150 nos �ltimos anos. Mas, como as faxinas eram eventuais, tamb�m buscava outras estrat�gias. “Cheguei a tentar trabalhar como ambulante em dia de jogo de futebol aqui em BH. Peguei �gua gelada, pa�oca, outros doces em consigna��o. At� comprei um carrinho. Mas, logo no primeiro dia, a prefeitura apreendeu minha mercadoria”, relembra.
 
Com ensino m�dio completo e curso de inform�tica, Ana Paula diz n�o precisar de muito para viver bem: “Se tivesse tr�s faxinas por semana, j� me garantiria”, afirma. Mas nem por isso ela se priva de sonhar um pouco mais alto. O primeiro objetivo � ter um emprego fixo, o que pode acontecer em breve, afinal, passou por concurso das prefeituras de Lagoa Santa (cargo de secret�ria) e Santa Luzia (auxiliar de secretaria). “Gra�as a Deus, fui aprovada. Est� andando. Eles j� est�o chamando. Estou otimista”, diz. O segundo � voltar a estudar. “Queria muito continuar meus estudos, poder fazer uma faculdade. N�o consigo me colocar no mercado por falta de qualifica��o. E n�o tenho como parar para tentar me qualificar, porque sen�o vou passar fome. Mas n�o vou desistir”, garante, com otimismo de quem n�o tem medo de encarar os desafios da vida.

Do mundo virtual para o real


Comovida com a história, Gracy separa roupas para Ana Paula(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Comovida com a hist�ria, Gracy separa roupas para Ana Paula (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press)


Comovidas com a hist�ria de Ana Paula, um grupo de mulheres criou uma rede de solidariedade para tentar ajud�-la. Uma das que tomaram a frente dos trabalhos foi a comerciante Graciley Iza�, mais conhecida como Gracy.  “Tive o primeiro contato quando ela usou as redes sociais para perguntar se algu�m poderia imprimir apostilas para ela estudar para um concurso. Resolvi ajudar, ela fez dois concursos e chegou a ser aprovada, mas ainda n�o foi chamada”, relata. Depois, Ana Paula fez algumas faxinas para Gracy. “� uma faxineira muito caprichosa e atenciosa”, destaca.
 
Ap�s ver o novo apelo de Ana Paula nas redes sociais, Gracy e algumas amigas se reuniram para verificar em que poderiam ajudar. “Como trabalho com roupa, vou disponibilizar alguns looks para ela usar em entrevistas. J� separei algumas pe�as para ela experimentar. Outra parceira nossa doou uma cesta b�sica”.
 
N�o se dando por satisfeitas, as amigas resolveram criar uma campanha de arrecada��o de donativos e abrir uma conta para quem preferisse doar em dinheiro. Em pouco tempo, a postagem “bombou”, mas os resultados n�o foram t�o bons como esperado. “Muitas pessoas comentam, at� se disp�em, mas n�o se movem. At� conversar com voc�s ainda n�o tivemos nem sequer uma doa��o na conta. Sobre os alimentos, recebemos poucos, que somente tr�s pessoas entregaram. Essa solidariedade toda das redes sociais �s vezes n�o � real. Tem gente que pediu para eu comprovar que a pessoa existe”, lamenta Gracy.
 
Nem assim, o grupo desanima. Entre os pedidos de ajuda tamb�m est� o de assist�ncia jur�dica, para que Ana Paula possa voltar a lutar pela guarda do filho. “Ela � uma mulher guerreira, que n�o merece passar por isso”, finaliza.
 
Quem quiser ajudar, pode entregar as doa��es de alimentos no Brech� Cad� Tereza, na Savassi (Rua Tom� de Souza, 821). As doa��es em dinheiro podem ser feitas no Banco Santander, ag�ncia 3181, conta-corrente 13004144-8, CPF 06844939698.


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