postado em 11/10/2019 04:00 / atualizado em 11/10/2019 08:19
Diego Assaf, estudante, que almeja vaga em medicina: "A prepara��o sempre passou por esse olhar dos problemas sociais do Brasil (%u2026). Agora, fico com receio de tratar esses temas e, por isso, prefiro ser mais neutro e n�o adotar postura nem vocabul�rios pol�micos nos textos (de reda��o)" (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press)
Uma prova “sem partido”. Ser� esse o mote da edi��o 2019 do Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem), cuja aplica��o foi confirmada para os dois primeiros domingos do m�s que vem. Enquanto em Belo Horizonte os �nimos se inflamavam na C�mara Municipal por causa da vota��o do projeto de lei que institui a “escola sem partido”, na rede municipal de ensino, permeada pela pol�mica da anula��o de um teste com conte�dos desaprovados por pais de tradicional col�gio particular, em Bras�lia, o ministro da Educa��o, Abraham Weintraub, sacramentava a promessa feita pelo atual governo antes mesmo de tomar posse: a de um Enem sem quest�es “ideol�gicas”. No pr�ximo ano, a novidade ser� o in�cio do Enem digital.
A controv�rsia em torno do Enem come�ou ainda na edi��o passada, quando a fam�lia Bolsonaro foi para as redes sociais criticar quest�o que tratava de dialetos e, na ocasi�o, abordava o “pajub�”, conjunto de express�es usadas por gays e travestis. No in�cio do ano, o ent�o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An�sio Teixeira (Inep), Marcus Vin�cius Rodrigues, que j� n�o est� mais no cargo, afirmou que poderia passar um pente fino na prova antes de ela ser aplicada. Ontem, as especula��es se confirmaram.
O ministro disse que pediu quest�es que medissem “a capacidade de ler e compreender texto”. O atual presidente do Inep, Alexandre Ribeiro Lopes, reiterou que a prova deste ano ser� focada em quest�es que avaliem objetivamente o aprendizado dos estudantes. “A prova foi produzida da mesma forma dos anos anteriores. O que houve foi uma orienta��o para que as quest�es focassem na aprendizagem”, disse. O Inep criou, no in�cio deste ano, um grupo respons�vel por "identificar abordagens controversas com teor ofensivo a segmentos e grupos sociais, s�mbolos, tradi��es e costumes nacionais" e, com base nessa an�lise, recomendar que tais itens n�o fossem usados na montagem do Enem 2019. Lopes afirmou que nem ele nem o ministro tiveram acesso �s provas.
Para o diretor e professor do pr�-vestibular Elite Savassi, na Regi�o Centro-Sul de BH, Judson Bernardino, a nova postura indica uma guinada e uma mudan�a estrutural da prova. “A �rea de exatas – matem�tica e ci�ncias da natureza – j� vinha demonstrando inclina��o para ser mais t�cnica nos �ltimos tr�s anos. Nesta edi��o, a prova de
humanas tende tamb�m a ser mais t�cnica, o que historicamente nunca ocorreu”, afirma. Ele acredita que a consequ�ncia � um impacto grande na teoria de resposta ao item (TRI).
No trabalho de planejamento e estrat�gia que conduz com os alunos ao longo do ano, Judson Bernardino conta que insiste com os estudantes que muitas situa��es est�o fora do controle de quem far� a prova. “Vai mudar a banca, a prova, o presidente do Inep, como v�rias vezes j� ocorreu? N�o h� como interferir nisso, logo, os estudantes t�m de estar preparados para fazer o teste independentemente do cen�rio”.
Aluno do Q.I Pr�-Vestibular, tamb�m na Regi�o Centro-Sul da capital, Diego Assaf, de 21 anos, adotou a postura mais neutra diante do quandro, at� ent�o, de incertezas. “A prepara��o sempre passou por esse olhar dos problemas sociais do Brasil, que era cobrado no Enem. Agora, fico com receio de tratar esses temas e, por isso, prefiro ser mais neutro e n�o adotar postura nem vocabul�rios pol�micos nos textos (de reda��o)”, relata. “O maior exemplo � a literatura, que sempre abordou quest�es muito sociais e, agora, nem tanto”, afirma o estudante que est� de olho numa vaga de medicina. Segundo ele, sa�de, saneamento b�sico e tecnologia t�m sido temas muito abordados em sala de aula.
O ministro Weintraub diz que pediu quest�es que medissem %u201Ca capacidade de ler e compreender texto%u201D (foto: Jos� Cruz/Ag�ncia Brasil)
Ao todo, foram impressss 10,3 milh�es de provas. No in�cio do ano, a empresa detentora do contrato para a impress�o do Enem decretou fal�ncia, o que despertou especula��es sobre um poss�vel adiamento do exame. O Tribunal de Contas da Uni�o (TCU) autorizou, em abril, a contrata��o de nova gr�fica para que a prova pudesse ser impressa a tempo. Foi escolhida a que havia ficado em segundo lugar no processo licitat�rio feito em 2016. Para 2020, haver� um novo certame. O Inep informou que o processo para a elabora��o de novo edital est� em andamento.
DISTRIBUI��O A primeira remessa de provas, com 408 mil cadernos, saiu, no dia 3, para os locais de mais dif�cil acesso, nos estados do Par� e da Bahia. Outros malotes seguiram para Rond�nia, Piau�, Pernambuco e Mato Grosso. Os materiais estavam sob a guarda do 4º Batalh�o de Infantaria Leve do Ex�rcito Brasileiro, em Osasco (SP). O Enem ser� aplicado nos dias 3 e 10 de novembro, em 1.727 munic�pios brasileiros. Esta edi��o tem 5,1 milh�es de inscritos. Em Minas Gerais, houve 534.648 inscri��es. O estado contar� com 972 locais de prova em 188 munic�pios.
DIGITAL O governo aposta no Enem digital, que come�ar� a ser testado em 2020, para redu��o dos custos de aplica��o da prova. Este ano ser� o �ltimo de aplica��o do Enem exclusivamente impresso. De acordo com Lopes, o Enem digital poder� reduzir o n�mero de estudantes que se inscrevem e faltam � prova. Segundo ele, muitas das absten��es s�o de estudantes que fazem a prova em locais distantes de onde moram.
