O centen�rio de ordena��o do Beato Padre Eust�quio (1890-1943) foi lembrado em Belo Horizonte nesta sexta-feira (30), na tradicional festa em homenagem ao religioso nascido na Holanda e que viveu durante 17 anos no Brasil, 12 dos quais em Minas.
"O lema dele era sa�de e paz, e a� est� o caminho que devemos seguir para a fraternidade", afirmou o arcebispo de BH e presidente da Confer�ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, que celebrou a missa das 16h – no total, foram nove celebra��es.
Segundo os organizadores, cerca de 25 mil pessoas passaram pelo Santu�rio Sa�de e Paz, tamb�m conhecido como Igreja de Padre Eust�quio, no bairro de mesmo nome, na Regi�o Noroeste da capital.
Desde bem cedo, os fi�is chegaram ao templo no qual foram celebradas missas de duas em duas horas, para lembrar os 76 anos de morte do religioso que trabalhou na Regi�o do Alto Parana�ba e em BH, por um ano e quatro meses.
No memorial que guarda os restos mortais do beato, homens, mulheres e crian�as escreveram seus pedidos de gra�as e b�n��os, acenderam velas ou simplesmente rezaram com as m�os na l�pide.
Ao acender uma vela, o estudante Daniel Rossi, de 18, contou que pedia “sa�de, paz e muita coisa boa”. “E para se sair bem nas provas?”, perguntou o rep�rter, para ouvir de imediato a frase vinda de um sorriso aberto: “Ah! Isso a gente sempre pede, n�?”
Abadia
Acompanhado da av� Maria Aparecida de Freitas Valadares, de 65, o estudante Ackel Herm�genes, de 16, morador do Bairro Paquet�, na Regi�o da Pampulha, comemora o anivers�rio no dia dedicado ao beato. “Ainda n�o precisei pedir nada para ele”, confessou o adolescente.
A av� explicou que outro neto nasceu em 18 de agosto e que ela “tinha certeza” de que Ackel chegaria ao mundo em 30 de agosto. “E n�o deu outra”, disse Maria Aparecida, que sempre comparece ao templo e, desta vez, levou tamb�m o neto Th�o, de 9 meses, com a m�e, Andreza de Freitas Valadares. “Tive uma gravidez de risco, pedi a Deus, por intercess�o de Padre Eust�quio, que me socorresse. Ent�o, venho sempre agradecer”, revelou Andreza.
A professora T�nia Ribeiro, moradora do Bairro Santa M�nica, na Regi�o da Pampulha, tamb�m tinha muito para agradecer. H� muitos anos, procurou apartamento para morar no Bairro Padre Eust�quio. “Um dia, quando sa�a de um pr�dio, tive um pensamento, como se ouvisse uma voz, que o padre estava me ajudando. Isso foi 'do nada'. Consegui o apartamento e morei no bairro durante 15 anos.”
No memorial, muitos cat�licos rezaram diante da imagem de Nossa Senhora da Abadia de �gua Suja, r�plica da existente na igreja constru�da em 1925 por Padre Eust�quio em Romaria, antigo Monte Carmelo, na Regi�o do Alto Parana�ba.
Beatificado em cerim�nia no est�dio do Mineir�o, na Pampulha, em 15 de junho de 2006, Padre Eust�quio est� em processo de canoniza��o, mas, para se tornar santo, � preciso que o Vaticano reconhe�a um milagre ocorrido ap�s aquela data.
Segundo o vice-postular da causa e pr�-reitor do Santu�rio Sa�de e Paz, na Par�quia dos Sagrados Cora��es, padre Vin�cius Maciel, ainda n�o h� registro de milagres, embora estejam relatadas muitas gra�as e b�n��os alcan�adas. “O que ocorre, hoje, � a expans�o pelo Brasil e exterior de comunidades dedicadas ao beato. H� uma par�quia em Guarapari (ES), Esmeraldas (Grande BH), aqui perto, e igrejas no Jap�o e na �ndia, devido � difus�o da Congrega��o dos Sagrados Cora��es.”
Na avalia��o do padre Vin�cius, Padre Eust�quio era um “homem misericordioso”, capaz de dar aten��o aos sofredores, pobres e doentes e �s crian�as. “A f� era o ponto fundamental para seu amor ao pr�ximo. A maior li��o que ficou � que � poss�vel aliar, na atualidade, a religi�o, a religiosidade com a vida real. Muitos, �s vezes, costumam buscar na religi�o algo externo, intimista, mas Padre Eust�quio nos ensinou que a religi�o faz parte da vida concreta, do sofrimento humano, dos necessitados.”
Fama, seguidores e transfer�ncias
Eust�quio van Lieshout nasceu na Holanda, em 1890 e aos 15 anos ingressou na Congrega��o dos Sagrados Cora��es, inspirado no exemplo de santidade do mission�rio S�o Dami�o de Molokai.
Em 1919, foi ordenado sacerdote e continuou em seu pa�s. Seis anos mais tarde, veio para o Brasil e fundou, com os padres Gil van den Boogaart e Matias van Rooy, a primeira comunidade da congrega��o no pa�s.
Padre Eust�quio construiu o Santu�rio de Nossa Senhora da Abadia de �gua Suja, em Romaria, na Regi�o do Alto Parana�ba, e em seguida foi transferido para Po� (SP), onde se tem os primeiros relatos de milagres.
A fama de santidade do chamado vig�rio de Po� se espalhou por todo o pa�s e, conforme as pesquisas, o incontrol�vel ass�dio das multid�es levou seus superiores a afast�-lo da par�quia, em 1941. Viveu retirado em v�rias cidades paulistas, mineiras e na capital carioca.
Em 1942, o padre foi nomeado p�roco em Belo Horizonte. Ficou apenas um ano e quatro meses na capital, o suficiente para deixar ra�zes profundas na espiritualidade do povo belo-horizontino. Mas uma repentina febre alta interrompeu esse intenso apostolado. Em 30 agosto de 1943, o religioso faleceu, vitimado por tifo exantem�tico ou febre maculosa, tamb�m chamada de febre do carrapato.
Conforme os relatos da �poca, incluindo a edi��o do Estado de Minas, o funeral atraiu uma multid�o. O t�mulo, no Cemit�rio do Bonfim, continuou sendo visitado pelos fi�is, mas, com a constru��o da Igreja dos Sagrados Cora��es, o povo passou a cham�-la de Igreja do Padre Eust�quio.
O corpo do sacerdote foi exumado e trasladado para um t�mulo dentro da igreja em 1949, ficando at� o ano de 2007, quando foi transferido para o Memorial, constru�do anexo ao templo.
Da beatifica��o � canoniza��o
Em 15 de junho de 2006, milhares de pessoas lotaram o est�dio do Mineir�o, na Regi�o da Pampulha, em Belo Horizonte, para participar da cerim�nia de beatifica��o do Padre Eust�quio.
Com a presen�a de autoridades do Vaticano, estava ali o reconhecimento p�blico de uma vida her�ica nas virtudes e no servi�o. A festa foi realizada no dia Corpus Christi e 12ª Torcida de Deus, com a presen�a de delega��es de v�rios est�dios brasileiros e at� delega��es de religiosos latino-americanos.
Como ocorreu nesta sexta, muitos dos devotos aguaram agora a solenidade canoniza��o, quando, finalmente, o beato se tornar� santo para os cat�licos.