postado em 17/10/2019 06:00 / atualizado em 17/10/2019 07:39
�lvaro Eduardo Eiras, um dos s�cios-fundadores da Ecovec: "� uma tecnologia que vai para o mundo, ajudar a salvar vidas" (foto: T�lio Santos/EM/DA Press)
Em um cen�rio de crise no ensino e na pesquisa, a aquisi��o por um grupo multinacional de uma empresa que nasceu de pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) chama aten��o para o valor da produ��o cient�fica e tecnol�gica da institui��o de ensino. O neg�cio, concretizado a partir do interesse do conglomerado presente em 86 pa�ses, l�der mundial em controle de pragas, ocorre em um momento em que o ensino p�blico superior sofre com cortes or�ament�rios e de bolsas de inicia��o cient�fica, mestrado e doutorado que amea�am a continuidade dos trabalhos em laborat�rios. Nos �ltimos 15 anos, a UFMG firmou mais de 100 contratos de licenciamento de tecnologias, produtos e conte�do intelectual, conforme a Coordenadoria de Transfer�ncia e Inova��o Tecnol�gica (CTIT) da institui��o, que ainda luta pelo desbloqueio de R$ 34,4 milh�es contingenciados pelo governo federal.
Depois de uma negocia��o que come�ou em 2012, o grupo Multinacional Rentokil concluiu a aquisi��o da Ecovec, que, entre suas patentes, conta com a armadilha para mosquito Aedes aegypti e sistema de monitoramento inteligente de epidemias. Os detalhes do neg�cio s�o mantidos em sigilo, mas um percentual da comercializa��o da tecnologia pelo conglomerado ser� direcionado � Federal mineira.
“O conhecimento gera um ganho exponencial”, diz o diretor da CTIT da universidade, Gilberto Medeiros, que considera essa compra como o “maior exemplo de sucesso que se pode ter na investiga��o cient�fica”. Ele afirma ser uma “ilus�o” achar que a universidade se tornar� autossustent�vel por meio dos royalties de patentes (sujeitos a diferentes percentuais), mas que o ganho � para toda sociedade. “A estimativa � que cada R$ 1 investido na universidade traga de R$ 20 a R$ 30 de retorno em impostos”, ressalta.
Nascida em 2002, a partir de pesquisa do Instituto de Ci�ncias Biol�gicas (UCB) da UFMG, a Ecovec criou as chamadas Mosquitraps, armadilhas que atraem pela cor e cheiro o Aedes aegypti, mosquito transmissor dos v�rus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela e de mais 19 v�rus no mundo (veja arte). Ela � usada como parte do monitoramento inteligente de endemias, a partir da qual se tem a informa��o precisa dos focos e de onde est�o os mosquitos infectados, tornando as a��es de combate mais efetivas.
(foto: Arte EM)
“Essa tecnologia � muito valiosa. Temos informa��es precoces e podemos adotar a��es localizadas, contaminando menos o ambiente. A quest�o ambiental e do vetor (Aedes aegypti) est� chamando aten��o internacionalmente. N�o existe nenhuma outra empresa que tenha desenvolvido algo com essa efici�ncia. J� temos estudos para levar a tecnologia para a �sia, a Am�rica do Norte e a parte mediterr�nea da Europa”, afirma o diretor t�cnico da Rentokil Brasil, o bi�logo Carlos Pe�anha, que mant�m os n�meros da opera��o de compra em sigilo, por quest�es contratuais.
A Ecovec n�o � um caso isolado. A mais conhecida compra de tecnologia da UFMG ocorreu em 2005, quando o Google adquiriu a Akwan Information Technologies, criada por um grupo de professores do Departamento de Ci�ncia da Computa��o. Eles desenvolveram um sistema de buscas na internet que despertou o interesse da gigante. No exterior, um dos casos mais c�lebres de royalties pagos a institui��es de ensino � o da Universidade da Fl�rida, cujos pesquisadores desenvolveram, em 1965, o Gatorade, bebida isot�nica, pensando na hidrata��o dos atletas do time de futebol americano. A marca pertence atualmente � multinacional Pepsico.
Em meio � crise financeira das universidades p�blicas, que tiveram or�amento contingenciado pelo Minist�rio da Educa��o (MEC), o diretor da Coordenadoria de Transfer�ncia e Inova��o Tecnol�gica (CTIT) da UFMG destaca que h� dificuldade em fazer com que os recursos das pesquisas representem renda extra para a universidade. “Esses recursos est�o sujeitos ao limite do teto or�ament�rio”, afirma.
Vidas salvas
Professor do ICB e um dos s�cios-fundadores da Ecovec, �lvaro Eduardo Eiras ressalta que o esfor�o da pesquisa sempre foi levar inova��es desenvolvidas em laborat�rios para fora da universidade. “� uma tecnologia que vai para o mundo, que vai ajudar a salvar vidas, que vai reduzir o n�mero de casos de doen�as”, comemora. J� participaram da pesquisa 10 estudantes de doutorado, 12 de mestrado e mais de 50 de inicia��o cient�fica.
Ele refor�a que, em um projeto desenvolvido para o governo do estado em 2011 e 2012, a tecnologia conseguiu reduzir dois ter�os dos casos de transmiss�o da dengue, com custo m�dio de R$ 1 por habitante ao ano. “A cada R$ 1 investido, houve um retorno de R$ 6 em economia para o estado nos gastos com as doen�as transmitidas pelo Aedes aegypti”, destaca.
Questionada sobre a raz�o de n�o ter adotado a tecnologia, a Secretaria de Estado de Sa�de de Minas Gerais (SES-MG) informou que “com base no estudo realizado pelo Minist�rio da Sa�de para avalia��o de armadilhas para a vigil�ncia epidemiol�gica de Aedes aegypti, optou por seguir as orienta��es que demostravam que a ovitrampa foi a armadilha de melhor desempenho e menor custo”. Segundo o professor, a tecnologia mencionada ultrapassada e n�o permite a an�lise dos v�rus.