Fonte da Pampulha ser� religada, mas polui��o amea�a turvar espet�culo
Ainda �s voltas com a sujeira e os efeitos da seca, que deixam a �gua verde e malcheirosa, prefeitura prepara religamento do equipamento instalado na lagoa no anivers�rio de 105 anos de BH
postado em 21/09/2019 06:00 / atualizado em 24/09/2019 11:51
Balsa derrama produto nas �guas da Lagoa da Pampulha, na tentativa de melhorar o aspecto do cart�o-postal, castigado pelos efeitos da seca e da sujeira (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Uma fonte de ornamenta��o em um lago que visto � dist�ncia merece o status de cart�o-postal, mas cujas �guas, observadas de perto, s�o o retrato da polui��o e de um desafio que Belo Horizonte n�o consegue superar. As �guas da represa da Pampulha, castigadas pela seca e pela sujeira que chega diariamente pela maioria de seus afluentes, ter�o de volta um equipamento que completava a paisagem e que h� tempos estava inativo: a fonte ornamental instalada pr�ximo � barragem passar� por revitaliza��o, e deve voltar a jorrar em tr�s meses, a um custo estimado em R$ 162 mil.
Mas a ordem de servi�o que vai possibilitar reativar a atra��o chega em um momento em que moradores e turistas voltam a se deparar com �gua densa e verde, a prolifera��o intensa de algas, o ac�mulo de lixo e o mau cheiro, que se intensificam em �poca de escassez de chuvas. Mesmo com o processo de tratamento da �gua, o reservat�rio ainda se encontra em um n�vel de contamina��o que possibilita apenas contatos indiretos e espor�dicos, sob risco de prejudicar a sa�de humana.
A fonte ornamental foi um presente dado � popula��o em 2002, quando a capital mineira completou 105 anos. O equipamento est� localizado a aproximadamente 100 metros do vertedouro, na conflu�ncia das avenidas Doutor Otac�lio Negr�o de Lima, e Pedro I. O projeto � dos arquitetos Gustavo Penna, �lvaro Hardy e Mariza Machado. O equipamento funciona com quatro fortes jatos de �gua instalados sobre uma plataforma flutuante. Os seus bicos aspersores s�o equipados com dispositivos de regulagem que permitem ajustes do �ngulo de proje��o de cada jato, assim como a dire��o e a altura. Por�m, a beleza produzida no ponto tur�stico n�o � vista h� algum tempo. De acordo com a Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), uma pane no transformador fez com que o equipamento parasse de funcionar. A data da paralisa��o n�o foi informada pela pasta. A fonte ter� que passar por manuten��o geral. Para isso, uma licita��o foi publicada no Di�rio Oficial do Munic�pio (DOM) neste m�s. A ordem de servi�o foi assinada nesta semana.
A empresa escolhida para os trabalhos dever� realizar os servi�os de reparos dos motores ,do transformador, do quadro de prote��o e comando el�trico, al�m dos bicos aspersores de jato d'�gua. "O prazo para presta��o dos servi�os � de 90 dias corridos contados a partir da data de emiss�o da primeira ordem de servi�o e o custo estimado � de aproximadamente R$ 162 mil", informou a Sudecap.
Hoje desligado, o equipamento da fonte inclui quatro fortes jatos de �gua instalados sobre uma plataforma flutuante (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
POLUI��O Enquanto a fonte ornamental n�o volta a embelezar ainda mais a Lagoa da Pampulha, a paisagem no reservat�rio, patrim�nio cultural da humanidade, n�o � das melhores. A polui��o no espelho d'�gua est� vis�vel mesmo com os esfor�os da Prefeitura de Belo Horizonte para a limpeza. Quem passa diariamente pr�ximo � lagoa se depara com �gua esverdeada. Nas margens, a sujeira se acumula. O videomaker Gabriel Lucas, de 21 anos, ficou t�o chocado com a sujeira da �gua que resolveu parar para perguntar o que estava acontecendo � empresa que realizava a limpeza. “Moro aqui na regi�o, no Bairro Ouro Preto, e passo pela orla sempre. H� tr�s meses n�o estava assim. Fico muito incomodado. Preocupo-me muito com a quest�o ambiental”, afirmou. Ele ressaltou que o tom esverdeado e mau cheiro s�o provenientes da prolifera��o das cianobact�rias. “Elas cobrem a �gua e o sol n�o consegue penetrar. Ent�o, tudo que est� embaixo morre”, disse.
Morador do Bairro Castelo, o vendedor Erik Brito, de 45 anos, passeava pela orla na tarde de ontem e lamentava que a sujeira tenha tomado conta do cart�o-postal. “Tudo � muito lento. A m�quina do Estado est� sucateada. A associa��o de moradores faz o poss�vel para defender a lagoa, mas o cronograma n�o � cumprido. Por ser um cart�o-postal, local importante para o turismo, deveria ser mais �gil”, pontua.
METAS A Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smobi) afirma que o objetivo das a��es realizadas na Pampulha � manter o enquadramento da �gua como Classe 3, que permite contatos indiretos com a �gua. Os remediadores aplicados na lagoa aumentaram a capacidade de autodepura��o da �gua, de forma que ela responde em curto prazo �s agress�es provocadas pelos poluentes.
Fonte foi inaugurada em 2002 (foto: Euler J�nior/EM/D.A Press - 11/12/02)
O �ltimo levantamento feito na �gua da lagoa apontou que quatro dos cinco indicadores apresentaram valores inferiores aos limites estabelecidos para Classe 3. S�o eles: clorofila a, cianobact�rias, coliformes termotolerantes e Demanda Bioqu�mica de Oxig�nio (DBO). “J� a concentra��o de f�sforo total ficou um pouco acima da meta estabelecida, apesar de ter sido viabilizada uma redu��o aos n�veis de 50% da condi��o inicial”, afirmou a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smobi). “Em virtude da concomit�ncia com a execu��o dos servi�os de desassoreamento da lagoa, que implicam o revolvimento do lodo depositado no fundo do reservat�rio ao longo de anos, est�o sendo observadas concentra��es de f�sforo nas �guas da Lagoa at� seis vezes maiores do que aquelas observadas sem a execu��o da dragagem. Ainda assim, a condi��o ambiental observada atualmente na Lagoa da Pampulha � bastante satisfat�ria, sem sinais de eutrofiza��o”, completou a pasta.
O tratamento � feito por dois remediadores. Segundo a Smobi, um deles tem a fun��o de degradar o excesso de mat�ria org�nica (Demanda Bioqu�mica de Oxig�nio – DBO) e reduzir a presen�a de coliformes fecais (E. coli). O outro � capaz de promover a redu��o do f�sforo e controlar a flora��o de algas. O investimento no servi�o � de R$ 16 milh�es. O contrato vigente foi iniciado em outubro do ano passado e tem dura��o de 12 meses.
Os servi�os do tratamento de �gua da lagoa foram iniciados em mar�o de 2016. O contrato se encerrou no in�cio de 2018. Por sete meses, os trabalhos deixaram de ser realizados no manancial, durante os tr�mites para uma nova licita��o. A retomada ocorreu em outubro de 2018.
Erik Brito, morador da regi�o, reclama de lentid�o na ado��o de solu��es para o manancial (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
LIMPEZA Em nota, a Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informou que faz, diariamente, a limpeza do espelho d’�gua da Lagoa da Pampulha, com a utiliza��o de dois barcos e uma balsa. Cerca de 30 homens trabalham todos os dias nessa manuten��o. O volume de lixo flutuante recolhido diariamente �, em m�dia, de cinco toneladas durante o per�odo de estiagem e 10 toneladas no per�odo chuvoso. Desde setembro de 2018 tamb�m est�o em execu��o os servi�os de desassoreamento e de tratamento da qualidade das �guas da Lagoa da Pampulha, para a remo��o de �reas emersas, inibi��o do processo de eutrofiza��o (excesso de algas e maus odores) e a promo��o do reequil�brio do ambiente aqu�tico.
“O longo per�odo de estiagem, associado �s altas temperaturas e � baixa dilui��o dos poluentes e nutrientes, propicia uma piora no aspecto das �guas. A tend�ncia � que passadas as primeiras chuvas, rapidamente o espelho d'�gua volte a apresentar melhores condi��es, pois as a��es de tratamento que v�m sendo realizadas pela Prefeitura tornaram a Lagoa da Pampulha muito mais resiliente, respondendo em curto prazo �s agress�es”, informou a Sudecap.
O PESO DO LIXO
Res�duos recolhidos na orla e na Lagoa da Pampulha
» Lixo fluente: cinco toneladas durante o per�odo de estiagem e 10 toneladas em �poca de chuva
» Varri��o: 2 toneladas recolhidas nas tr�s varri��es semanais
» Carca�a de coco: 1 tonelada por dia de segunda a domingo
» Coleta domiciliar: 3,5 toneladas/dia, tr�s vezes por semana
» Capina: 20 toneladas de res�duos em toda a orla a cada 2 meses
» Deposi��es clandestinas: 6 toneladas por semana