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Estado de Minas TRAG�DIA QUE SE REPETE

Vistoria prec�ria eleva risco de avi�es como o que caiu no Cai�ara, dizem especialistas

Analistas sustentam que falta de pessoal restringe a fiscaliza��o da Anac em aparelhos pequenos e terminais fora do eixo comercial, como o Aeroporto Carlos Prates


postado em 24/10/2019 06:00 / atualizado em 24/10/2019 08:11

Pista do Aeroporto Carlos Prates, de onde partiu avião que caiu no Caiçara: 'Não podemos radicalizar', disse Kalil sobre pedido de fechamento(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Pista do Aeroporto Carlos Prates, de onde partiu avi�o que caiu no Cai�ara: 'N�o podemos radicalizar', disse Kalil sobre pedido de fechamento (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)


A fiscaliza��o de aeronaves e oficinas de manuten��o em aeroportos Brasil afora, tida como medida capaz de garantir as boas condi��es dos aparelhos, est� aqu�m do que deveria. Fora do eixo comercial, sem a presen�a constante da ag�ncia federal respons�vel por supervisionar a avia��o civil, o terreno se torna f�rtil para donos e operadores de avi�es de pequeno porte burlarem revis�es obrigat�rias e negligenciarem pe�as importantes para o funcionamento dos equipamentos, pondo em risco algo fundamental: a seguran�a. � o que afirmam tr�s especialistas de diferentes �reas ouvidos pelo Estado de Minas. Segundo eles, enquanto voos internacionais e dom�sticos comerciais passam pelo crivo do �rg�o oficial, as outras rotas ficam numa zona de sombra que n�o permite, muitas vezes, aferir com propriedade a qualidade das manuten��es. Ontem, o prefeito de BH, Alexandre Kalil (PSD), cobrou inspe��o mais rigorosa no Aeroporto Carlos Prates, na Regi�o Noroeste, mas avisou que n�o se pode fech�-lo.

“Tudo que � um desastre chocante. Choca o prefeito, choca o ser humano. No Anel Rodovi�rio, tivemos 40 mortos este ano. Seria uma boa ideia fechar o anel? Ent�o, s�o coisas que t�m de ser investigadas e pensadas de forma equilibrada. N�o podemos radicalizar e tomar decis�es precipitadas”, disse. Kalil mencionou que h� ind�cios de que o avi�o que decolou do Carlos Prates e caiu 21 segundos depois, no Bairro Cai�ara, na segunda-feira, estava acima do peso e em situa��o irregular, defendendo que deve haver mais fiscaliza��o. Quatro pessoas morreram e duas continuam internadas. “Dever�amos aumentar a fiscaliza��o no Aeroporto Carlos Prates, mas n�o podemos fechar aeroportos”, rebateu. Ele citou outros aer�dromos que est�o localizadas em regi�o com grande concentra��o populacional. “Ent�o, temos que fechar Congonhas, Santos Dumont, o aeroporto da Pampulha. Desde que avi�o voa, avi�o cai”, afirmou.
 
As vistorias s�o o ponto chave, na vis�o de especialistas. O major brigadeiro do ar reformado e ex-secret�rio-geral da Organiza��o da Avia��o Civil Internacional, Renato Costa Pereira, cobra pessoal, equipamento e dinheiro para a Ag�ncia Nacional de Avia��o Civil (Anac) fazer seu papel de vigil�ncia antes de o dano ocorrer. Nele, cabe verificar a situa��o de profissionais, avi�es e de todo o aparato respons�vel por fazer aeronaves levantarem voo. “As investiga��es desse acidente n�o v�o procurar quem � o respons�vel, mas o que ocorreu nesse voo que n�o era desej�vel, o que foi um erro, se 'for�aram a barra'. Os resultados sair�o num relat�rio muito cuidadoso para que o mesmo problema seja evitado em outras ocasi�es. Na cabe�a do pessoal da seguran�a, isso � suficiente para n�o haver outro acidente igual ou derivado daquele”, afirma. “A organiza��o internacional exige essa fiscaliza��o do governo brasileiro, mas apenas para voos internacionais. A norma geral em outros pa�ses � aplicar a regra tamb�m para voos dom�sticos, mas no Brasil h� esse hiato”, denuncia.

Destroços da aeronave que caiu na segunda-feira, em acidente que deixou quatro mortos. Duas vítimas continuam internadas(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press )
Destro�os da aeronave que caiu na segunda-feira, em acidente que deixou quatro mortos. Duas v�timas continuam internadas (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press )


Apesar de os regulamentos aeron�uticos explicitarem a obriga��o, falta pessoal, na opini�o de Renato Costa Pereira. “Quando a For�a A�rea era respons�vel por isso, designava militares para fazer essa fiscaliza��o. A Anac assumiu e n�o tem contingente. O Brasil era admirado no exterior pelo servi�o de preven��o de acidente aeron�utico. Dentro da Organiza��o da Avia��o Civil Internacional, era integrante do conselho dirigente. Continua, mas nossa credibilidade em rela��o a essa organiza��o e esse conselho mudou, porque o que ocorre � reportado. As provid�ncias que o pa�s toma s�o muito lentas e sem muita aplicabilidade. Quem faz a investiga��o dos acidentes faz muito bem-feito, mas, por que n�o se descobre antes pra evitar o problema?”, questiona.

Secret�rio-geral do Sindicato dos Aerovi�rios de Minas Gerais, o mec�nico de avia��o D�nis Ara�jo diz que essa � uma preocupa��o da entidade. Segundo ele, a Anac fiscaliza com rigor as empresas de avia��o comercial e, no intuito de manter a qualidade e a seguran�a, elas mesmas fazem uma autoinspe��o. Mas, nas pequenas empresas e nas aeronaves particulares, as vistorias n�o t�m a mesma pontualidade. “Al�m da extens�o territorial do pa�s, h� dezenas de milhares de aeronaves. N�o tem pessoal para tudo. Entendemos que a principal responsabilidade � do dono e do operador, uma vez que a vida deles est� em jogo”, afirma.

Somado � fiscaliza��o deficiente, h� o custo da manuten��o, cujo valor de pe�as e insumos � em d�lar, al�m de exigir m�o de obra qualificada. D�nis Ara�jo explica que toda aeronave tem cronograma de revis�es a ser cumprido – ditado pelo fabricante e homologado pela Anac. A mais b�sica delas, indicada para 50 horas de voo, pode custar, em m�dia, US$ 1 mil a US$ 1,5 mil (cerca de R$ 4,08 mil a R$ 6,1 mil). Diante do cen�rio, h� quem apele para pe�as n�o originais ou em desacordo com o preconizado pelo fabricante. “Esse n�o � um risco que possa ser descartado. Motorista de carro faz isso. N�o compra original. A diferen�a � que o carro tem o acostamento (para parar em caso de necessidade)”, adverte. Para ele, a �nica sa�da � a conscientiza��o de pilotos, operadores, donos e t�cnicos em manuten��o. “Todos deveriam seguir padr�es r�gidos, como fazem empresas comerciais, mas, infelizmente, isso pode sair do eixo.”

Auditoria


O professor M�rcio Suzano, coordenador do curso de p�s-gradua��o em engenharia de manuten��o e gest�o de ativos na Universidade Veiga de Almeida (UVA), no Rio de Janeiro, ressalta que as manuten��es programadas determinadas pelo fabricante previnem panes e evitam as revis�es corretivas – documentos mostram que a aeronave modelo SR 20 Cirrus Design, que caiu em BH, estava em dia com a inspe��o anual. Ele lembra que a Anac faz auditoria junto �s empresas para comprovar a idoneidade das manuten��es. “A Anac tem se preparado a cada ano para melhorar seu quadro de funcion�rios e tamb�m h� profissionais contratados para fazer auditorias. Ela est� presente o tempo inteiro, mas, se houvesse mais pessoal pr�prio ou especialistas credenciados, promoveria um trabalho mais pr�ximo das aeronaves de pequeno porte”, diz o professor, que � militar da reserva e respons�vel t�cnico por empresa de fiscaliza��o no aeroporto de Jacarepagu�.

De acordo com ele, uma fiscaliza��o ineficiente pode provocar ainda falhas num processo de auditoria, embora essa hip�tese seja dif�cil, dado que a manuten��o nasce com mec�nico, passa por inspetor de manuten��o, por engenheiro respons�vel pela empresa, h� o controle t�cnico de manuten��o, fiscaliza��o da documenta��o e auditoria de todos os processos.

Por meio de nota, a Anac rebateu as cr�ticas, dizendo que “todos os aeroportos passam por fiscaliza��o e s� est�o abertos ao tr�fego a�reo porque s�o regidos pelos normativos da avia��o civil, expedidos e fiscalizados pela ag�ncia”. Al�m disso, o operador aeroportu�rio � uma empresa que passa por auditorias constantes e zela pela opera��o dos aeroportos da sua rede. Pilotos do Aeroclube do Estado de Minas Gerais, localizado nas depend�ncias do Aeroporto Carlos Prates, informaram que a fiscaliza��o da Anac no local � constante.

Adeus ao piloto


Uma dor que j� dura tr�s dias, em especial para as fam�lias das v�timas do acidente com o avi�o SR 20 Cirrus Design, que explodiu ao cair na Rua Minerva, no Bairro Cai�ara, na manh� de segunda-feira. Ontem, a dor foi da fam�lia do piloto Allan Duarte de Jesus Silva, de 29 anos, que passou todo o dia no Cemit�rio Belo Vale, em Santa Luzia, onde o corpo foi sepultado no final da tarde. O pai, Deusdedith, de 62 anos, se mostrava resignado. “A morte � um designo de Deus e n�o podemos fazer nada”, dizia, mas a irm� do piloto, Aline Souza, de 35, estava inconsol�vel. Chorava o tempo todo e pouco conversava. O pai comentava com amigos do filho sobre a paix�o de Allan pela avia��o. “Desde pequeno ele brincava de avi�ozinho, de piloto. Dizia que pilotaria quando crescesse. Fez o que queria, o que desejava, o que escolheu para sua vida.”


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