
Crimes de sequestro comandados de tr�s das grades mostram a fragilidade de unidades prisionais, inclusive as que deveriam ser de seguran�a m�xima, como a do Complexo Penitenci�rio Nelson Hungria, em Contagem, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte.
Ontem, mais uma a��o suspeita de ter sido articulada dentro da carceragem veio � tona: o sequestro de um garoto de 7 anos em Florestal, tamb�m na Grande BH. H� ind�cios de que dois homens j� presos tenham arquitetado o crime no interior do complexo, apesar de a estrutura contar com bloqueadores de sinal de celular que teoricamente permanecem ativos.
O sequestro durou quase dois dias e os bandidos pediram R$ 300 mil para libertar o garoto. De acordo com delegado respons�vel pelo caso, a “grande maioria” das ocorr�ncias de extors�o mediante sequestro � articulada por presidi�rios. Na compara��o entre junho deste ano e o mesmo m�s de 2018, o n�mero delas dobrou de quatro para oito (veja gr�fico). No ano passado inteiro foram 79.
As informa��es foram repassadas em coletiva de imprensa da Pol�cia Civil na manh� de ontem. De acordo com a Pol�cia Civil, o sequestro ocorreu em 19 de junho. Por volta das 8h daquele dia, dois homens surpreenderam e renderam a empregada dom�stica quando ela retirava o lixo da casa. Com uma submetralhadora e uma garrucha, eles entraram na resid�ncia. Foi por volta das 10h que o pai da crian�a, empres�rio do ramo imobili�rio, chegou em casa. Perto das 11h, a crian�a e a m�e chegaram. Todos foram rendidos.
Por volta das 12h, os sequestradores deixaram a resid�ncia em um carro Renault Logan levando a crian�a para um cativeiro em Pequi, a 40 quil�metros de Florestal. "L�, os bandidos exigiram – mediante grave amea�a – a quantia de R$ 300 mil. A crian�a foi mantida ref�m por aproximadamente 20 horas", explicou o delegado Marcus Vin�cius do Departamento Estadual de Opera��es Especiais (Deoesp). No cativeiro, a pol�cia encontrou carrinhos, m�scaras de super-her�is e at� videogame, aparentemente para entreter o menino sequestrado.
Ap�s horas de p�nico e uma longa negocia��o com a pol�cia, a crian�a foi liberada em um ponto de �nibus pr�ximo a um trevo, em Par� de Minas. Nenhum dinheiro foi levado. Para o delegado, a escolha da fam�lia como alvo se deve a seu alto poder aquisitivo. "A elevada capacidade financeira da fam�lia chamou a aten��o dos bandidos", considerou. De acordo com ele, em fun��o de seus neg�cios, o pai da crian�a movimenta altas quantias. "Sabendo disso, os bandidos come�aram a monitorar a rotina da fam�lia. Inclusive, tentaram praticar o sequestro 15 dias antes da consuma��o da ocorr�ncia", acrescentou.
O que chama a aten��o � que, segundo a Pol�cia Civil, a articula��o do sequestro e condu��o das negocia��es ficou a cargo de um homem que cumpre pena na Penitenci�ria Nelson Hungria. Os investigadores suspeitam que outro detento tenha sido respons�vel por conseguir o ve�culo utilizado no transporte da crian�a. "Essa dupla � considerada a mandante do crime de extors�o mediante sequestro", completou o investigador.
Trata-se de Daniel Augusto Cypriano, de 35, e Thiago Rodrigues Ribeiro, de 32. Daniel � natural de Barra Mansa (RJ) e responde por roubo a banco, homic�dio, sequestro e forma��o de quadrilha. J� Thiago � de Jana�ba, na Regi�o Norte do estado, e tamb�m tem uma lista extensa criminal: roubo, causar inc�ndio, sequestro, forma��o de quadrilha e crimes relacionados �o tr�fico de drogas. Al�m deles, outros dois homens e dois adolescentes s�o investigados.
CELULAR NA CELA
“O departamento antissequestro da Pol�cia Civil apurou diversos crimes de extors�o mediante sequestro neste ano. Todos eles praticados e coordenados por pessoas que j� est�o presas. E, na data de hoje, uma equipe do Deoesp encontrou dois celulares nas celas de Daniel e Thiago. Mas antes de entrarmos em uma das celas, o preso quebrou o aparelho”, explicou o delegado. “V�rios crimes apurados pelo departamento t�m envolvimento de detentos perigosos presos em penitenci�rias. Agora, na nova fase da opera��o, vamos tentar identificar como os aparelhos chegam at� os detentos e poss�vel envolvimento de agentes p�blicos”, completou.
Em junho, o Estado de Minas mostrou que, somente de janeiro a abril, foram apreendidos nada menos que 2.441 celulares nas 197 unidades prisionais geridas pela Secretaria de Administra��o Prisional de Minas Gerais (Seap-MG), segundo dados da pasta. A m�dia � de 20 apreens�es por dia no per�odo.
Comparando os n�meros das apreens�es atuais e os de 2018, observa-se que as tentativas de entregar aparelhos nos pres�dios continuavam no mesmo ritmo. A m�dia di�ria deste ano � pouco menor que a de todo o ano passado, quando foram apreendidos 7.658 celulares – cerca de 39 aparelhos por unidade prisional. Entre janeiro e abril de 2018, entretanto, o total de telefones apreendidos foi maior que o de igual per�odo deste ano: 2.613 celulares, 21 aparelhos por dia, em m�dia. Considerando os n�meros do ano passado, as apreens�es equivaleram a um celular para cada grupo de nove detentos, numa popula��o carcer�ria de 72.481 presos em Minas Gerais.
De acordo com Secretaria de Estado de Justi�a e Seguran�a P�blica (Sejusp), nos 197 estabelecimentos prisionais s�o realizadas a��es de revistas rotineiras e opera��es a fim de retirar objetos il�citos do interior das celas. “A pasta soma esfor�os para coibir a entrada de telefones celulares em suas unidades prisionais durante a entrada de visitantes, tais como as revistas por meio de equipamentos de esc�ner corporal, portais e banquetas detectores de metais, al�m da aplica��o dos procedimentos operacionais padr�o durante as visita��es de acordo com o Regulamento e Normas de Procedimentos do Sistema Prisional de Minas Gerais (ReNP)”, informou por meio de nota.
Atualmente, al�m do Complexo Penitenci�rio Nelson Hungria, quatro sistemas prisionais contam com bloqueadores de sinal de celular. Os aparelhos est�o presentes no Complexo Penitenci�rio P�blico Privado, em Ribeir�o das Neves; Penitenci�ria Francisco Floriano de Paula, em Governador Valadares; Penitenci�ria Deputado Expedito de Farias Tavares, em Patroc�nio, e Penitenci�ria Professor Jo�o Pimenta da Veiga, em Uberl�ndia.
Os bloqueadores existentes est�o ativos. Questionada sobre novas medidas, a efici�ncia do aparelho e n�mero de celulares apreendidos, a secretaria n�o respondeu. Entretanto, em janeiro, o EM questionou a Seap quanto � falta de tecnologia para barrar os celulares dentro dos pres�dios. Na �poca, a pasta confirmou a tese, afirmando que isso ocorre devido � mudan�as nos sinais das operadoras, que chegam com uma pot�ncia maior do que a capacidade do bloqueador.
Nelson Hungria � interditada
O Complexo Penitenci�rio Nelson Hungria (CPNH) n�o poder� mais receber presos. A unidade prisional foi interditada pela terceira vez em pouco mais de um ano. A decis�o � do juiz Titular da Vara de Execu��es Criminais de Contagem, Wagner de Oliveira Cavalieri. Em Minas Gerais, 44,6% das unidades prisionais est�o total ou parcialmente interditadas – ou seja, n�o podem mais receber internos. Entre os motivos est�o a superlota��o e o d�ficit de agentes penitenci�rios. A Nelson Hungria estava parcialmente interdidata, mas medidas estabelecidas pela Justi�a para que funcionasse n�o teriam sido cumpridas, segundo Cavalieri. A decis�o coincide com a divulga��o de que sequestro de uma crian�a em Florestal teria sido comandado por presos. Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Justi�a e Seguran�a P�blica (Sejusp) informou que ainda n�o foi notificada oficialmente da decis�o judicial. “A Sejusp ressalta, contudo, que cumpre as determina��es do Poder Judici�rio”, completou.