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Estado de Minas FIM DO SONHO

Brexit e intoler�ncia no Reino Unido aceleram retorno de mineiros

Fiscaliza��o contra imigrantes ilegais aumentou, assim como situa��es de xenofobia. ONG facilita retorno ao Brasil


postado em 24/11/2019 04:00 / atualizado em 23/11/2019 18:36

(foto: Ilustração: Quinho)
(foto: Ilustra��o: Quinho)

Uma imigra��o com o sonho de melhorar as condi��es de vida e obter estabilidade financeira, mas que pode terminar com explora��o trabalhista e desespero para retornar ao pa�s de origem. Essa � a realidade de boa parte dos brasileiros que viajaram rumo ao Reino Unido e, meses depois, retornam por causa das dificuldades para se manter no exterior – principalmente depois do Brexit, como � chamada a sa�da da Inglaterra, Pa�s de Gales, Esc�cia e Irlanda do Norte da Uni�o Europeia. O pol�mico processo foi definido em 2016 a partir de um referendo, mas at� hoje n�o saiu do papel. A previs�o, segundo o primeiro-ministro brit�nico, Boris Johnson, � que o passo rumo � sa�da deve ser dado em janeiro, o que pode complicar ainda mais a vida de quem est� no pa�s ilegalmente.

Longas jornadas de trabalho e pouca remunera��o: essa era a realidade de um mineiro de 31 anos, morador de Bom Despacho, na Regi�o Centro-Oeste. “Estava na condi��o de trabalhador ilegal. Meu visto era de turista. Antigamente, era mais tranquilo, porque n�o tinha tanto fiscaliza��o. Voc� pesquisava na internet vagas de emprego, porque a demanda l� � muito grande, inclusive com plaquinhas na frente dos estabelecimentos. Hoje, o governo est� mais focado no combate � imigra��o ilegal”, explica o homem, que n�o quis se identificar.

Foram seis meses em Londres. L�, passou por diferentes empregos, ocupando cargos em restaurantes, na constru��o civil e numa terceirizada de uma gigante de vendas on-line. Neste �ltimo posto, o homem pagava 190 libras (cerca de R$ 1 mil) para trabalhar em uma van e realizar entregas em nome da empresa. “Se a van precisasse de alguma manuten��o, eles superfaturavam o conserto, que chegava a at� 400 libras”, reclama. “Voc� acaba trabalhando para pessoas que t�m consci�ncia da sua condi��o, ent�o o empregador que se prop�e a fazer isso vai tirar lucro de voc� de alguma forma. Entendo isso, porque voc�, como empregador, est� correndo riscos. Quem est� legal ganha 14 libras por hora (R$ 74) e a gente ganhava 8, no m�ximo 9 libras por hora”, comenta o mineiro.

Protesto contrário à saída do Reino Unido da União Europeia: onda de desemprego e de xenofobia preocupa principalmente os imigrantes(foto: JUSTIN TALLIS/afp)
Protesto contr�rio � sa�da do Reino Unido da Uni�o Europeia: onda de desemprego e de xenofobia preocupa principalmente os imigrantes (foto: JUSTIN TALLIS/afp)
Ele retornou do pa�s europeu em outubro deste ano, a partir do apoio da Casa do Brasil, ONG refer�ncia em assist�ncia a brasileiros no Reino Unido. Desde 2015, mais de 1 mil pessoas voltaram dessa forma. O mineiro conta que procurou a embaixada brasileira, mas o �rg�o estava fechado. Contudo, no site oficial da embaixada viu a indica��o da ONG e, gra�as a ela, conseguiu retornar ao Brasil voluntariamente para evitar a deporta��o. “A gente marca uma entrevista com o governo brit�nico. Nela, voc� tem de ser o mais sincero poss�vel. Tive de falar que trabalhava ilegalmente. Eles deixaram eu escolher a data do meu voo e o aeroporto de destino. Voc� � tratado como passageiro mesmo, sem constrangimento algum”, explica o brasileiro. Al�m disso, a Casa do Brasil arca com valores de hospedagem, alimenta��o e traslado, caso o cidad�o precise.

Alerta aos imigrantes ilegais

A advogada Vitoria Nabas, que vive na capital brit�nica h� quase duas d�cadas, � s�cia do escrit�rio de advocacia da Casa do Brasil. A organiza��o n�o governamental presta assist�ncia a imigrantes desde 2017. Ela explica que, desde 2016, quando 52% dos cidad�os brit�nicos disseram sim ao plebiscito do Brexit, aumentou o cerco dos servi�os de imigra��o. As condi��es de trabalho tamb�m foram dificultadas. “Agora, � mais importante do que nunca divulgar �queles que pretendem vir ao Reino Unido como turistas e tentar ficar, mesmo ilegalmente, em busca de uma vida melhor e ganhar dinheiro, que n�o devem faz�-lo, porque os empregos diminu�ram e, com o Brexit, a toler�ncia � imigra��o tamb�m est� diminuindo sensivelmente. Cidad�os europeus come�aram a chegar � Inglaterra ocupando vagas de subempregos antes buscadas por brasileiros”, explicou.

"Hoje, o governo est� mais focado no combate � imigra��o ilegal"

Mineiro que vive em Londres em situa��o ilegal

Foi o que ocorreu com a aut�noma de 41 anos que saiu de Uberl�ndia, no Tri�ngulo Mineiro, e foi para Londres em mar�o de 2017. Depois de quase tr�s anos, decidiu voltar de forma volunt�ria por meio do projeto. “Vim em busca de trabalho. Cheguei em um s�bado e na segunda-feira j� estava trabalhando. Fazia limpeza nas casas e atuava como motorista. Mas, decidi deixar o pa�s. Ao longo do tempo, consegui enxergar que tudo n�o passava de uma ilus�o. Voc� vem com tantas expectativas e, na verdade, voc� n�o passa de um escravo. Voc� vive o tempo todo fugindo de outros brasileiros com medo de te entregarem para a imigra��o”, lamentou a mulher. Foi por meio de amigas que ela conheceu o projeto Casa do Brasil. “Procurei o projeto e elas foram bem atenciosas. N�o tive qualquer inseguran�a, tive certeza do que queria”, acrescentou. Ela desembarcar� no Brasil ainda hoje.

Vida de incerteza e medo

A Casa do Brasil, organiza��o n�o governamental que � refer�ncia em assist�ncia a brasileiros que vivem em pa�ses no Reino Unido, tem se dedicado a combater um problema recorrente para quem entra ou tenta viajar ilegalmente: os coiotes. Essas pessoas, respons�veis por arranjar maneiras ilegais de entrar nos pa�ses, t�m hist�rico de enganar e amea�ar os brasileiros. Qualquer cidad�o brasileiro em situa��o irregular – morando com o visto de turista– pode buscar ajuda na casa. O programa � gratuito e auxilia at� mesmo com passagens a�reas para o Brasil e aux�lio at� a data da viagem. “Ningu�m � for�ado a nada. Se a pessoa mudar de ideia, pode faz�-lo”, completou a advogada da ONG, Vitoria Nabas.

Mas para quem � preso pela imigra��o, o retorno n�o � t�o tranquilo, como relata um mineiro de 30 anos, natural de Bom Despacho. Ele trabalhava em um restaurante internacional e foi detido pela fiscaliza��o em Londres. “Me mandaram para um hotel e depois para o aeroporto”, recorda. Segundo o mineiro, quem � pego em trabalho ilegal n�o tem direito a escolher o aeroporto de destino e deixa a Europa com a roupa do corpo. “Ele s� pode pegar os pertences pessoais se algu�m lev�-los pra ele no aeroporto”, comenta.

"Tinha planos de permanecer no m�nimo mais 3 anos l� para conseguir os valores que calculei para realizar meus planos no Brasil"

Relato de mineiro que vivia ilegal no Reino Unido

Ele, que trabalhava no Brasil como encarregado de obras, embarcou para Londres em agosto do ano passado. Ele conta que com a crise no setor da constru��o civil, ele ficou desempregado e passou por dificuldades para sustentar a filha de 7 anos. L�, ele ficou por um ano at� ser deportado. “Trabalhei em um restaurante. Entrei de ajudante de cozinha e fui subindo de cargo at� me tornar chefe. Eu ganhava 12 libras por hora trabalhada, sendo que trabalhava 11 horas por dia”, explicou. Com esse valor, a despesa mensal era paga e, ainda, sobravam 1,3 mil ou 1,5 mil libras por m�s, que eram enviadas ao Brasil. N�o opini�o dele, a fiscaliza��o aumentou muito ap�s a entrada do novo primeiro-ministro, Boris Johnson.

“� muito burocr�tico se regularizar no pa�s, � muito caro pra quem n�o tem descend�ncia. A maioria que consegue tem descend�ncia de outro pa�s da Europa. Para conseguir documenta��o inglesa, somente se tiver ascend�ncia comprovada, ser casado com ingl�s/inglesa, comprovar estada durante 15 anos no pa�s e arcar com um custo muito alto”, explicou. Ele foi deportado porque estava no pa�s com visto de turista, mas estava trabalhando. Ele conta que desde o in�cio foi para l� com a inten��o de trabalhar e conseguir juntar um dinheiro para voltar para o Brasil e adquirir a casa pr�pria e abrir um neg�cio. “Fiquei extremamente frustrado. Tinha planos de permanecer no m�nimo mais 3 anos l� para conseguir os valores que calculei para realizar meus planos no Brasil. A vida aqui est� dif�cil com a falta de trabalho e tudo muito caro: moradia, �gua, luz, alimenta��o...”, contou ele.

Al�m de ser deportado, ele conta que foi roubado e alerta sobre aproveitadores no exterior. “H� uma grande quantidade de brasileiros com documenta��o – alguns compram na It�lia – que se aproveitam, exploram e at� roubam brasileiros que est�o l� ilegais”, denunciou. Ele conta que foi roubado por uma landlord (pessoa que aluga um im�vel para terceiros), que n�o reembolsou o valor do dep�sito do aluguel do quarto. “Recomendo a qualquer um que queira migrar pra qualquer pa�s que tome muito cuidado com oportunistas e aproveitadores”, disse. Agora, ele sonha em se regularizar e voltar para o pa�s. O homem contou que est� usando o dinheiro que juntou para investir em renda fixa e na bolsa de valores. “E estou correndo atr�s de documentos para voltar para a Europa. N�o quero migrar ilegalmente de novo.”

Vida interrompida pela viol�ncia

Homenagem ao mineiro Jean Charles na estação de metrô de Londres onde ele foi assassinado(foto: Ben Stansall/AFP %u2013 22/9/08)
Homenagem ao mineiro Jean Charles na esta��o de metr� de Londres onde ele foi assassinado (foto: Ben Stansall/AFP %u2013 22/9/08)
Ao embarcar pela primeira vez em um avi�o para seguir rumo a Londres, Jean Charles de Menezes tinha 24 anos e levava na mochila um projeto grandioso: trabalhar e juntar na capital da Inglaterra dinheiro que n�o imaginava ser capaz de ganhar no Brasil, para ajudar a fam�lia. Com o resultado de seu trabalho, ele voltou ao pa�s e levou os primos para atuar tamb�m no exterior. Mas, tr�s anos depois, o sonho foi interrompido de forma covarde e violenta.

O mineiro Jean Charles foi assassinado aos 27 anos por policiais brit�nicos com oito tiros disparados � queima-roupa, em um vag�o do metr� londrino, em 22 de julho de 2005. O jovem foi confundido com o terrorista et�ope Omar Hussei – naquela que ficou conhecida como uma das mais desastrosas opera��es policiais da hist�ria da pol�cia inglesa, at� ent�o celebrada como a mais eficiente do mundo. A fam�lia do brasileiro sempre questionou o tratamento judicial do caso, porque nenhum policial foi alvo de procedimentos penais individuais, j� que o Minist�rio P�blico considerou que n�o havia provas suficientes para process�-los.


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