Sem radares m�veis, motoristas pisam no acelerador em trechos perigosos de rodovias
Condutores abusam da velocidade em pontos que a pol�cia costumava controlar com aparelhos m�veis, suspensos em 15 de agosto. Em 10 minutos em cada estrada, EM flagra 57 'corredores' nas BRs 381 e 040
Radar usado pela reportagem registra flagrantes de alta velocidade na BR-040, pr�ximo ao viaduto da Mutuca, e no Km 30 da BR-381. As duas estradas registraram o maior n�mero de acidentes fatais em Minas (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Apenas dois meses e meio ap�s a suspens�o do uso de radares port�teis, m�veis e est�ticos nas rodovias federais, os abusos de velocidade cometidos pelos motoristas continuam a trazer perigo nas estradas mineiras. A reportagem do Estado de Minas foi �s duas rodovias mais violentas do estado, as BRs 040 e 381, com 78 e 65 mortes, cada uma, para mostrar como a imprud�ncia segue sem o monitoramento. Em pontos onde tradicionalmente a Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) costumava postar os aparelhos de registro de alta velocidade, condutores pisavam fundo, alguns ultrapassando em mais de 60% o limite estabelecido por legisla��o. Desde o dia 15 de agosto, a PRF suspendeu a utiliza��o dos aparelhos de medi��o ap�s determina��o presidencial, sob a justificativa de “acabar com a ind�stria da multa”. Se for considerado o ritmo de 399 flagrantes de excesso de velocidade registrados diariamente em Minas Gerais pelos radares m�veis da corpora��o entre janeiro e junho (veja quadro), pelo menos 29.925 motoristas deixaram de ser punidos por ultrapassar os limites de seguran�a desde a suspens�o dos equipamentos.
A Rodovia da Morte, como ficou conhecido o trecho da BR-381 entre BH e Jo�o Monlevade, era uma das mais monitoradas. Isso porque o segmento de 100 quil�metros apresenta mais de 100 curvas, obst�culos que se somam �s obras de duplica��o, que j� duram cinco anos. Uma descida forte, com mais de seis quil�metros que terminavam no Km-437, em Sabar�, na Grande BH, era um dos trechos que mais recebia opera��es de fiscaliza��o por meio de radares m�veis. Em frente ao chamado Posto 30, sem esse monitoramento, a velocidade m�xima de 60km/h foi ultrapassada por 39 ve�culos em apenas 10 minutos, constatou a reportagem.
O pior registro foi o de um caminh�o Mercedes Benz vermelho, que trafegava a 98 km/h. Al�m do excesso de velocidade, ele cometeu outras imprud�ncias, que poderiam ter resultado num acidente mais grave. Com o ve�culo vazio, o motorista acelerou at� iniciar a ultrapassagem de um caminh�o Volkswagen, na descida, pela contram�o e em faixa cont�nua. Um motociclista que vinha atr�s at� reduziu sua velocidade para ganhar dist�ncia de seguran�a, caso fosse preciso frear se os caminh�es se envolvessem em algum acidente ou precisassem frear de forma brusca se essa manobra arriscada n�o se conclu�sse de forma satisfat�ria.
Trafegando a 98km/h em trecho com velocidade m�xima de 60km/h, caminh�o faz ultrapassagem proibida de outro na Rodovia da Morte
Em Ro�as Novas, distrito de Caet�, os pare e siga e pistas estreitas devido �s obras de duplica��o tiram a paci�ncia dos motoristas e a liberdade para acelerar leva a v�rias freadas bruscas e possibilidade de acidentes. O pr�prio carro da reportagem quase sofreu uma batida na traseira por um caminh�o carregado com hortali�as. O ve�culo de transporte de cargas encurtava as freadas a cada curva, tentando desenvolver uma velocidade mais alta. Ao ter de reduzir a velocidade numa fileira de ve�culos antes de um quebra-molas, o carro do EM teve de escapar para o acostamento para n�o ter a traseira batida.
Depois disso, o caminh�o acelerou, invadiu a contram�o numa faixa cont�nua e iniciou uma sequ�ncia de ultrapassagens aos ve�culos em baixa velocidade da fileira, chegando a obrigar os carros em sentido contr�rio a desviar, at� que o caminhoneiro retornou � sua m�o de dire��o. No sentido contr�rio, mesmo na subida, a velocidade m�xima de 60km/h tamb�m n�o consegue mais ser imposta devido � aus�ncia de fiscaliza��o. V�rios ve�culos trafegam em alta velocidade, chegando a reportagem a registrar um Hyundai HB20 branco acelerando a 103km/h.O perigo � parte da vida dos serventes de uma empresa que presta servi�o de limpeza dos acostamentos e �reas de dom�nio para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit).
(foto: Arte EM)
Diariamente Waldiney Wagner Duarte, de 24 anos, Caio Ant�nio Duarte Pinto, de 23, e Andr� Oliveira Viana, de 33, precisam trabalhar com suas foices, p�s, carrinhos de m�o e ferramentas nas mais perigosas curvas da rodovia. “� a rodovia da morte. Muitos amigos nossos de Ro�as Novas j� foram embora (morreram). Ano passado, perdemos tr�s irm�os e um vizinho”, disse Waldiney. “O problema aqui � que ningu�m respeita a velocidade. O motorista n�o respeita a rodovia. N�o ajuda. V� que a curva � ruim e corre. S�o impacientes. Todos: carretas, carros, motos”, conta Caio. “Outro dia, morreu uma crian�a rec�m-nascida numa batida de frente de um carro com uma carreta. A gente trabalha porque precisa trazer o p�o para dentro de casa. A�, pega com Deus e trabalha atento. J� quase fomos atropelados, mesmo com cones espalhados antes”, afirma Andr�.
Na BR-040 (BH-Rio de Janeiro), campe� de mortes no primeiro semestre de 2019 – apesar das pistas bem conservadas e livres devido � conserva��o por ped�gio–, os motoristas insistem em exceder a velocidade m�xima permitida. Ap�s a sequ�ncia de dois radares no sentido Nova Lima-BH, altura do Km-546, foram verificados, em 10 minutos, 18 ve�culos acelerando acima dos 110km/h permitidos a carros e 90km/h a caminh�es. Um carro branco chegou a passar registrando 149km/h, 35% acima do permitido e j� pr�ximo aos trevos da zona de urbana de Belo Horizonte, onde h� intensifica��o do tr�fego urbano.
Especialista aponta 'perda de foco'
O engenheiro civil e especialista em transporte e tr�nsito, Silvestre de Andrade Puty Filho, v� com maus olhos a suspens�o da fiscaliza��o eletr�nica. “O tr�nsito precisa ser fiscalizado. N�o h� como ter um bom tr�fego se n�o tivermos boa fiscaliza��o. H� perigo de o excesso de velocidade provocar acidentes e tamb�m de agravar sua severidade. Quanto mais alta a velocidade, pior a gravidade. O impacto � maior, a consequ�ncia � maior”, disse.
O radar m�vel, na vis�o do especialista, tem a vantagem de permitir que se mude o ponto de monitoramento, ao contr�rio dos aparelhos fixos, que determinam esses limites num trecho cr�tico. “Cada radar tem a sua fun��o espec�fica e s�o aparelhos que se complementam no monitoramento. A justificativa de uma ind�stria da multa n�o convence. N�o h� l�gica em dizer que insumo da multa � a infra��o. Isso tira o foco da infra��o”, afirma.
A PRF informa apenas que “em cumprimento aos despachos de 15 de agosto de 2019, a dire��o-geral expediu decis�o administrativa na qual determina a todos os gestores e servidores que adotem as provid�ncias necess�rias para ser sobrestado o uso e recolhidos os equipamentos medidores de velocidade est�ticos, m�veis e port�teis at� que o Minist�rio da Infraestrutura conclua a reavalia��o da regulamenta��o dos procedimentos de fiscaliza��o eletr�nica de velocidade em vias p�blicas”.