
“Eu sempre quis aprender alguma coisa e foi na rua que aprendi a pintar.” Gerson Marlon Furtado, de 47 anos, tem as esquinas de Belo Horizonte como “morada” h� mais de 20 anos e foi nelas que desenvolveu t�cnicas de pintura. Acompanhado de dois c�es – obedientes aos seus comandos – mostra com orgulho a tela que pintou: um lobo feito em tons de rosa e roxo. Ontem, ele teve a oportunidade de expor, pela primeira vez, sua arte em um grande evento, criado com o objetivo de dar a oportunidade a essas pessoas de expressar sua arte e de comercializar as obras que produzem.
Com pinturas, desenhos, fotografias e artesanato, o evento “Rua � pop – mostra art�stica da margem ao centro” foi promovido pela Secretaria Municipal de Assist�ncia Social, Seguran�a Alimentar e Cidadania no Centro de Refer�ncia da Juventude de Belo Horizonte. Contou com a participa��o de grupos de artes c�nicas formados por pessoas em situa��o de rua, al�m de dan�arinos, m�sicos e poetas, m�gicos, atores e contadores de hist�rias.
“O objetivo � redimensionar a vis�o da cidade e o olhar para essas pessoas em situa��o de rua. Eles n�o representam apenas vulnerabilidade, mis�ria e opress�o, mas tamb�m express�es art�sticas e criativas. Temos uma gama de atividade que est�o no cotidiano das ruas e resolvemos trazer isso hoje para um espa�o onde promovemos a visibilidade e reafirmamos a cidadania dessas pessoas diante uma sociedade balizada entre ter n�o ter”, disse S�rgio Temponi, coordenador do Centro de Refer�ncia Especializado em Assist�ncia Social (Creas) Centro-Sul. Ele conta que o p�blico � diverso e est� nessa situa��o por motivos diferentes: “Temos homens, mulheres, trans, travestis, adolescentes, deficientes...”
A administra��o municipal informa que considera cerca de 4,5 mil pessoas em situa��o de rua em Belo Horizonte. Pesquisa divulgada pela PBH com esses cidad�os mostra que o maior motivo para passarem a viver nas ruas s�o problemas familiares (56%), passando pelo desemprego (38%), perda de moradia (22%) e alcoolismo (19%). Segundo os �ltimos dados dispon�veis, 82% estavam desempregados e 18% tinham ocupa��o formal ou informal.
Foi o desemprego que levou Vanusa L�cia Teixeira, de 48, para as ruas. Ontem, ela deixou a dificuldade em conseguir uma coloca��o para fazem uma performance teatral na mostra. Preparou-se, usou roupa nova e deu um grande show. “Cantei uma par�dia da m�sica Paparazzi, da Lady Gaga. Foi uma homenagem � minha cachorrinha, que morreu. Tem que segurar a emo��o para cantar”, contou. Feliz pela oportunidade, ela acredita que a��es com essa devem ser mais frequentes. “� importante ocupar a mente contra as drogas. � terap�utico”, completou. Ainda dentro da programa��o, a prefeitura promoveu rodas de conversa que visam a estimular a reconstru��o dos projetos de vida e consequente sa�da da vida nas ruas.

Interven��o
A administra��o afirma que o servi�o especializado em abordagem social atua nas nove regionais da capital, nos turnos da manh�, tarde e noite. Conta com t�cnicos sociais, arte-educadores de n�vel superior e educadores pares (pessoas com trajet�ria de vida nas ruas). Belo Horizonte ainda conta com dois Centros de Refer�ncia para a Popula��o em Situa��o de Rua, um na Regi�o Leste e um na Regi�o Centro-Sul, com atendimento todos os dias da semana. Oferece local para higieniza��o pessoal e de roupas e para guarda de pertences. Al�m disso, fornece alimenta��o, telecentros e atendimento socioassistencial. *Estagi�ria sob supervis�o do editor Roney Garcia