
De um lado, as vantagens de um modelo de ensino que, segundo estat�sticas, d� a seus alunos chances significativamente maiores de entrar na universidade e de receber maiores sal�rios quando chegam ao mercado de trabalho. De outro, o enorme desafio de aumentar a carga hor�ria em escolas p�blicas de todo o pa�s, a curto prazo, para os tr�s anos que antecedem a educa��o superior. Entre custos e benef�cios, o novo ensino m�dio, chancelado no in�cio do ano passado pelo governo federal, passa a ser realidade j� partir do ano que est� prestes a come�ar, evidenciando uma corrida contra o calend�rio.
A pol�tica de ensino m�dio em tempo integral atualmente est� presente em todos os estados e no Distrito Federal, e conta com cerca de 2 mil escolas e 600 mil alunos da rede p�blica. Por�m, n�meros do Observat�rio do Plano Nacional de Educa��o (PNE) mostram que, em 2017 (�ltimo dado dispon�vel), o pa�s detinha apenas 8,7% de matr�culas em escolas de tempo integral. O secret�rio de Educa��o B�sica do Minist�rio da Educa��o (MEC), J�nio Macedo, anunciou na semana passada, durante o semin�rio “Perspectiva e fortalecimento da pol�tica de ensino m�dio integral nos estados”, a amplia��o da oferta da modalidade no pa�s.
Segundo o MEC, a Uni�o vai financiar o tempo integral para mais 500 escolas e 40 mil estudantes, por meio do Programa de fomento � escola integral, do minist�rio, criado em 2016. O semin�rio, ocorrido em S�o Paulo, foi promovido pelo Conselho Nacional de Secretarias de Educa��o (Consed), Instituto Natura, Instituto Sonho Grande e Instituto de Corresponsabilidade pela Educa��o.
O novo ensino m�dio determina o aumento da carga hor�ria dessa etapa escolar, de 800 para 1.400 horas. As escolas far�o a amplia��o de forma gradual, mas, nos primeiros cinco anos, j� devem oferecer 1.000 horas de aula anuais. Essa previs�o se articula com a Meta 6 do PNE, que prev� a oferta de educa��o em tempo integral em, no m�nimo, 50% das escolas p�blicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos alunos da educa��o b�sica at� 2024.
A BNCC, obrigat�ria a todas as escolas, dever� ocupar o m�ximo de 60% da carga hor�ria total do ensino m�dio. O tempo restante deve ser preenchido por disciplinas de interesse do aluno, que poder� eleger prioridades, de acordo com a forma��o desejada em uma das cinco �reas de interesse: linguagens, matem�tica, ci�ncias da natureza, ci�ncias humanas e forma��o t�cnica e profissional.
Sal�rio maior e mais acesso � universidade
As vantagens do modelo integral parecem se revelar claramente em n�meros de desempenho de seus alunos. Estudo da Funda��o Get�lio Vargas (FGV) e do Instituto Sonho Grande, em parceria com a Secretaria de Educa��o de Pernambuco, aponta que alunos formados nas escolas de tempo parcial t�m 46% de chance de ingressar no ensino superior, enquanto entre os egressos das escolas de ensino m�dio em tempo integral essa chance sobe para 63% – uma diferen�a de 17 pontos percentuais.

Essas caracter�sticas s�o fruto de uma palavra-chave nesse modelo de ensino: o protagonismo. Na Escola Estadual Maria Lu�za Miranda Bastos, no Bairro Planalto, na Regi�o Norte de Belo Horizonte, alunos t�m autonomia para usar salas e equipamentos e ainda criam e se apropriam dos espa�os da institui��o, em clubes de tot�, v�lei, jardinagem e religi�o. � um exemplo do que tem sido a busca do estado, que tem atualmente 12,2% de suas escolas com ensino m�dio em tempo integral.
No pa�s, Pernambuco, no Nordeste, � de longe o estado mais avan�ado e exemplo para o restante. Em 2020, o tempo integral chegar� a mais de 60% das escolas estaduais, de acordo com o secret�rio de estado da Educa��o, Fred Am�ncio, presidente do Consed. A expectativa � de que em 2022 se alcance 70% de abrang�ncia.
S�o 12 anos de processo. O estado foi o pioneiro na cria��o do modelo, de escola e de grande pol�tica de rede. Paralelamente, do 21º lugar no �ndice de Desenvolvimento B�sico da Educa��o (Ideb), saltou para o primeiro em 2015 e, atualmente, ocupa a terceira posi��o na compara��o com as outras unidades da federa��o. “N�o � poss�vel fazer algo diferenciado com o estudante s� meio turno na escola, principalmente no ensino m�dio, que tem muitas disciplinas”, afirma.
Para ele, os avan�os passam tamb�m pelo n�vel das discuss�es, que deixaram de se concentrar em projetos para fortalecer pol�ticas de estado. “Nosso ponto n�o � fazer educa��o em tempo integral, e sim, educa��o integral. Mas, para isso, o caminho foi o tempo integral, pois o tempo pedag�gico maior � importante”, ponderou. “Estamos muito atrasados. Ali�s, n�o h� pa�s algum no mundo onde o ensino m�dio de sucesso seja oferecido em tempo parcial. Somente no Brasil temos diferen�a entre ensino regular e integral. Nos outros lugares, jornada ampliada � a regra.”
Estrat�gia
O diretor-presidente do Instituto Natura, David Saad, destaca que a extens�o da carga hor�ria n�o � o fim, mas uma das estrat�gias para o desenvolvimento integral. O instituto faz estudos e d� apoio t�cnico aos estados. “N�o se trata da escola que decidiu ter mais tempo de aula e atividades extras depois, mas daquela que seja atrativa e cujo projeto de vida do aluno seja o ponto central. Onde o jovem tenha a possibilidade de se aproximar dos professores e que estes possam entregar o desenvolvimento integral ao aluno”, diz.
A presidente-executiva do movimento Todos pela Educa��o, Priscila Cruz, ressalta que para resolver a crise de aprendizagem, � preciso desenvolver a escola. “Quando conseguiremos garantir uma base m�nima da educa��o? Escola � forma��o continuada, em tempo integral. Abaixo desses padr�es m�nimos, n�o podemos tolerar que escola seja escola”, ressalta. Segundo ela, as institui��es que conseguiram melhor avan�ar no modelo integral seguiram uma receita com tr�s passos. O primeiro foi melhorar a gest�o de recursos e acabar com programas sem v�nculo com a qualidade da educa��o. O segundo, institucionalizar a pol�tica em lei estadual, para garantira continuidade do programa. O terceiro, ter um bom projeto pedag�gico para uso do tempo na escola. *A rep�rter viajou a convite do Instituto Natura