
O clima � de preocupa��o – e de muitas incertezas – entre gestores e defensores do patrim�nio cultural de Minas, estado que det�m o maior n�mero (60%) de bens tombados pela Uni�o e tamb�m de s�tios reconhecidos como patrim�nio da humanidade pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco). O ministro da Cidadania, Osmar Terra, exonerou, conforme portaria assinada na quarta-feira, a superintendente do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) em Minas, C�lia Corsino, que ocupava o cargo havia quatro anos. Para seu lugar foi nomeado Jeyson Dias Cabral da Silva, ex-assessor do deputado federal Charles Thomacelli Evangelista, do PSL (partido do presidente Jair Bolsonaro), quando esse era vereador em Juiz de Fora, na Zona da Mata.
A preocupa��o com a integridade e seguran�a do patrim�nio cultural de Minas, e o temor de que o cargo fosse uma indica��o pol�tica e n�o t�cnica, mobilizou prefeitos de tr�s munic�pios mineiros com bens reconhecidos como patrim�nio da humanidade t�o logo Bolsonaro assumiu a presid�ncia. Em carta dirigida ao ministro Osmar Terra (a autarquia federal est� agora vinculada � pasta da Cidadania), os chefes do Executivo de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, Juscelino Roque, de Ouro Preto, J�lio Pimenta, e Congonhas, Jos� de Freitas (Zelinho) Cordeiro, na Regi�o Central, pediram que C�lia Corsino fosse mantida, principalmente pela compet�ncia e tamb�m em enfrentar momentos de crise econ�mica com a forma��o de parcerias e boa gest�o.
Parceria e gest�o
“Estamos perdendo uma grande gestora e uma parceira dedicada para resolver as urg�ncias do patrim�nio de Minas”, lamentou o prefeito de Congonhas, onde est� o Santu�rio Bas�lica do Bom Jesus de Matosinhos, com destaque para os 12 profetas em pedra-sab�o, no adro da igreja do s�culo 18, e as pe�as da Paix�o de Cristo esculpidos por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814).


Para Zelinho Cordeiro, o fundamental na indica��o est� na qualifica��o do superintendente. “Trata-se de um cargo que exige compet�ncia t�cnica, o que foi demonstrado nesses quatro anos por C�lia Corsino”, disse o prefeito. Funcion�ria de carreira do Iphan por 39 anos, dos quais quatro � frente da autarquia em Minas, a ex-superintendente � muse�loga de forma��o, tendo trabalhado no Museu Nacional, do Rio de Janeiro (RJ), destru�do por um inc�ndio h� pouco mais de um ano.
H� um m�s, diante da especula��o de que o cargo seria ocupado mediante “indica��o pol�tica”, os prefeitos voltaram a enviar cartas ao ministro – o que foi feito tamb�m pelo presidente da Associa��o das Cidades Hist�ricas de Minas Gerais, que congrega 30 munic�pios, Jos� Fernando de Oliveira, prefeito de Concei��o do Mato Dentro, na Regi�o Central. Ao saber da exonera��o, Jos� Fernando lembrou que � preciso “cuidado” ao nomear uma pessoa � superintend�ncia em Minas. “Estamos falando do estado que det�m o maior n�mero de bens tombados do pa�s. C�lia Corsino tem uma hist�ria na institui��o, por isso estou vendo com muita apreens�o este momento”, disse o prefeito de Concei��o do Mato Dentro, que tem dois bens tombados, entre eles a rec�m-restaurada Matriz de Nossa Senhora da Concei��o.
Atualmente consultor na �rea cultural, o ex-secret�rio estadual de Cultura de Minas Angelo Oswaldo ficou igualmente preocupado, j� que v� um cargo � frente do Iphan em Minas como “miss�o”. Ele lembra que a autarquia federal, com mais de 80 anos e que teve como primeiro superintendente um mineiro de Belo Horizonte, Rodrigo Melo Franco (1898-1969) tem import�ncia por “fazer pol�tica de estado”, exigindo, assim, muita qualifica��o para o exerc�cio da “miss�o” e o cumprimento da Constitui��o. “O que est� havendo � um desmanche do Iphan”, disse Angelo Oswaldo, que foi prefeito de Ouro Preto e presidente de institui��es federais, como o pr�prio Iphan (de 1985 a 1987).
Especializada
C�lia Corsino � muse�loga, com especializa��o em administra��o de projetos culturais pela Funda��o Get�lio Vargas e metodologia do ensino superior pelas Faculdades Est�cio de S�. Desde 1973, trabalha na �rea de patrim�nio e em museus, tendo sido chefe da Se��o de Difus�o Cultural do Museu Hist�rico Nacional e do Museu de Folclore Edison Carneiro da Funarte (1978-1982), assessora do Programa Nacional de Museus da Funda��o Nacional Pr�-Mem�ria, onde coordenou o programa de revitaliza��o de Pequenas Unidades Museol�gicas e do Sistema Nacional de Museus da Secretaria do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (1986- 1989), al�m de coordenadora do Programa de Museus da Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal (1989-1990) e desempenhar outras fun��es. De 2002 a 2011, coordenou os trabalhos de implanta��o da �rea de museologia do Museu de Artes e Of�cio, em Belo Horizonte, trabalhou no acervo documental do Museu Casa de Cora Coralina, em Goi�s, no Museu de Congonhas, entre outros. Desde 2015, C�lia � a superintendente do Iphan em Minas.
Na �rea acad�mica foi professora titular da cadeira de Administra��o de Museus na Faculdade de Museologia e Arqueologia da Universidade Est�cio de S�, no Rio de Janeiro, e professora-assistente da cadeira de Ci�ncias Auxiliares da Hist�ria (Numism�tica, Sigilografia, Filatelia e Her�ldica) da mesma institui��o. Participou do planejamento e do corpo docente de cursos b�sicos e oficinas de museologia em diversos estados do pa�s e coordenou, pela Unesco, cursos a dist�ncia de salvaguarda de patrim�nio imaterial e gest�o de museus patrim�nio. Atualmente � professora convidada do MBA de Gest�o de Museus da Universidade C�ndido Mendes.
Reabertura
A exonera��o de C�lia Corsino ocorre a uma semana da reabertura da Igreja S�o Francisco de Assis, a conhecida Igrejinha da Pampulha, da Arquidiocese de BH, cuja obra de restauro teve recursos do PAC Cidades Hist�ricos (R$ 1,1 milh�o) do governo federal e fiscaliza��o do corpo t�cnico do Iphan no estado. Admiradores do trabalho da superintendente lembram do seu empenho para contornar problemas durante as obras. Na semana passada, ao lado da presidente o Iphan, K�tia Bog�a, a muse�loga participou da inaugura��o do Teatro de Sabar�, na Grande BH, primeira obra do PAC conclu�da na cidade. Em Minas, s�o 93 obras (veja quadro), com recursos do PAC, com recursos de R$ 76 milh�es contratados e R$ 52 milh�es j� investidos.
A reportagem do Estado de Minas entrou em contato com a o gabinete do deputado federal Charles Evangelista, em Bras�lia (DF), mas foi informada que o parlamentar se encontra em viagem ao exterior – o telefone celular tamb�m n�o atendeu. Da mesma forma, em dois telefones, igualmente sem sucesso, foi procurado o futuro superintendente do Iphan em Minas, Jeyson Dias Cabral da Silva. Em nota, o Minist�rio da Cidadania informou que n�o vai se pronunciar.