Na Serra do Cip�, chamas consumiram 13,6% da �rea do parque nacional (foto: ICMBio/Divulga��o)
Castigada pela estiagem, primavera tem baixa umidade do ar e prolifera��o de queimadas. Ano j� soma 7.512 focos de calor em Minas Gerais, que atravessa um in�cio de primavera em chamas, com �ndices de umidade relativa do ar compar�veis aos de um deserto, mais que o dobro de focos de inc�ndio em rela��o ao ano passado e a fuligem dando lugar � biodiversidade em um de seus para�sos naturais do estado, a Serra do Cip�. De acordo com Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os focos ativos de inc�ndio no estado at� o domingo j� superaram em 62% os registrados nos 12 meses do ano passado. Os sat�lites detectaram 7.512 pontos de queimada at� 13 de outubro, contra 4.627 em 2018. Ontem, a capital mineira registrou o dia mais seco do ano, com 12% de umidade relativa do ar, que colocou a cidade em estado de emerg�ncia segundo os par�metros da Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS).
Em um dos principais santu�rios de vida silvestre do estado, em quest�o de tr�s dias, o fogo consumiu 13,6% do Parque Nacional da Serra do Cip� (Parna Serra do Cip�), o que equivale a 4.500 hectares. Isso corresponde a cerca de 4,2 mil campos de futebol. Mas a destrui��o, medida por imagens de aeronave, atingiu aquilo que n�o pode ser medido em n�meros: a riqueza da biodiversidade. O inc�ndio, extinto no domingo, devastou esp�cies da flora e da fauna, em especial anf�bios e aves.
Segundo o gestor do parque, Leandro Chagas, a queimada atingiu principalmente os campos rupestres, vegeta��o rasteira que motivou a cria��o da reserva ecol�gica. “S�o os ambientes mais sens�veis do parque, e com alto �ndice de endemismo, esp�cies que s� ocorrem na regi�o. O dano ambiental foi significativo”, afirma Chagas. A mancha cinza se concentra na �rea alta do parque, em local conhecido como Alto Pal�cio, alastrando-se pelo rumo da travessia at� a Serra dos Alves, abrangendo as �reas do Travess�o e da Cachoeira Congonhas.
A equipe de brigadistas da unidade suspeita que a causa tenha sido queimada para renova��o de pastagens. “Sabemos a causa, mas n�o a autoria. O fogo come�ou fora do parque. � importante dizer que o uso de queimada em pastagens � ilegal neste per�odo do ano. Em raz�o disso, os produtores rurais acabam fazendo queimadas de forma ilegal, sem medidas de preven��o e ao entardecer ou � noite, o que dificulta o combate”, ressalta o gestor.
M�o do homem
Seja qual for a circunst�ncia, a a��o humana � a principal causa dos inc�ndios, de acordo com o coordenador do Laborat�rio de Gest�o de Servi�os Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Raoni Raj�o. “Praticamente todo fogo come�a com a a��o humana, acidental ou intencional. O que a natureza pode influenciar � facilitar a instala��o do fogo. O estado de Minas Gerais est� muito seco este ano. No ano passado choveu mais”, explica.
(foto: Arte EM)
Ele aponta ainda que levantamento feito pelo laborat�rio indicou que 75% dos focos de calor no estado ficam em �reas de cadastro ambiental rural. “O que est� queimando n�o s�o s� os parques, mas principalmente as �reas privadas. O propriet�rio tem que impedir que o fogo se alastre. Sabemos que a pr�tica de forma��o de pastagem pelo fogo � muito comum”, diz.
Clima des�rtico
Enquanto nas �reas verdes a secura do tempo favorece a prolifera��o de queimadas, na cidade ela faz mal � sa�de. Belo Horizonte teve um dia semelhante ao de desertos ontem. A temperatura alta, acima de 32°C, e a baixa umidade do ar provocaram uma sensa��o de intenso calor durante a tarde. Os �ndices de umidade atingiram n�veis preocupantes: 12%, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Esse valor, considerado estado de emerg�ncia pela OMS, foi o menor registrado no ano. Nos desertos, os valores ficam em torno de 10%. A Defesa Civil Municipal emitiu alerta v�lido at� as 18h de segunda-feira.
O �ndice baixo de umidade foi registrado na esta��o meteorol�gica localizada no Bairro Santo Agostinho, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte. O menor valor no mesmo local havia sido marcado em 13 e 18 de setembro, com 18%. Na Pampulha, a umidade mais baixa tamb�m ocorreu ontem, com taxa de 14%. O mesmo percentual j� havia sido registrado em 13 e 18 de setembro.
A OMS considera �ndices entre 21% e 30% como estado de aten��o; entre 12% e 20%, de alerta, e abaixo de 12%, de emerg�ncia. O �ndice considerado ideal � de 60%. “Estamos com a atua��o de uma massa de ar seco e quente. O c�u est� praticamente aberto. Na primavera tamb�m temos uma alta incid�ncia de radia��o solar na superf�cie, levando � evapora��o de umidade. E, como n�o chove h� muito tempo, temos esses baixos �ndices”, explicou a meteorologista Anete Fernandes, do Inmet.
A baixa umidade relativa do ar tamb�m atingiu outras cidades mineiras. Em S�o Rom�o e Pirapora, na Regi�o Norte de Minas, o �ndice ficou em 12%. O tempo seco deve continuar em Belo Horizonte e grande parte de Minas Gerais at� a pr�xima sexta-feira. No sul do Estado, pode haver chuva isolada hoje. Em BH, a tend�ncia � de precipita��es somente no domingo.
Fogo e alerta em Confins
O inc�ndio em uma mata pr�xima ao Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na regi�o metropolitana, trouxe diverg�ncia entre Corpo de Bombeiros e a BH Airport, concession�ria do terminal, sobre a seguran�a aerovi�ria. Segundo a corpora��o, o fogo trazia riscos � rede de energia el�trica e a fuma�a poderia dificultar pousos e decolagens de avi�es. J� a administradora informou que n�o havia risco � opera��o do aeroporto.