postado em 24/10/2019 06:00 / atualizado em 24/10/2019 08:00
O motorista �tila Marlon Oliveira, h� tr�s anos no mercado de transporte privado, conta que usou a nova plataforma apenas em casos muito espec�ficos, e 's� para salvar a gasolina' (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
As regras para regulamentar os aplicativos de transporte na capital mineira nem foram publicadas pela prefeitura de Belo Horizonte e o mercado inaugurado por empresas como Uber, 99 e Cabify assiste a mudan�as em seu esquema de funcionamento e � chegada de mais um concorrente que pode abalar a l�gica do sistema. Est� em teste em BH novo app em que � o passageiro quem define o valor da corrida. O InDriver funciona como um leil�o: o usu�rio faz a oferta de tarifa (veja quadro) e o motorista decide se aceita ou faz uma contraproposta. Condutores privados e taxistas temem que plataforma leve � baixa dos pre�os e ao sucateamento do setor. A empresa respons�vel argumenta que menor taxa de administra��o em rela��o aos concorrentes permite valor mais barato. A reportagem do Estado de Minas embarcou no aplicativo e identificou uma falha de seguran�a, com a exposi��o dos dados de usu�rios.
De origem russa, o novo aplicativo, chamado InDriver, j� presente em 300 cidades de 26 pa�ses, desembarcou no Brasil em novembro e est� operando em 24 munic�pios. Na capital mineira, entrou em fase de testes neste m�s, com cerca de 5 mil motoristas cadastrados. � o passageiro quem oferece quanto pagar pelo trajeto. Depois que o cliente faz o lance, os motoristas analisam se aceitam atend�-lo ou n�o. O condutor tem a op��o de apresentar outro valor, definido pela pr�pria plataforma, que aceita somente pagamentos em dinheiro ou cart�o de d�bito.
A reportagem testou o novo aplicativo e conseguiu fazer uma viagem de dois quil�metros, na Regi�o Centro-Sul de BH, pelo m�nimo admitido pela plataforma, R$ 5, bem pr�ximo do valor da tarifa de �nibus, de R$ 4,50. N�o h� uma regularidade no quesito pre�o e nem sempre a viagem sai mais barata do que pelos demais aplicativos. Os valores dependem, al�m da negocia��o entre passageiro e motorista, da m�dia de pre�o cobrada por outras plataformas.
Numa outra viagem com a mesma dist�ncia, o InDriver s� admitiu ofertas a partir de R$ 7, informando que outros aplicativos estavam cobrando, em m�dia, R$ 8. Na consulta a outras plataformas feita pela reportagem, por�m, o mesmo trecho poderia ser feito por R$ 6,15. Mais tarde, a equipe do EM voltou a oferecer R$ 5 por uma corrida de dois quil�metros na Regi�o Centro-Sul da capital e obteve a contraproposta de R$ 6,50, embora inicialmente o aplicativo tenha sugerido pagar R$ 10 pelo trecho. � noite, houve bastante dificuldade de localizar motoristas, mesmo com o aumento dos valores cobrados.
“Vale a pena receber R$ 5, porque em outro aplicativo h� cobran�a de taxas e eu acabo ganhando os mesmos R$ 5, ou menos”, afirma o motorista Bruno Fernandes, que h� dois anos trocou o volante dos �nibus pelos aplicativos. Mas ele teme uma desvaloriza��o do mercado. “O que as pessoas querem � pagar mais barato que o Uber. Vamos ver o que vai acontecer depois que o InDriver come�ar a cobrar taxa dos motoristas”, diz.
(foto: Arte EM)
Para o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, o aplicativo sugeriu, �s 15h de ontem, o valor de R$ 60 como pagamento para a corrida, partindo do Bairro Funcion�rios, na Regi�o Centro-Sul. A equipe do EM inseriu o valor de R$ 50 e sete motoristas aceitaram a proposta. Em outros aplicativos de transporte, o valor variava de R$ 64 a R$ 115, a depender do modelo do carro.
“Acho interessante essa op��o de negocia��o, mas os usu�rios iniciam a corrida com o pre�o muito baixo”, afirma Fernando Perlizzi sobre a l�gica do InDriver, que admite o cadastramento de motoristas privados e at� de t�xis. Perlizzi disse que n�o aceita viagens t�o baratas, mas tem uma exce��o. “Eu n�o fa�o Confins a R$ 60, a n�o ser que daqui a algumas horas tiver que buscar um cliente no aeroporto, para n�o ir de carro vazio”, diz.
Em um grupo de WhatsApp formado por motoristas de aplicativo, a discuss�o levanta o debate de que a plataforma seja op��o tamb�m para pessoas que n�o trabalham profissionalmente na dire��o e que aceitem viagens baratas, como uma “carona remunerada”. “Se algu�m que mora em Confins e arruma um servi�o na Savassi de segunda a sexta consegue uma corrida dessa, que seja tr�s vezes na semana, a R$ 50, R$ 45, j� cobre a despesa do dia”, observa um dos condutores.
A diferen�a de pre�o, segundo a empresa, se justifica pela estrat�gia de atua��o, que isenta condutores da cobran�a das taxas de administra��o nos primeiros seis meses de lan�amento do aplicativo na cidade. Com isso, inicialmente, motoristas recebem integralmente o valor da corrida.
“No momento, isentamos de comiss�o a maior parte das cidades brasileiras. Depois de um tempo, come�amos a cobrar menos de 10%, em vez dos 20% a 30% dos concorrentes”, afirma o gerente de Rela��es P�blicas para a Am�rica Latina da empresa, Eduardo Abud. Ele explica que a empresa trabalha com um pre�o m�nimo, que tem como par�metro os valores cobrados pelos demais apps. “Temos uma tarifa m�nima que impede passageiros de oferecerem menos que isso, dependendo da cidade”, esclarece.
Pelo combust�vel
O motorista �tila Marlon Oliveira, de 37 anos, h� tr�s anos trabalhando no mercado de transporte privado, conta que usou duas vezes o InDriver, em casos muito espec�ficos. “Uso eventualmente, se preciso voltar para casa, para salvar a gasolina. Para mim, n�o vale a pena, porque rodo no Uber Black. Para quem roda no Uber X (vers�o mais barata) pode compensar, dependendo da proposta. Enquanto n�o houver taxa, est� interessante. Vamos ver como vai ficar”, afirma.
O receio dos taxistas � de que a nova tecnologia deteriore o mercado e comprometa a seguran�a do passageiro. “Ainda � muito recente, mas a priori n�o vemos com bons olhos esse leil�o. Porque o motorista tem que tirar a gasolina, a manuten��o do ve�culo... Quem aceita a corrida barata acaba pensando s� no momento. Temo o sucateamento, por causa do custo muito barato”, afirma o diretor administrativo do Sindicato Intermunicipal dos Condutores Aut�nomos de Minas Gerais (Sincavir), Jo�o Paulo de Castro.
Regulamenta��o
A novidade que movimenta o mercado privado de transporte chega antes mesmo da regulamenta��o do setor na capital mineira. A Lei 11.185/2019, conhecida como a Lei dos Apps, foi sancionada pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) em agosto, mas detalhes do decreto que vai definir sua aplica��o ainda n�o foram definidas.
A principal altera��o trazida pela lei que j� est� publicada � a exig�ncia de um pre�o p�blico que dever� ser pago � Prefeitura de Belo Horizonte pelas empresas que operam o servi�o. O valor ainda ser� definido em decreto. � ele tamb�m quem vai definir um dos pontos que se revelaram mais pol�micos durante a tramita��o do projeto: a idade da frota. O prefeito antecipou que admitir� ve�culos com at� sete anos na frota, estendendo a regra tamb�m para t�xis, que hoje rodam por at� cinco anos.
Para acompanhar a regulamenta��o da lei, no �ltimo dia 16 Kalil instituiu comiss�o com a participa��o de dois representantes do Poder Executivo, um representante do sindicato dos taxistas, um representante de empresa de agenciamento de corridas de t�xi e dois representantes dos motoristas de aplicativo. A BHTrans n�o informou quando as regras come�aram a valer.
Usu�rio exposto
Ao testar o aplicativo InDriver, a equipe do EM foi alertada para uma falha de seguran�a na plataforma. Depois de encerrar a viagem, o motorista continuou tendo acesso aos dados do passageiros, incluindo o n�mero de telefone. O condutor, que sabia tratar-se de uma viagem de teste para reportagem, enviou depois a seguinte mensagem: “Voc� fez uma corrida no InDriver comigo. Estava 'fu�ando' o aplicativo e consegui ter acesso ao seu telefone. Acho que o motorista n�o deveria conseguir ter esse acesso. Espero que voc� n�o se incomode de ter te mandado esta mensagem”.