(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

'N�o pode deixar passar. � preciso denunciar', diz taxista v�tima de discrimina��o racial

Em mais um epis�dio de preconceito de ordem racial, mulher � detida em BH acusada de dizer a taxista que n�o andava com negros e de se confessar racista. Estado teve praticamente um crime do tipo em nove meses


postado em 06/12/2019 04:00 / atualizado em 06/12/2019 07:49

Luis Carlos Alves Fernandes, de 51 anos, há 16 na profissão de taxista: %u201CEstávamos vários taxistas em um ponto da Avenida Álvares Cabral, quando atravessou uma senhora, com um senhor, ele já com dificuldades para andar. Ela passou olhando dentro dos carros, passou por três carros. Perguntei com toda educação se ela estava precisando de um táxi. Ela respondeu que na verdade estava precisando sim, mas disse que não andava com negro. Quando questionei, ela repetiu: 'Não ando com negro, não gosto de negro'. Disse a ela que era crime, que era racismo, ela disse: 'Eu sou racista. Eu sou racista'.%u201D (foto: Marcos vieira/em/d.a press)
Luis Carlos Alves Fernandes, de 51 anos, h� 16 na profiss�o de taxista: %u201CEst�vamos v�rios taxistas em um ponto da Avenida �lvares Cabral, quando atravessou uma senhora, com um senhor, ele j� com dificuldades para andar. Ela passou olhando dentro dos carros, passou por tr�s carros. Perguntei com toda educa��o se ela estava precisando de um t�xi. Ela respondeu que na verdade estava precisando sim, mas disse que n�o andava com negro. Quando questionei, ela repetiu: 'N�o ando com negro, n�o gosto de negro'. Disse a ela que era crime, que era racismo, ela disse: 'Eu sou racista. Eu sou racista'.%u201D (foto: Marcos vieira/em/d.a press)

“Quero Justi�a. E  voc� que � negro n�o pode deixar passar. � preciso denunciar. Aconteceu comigo hoje, mas se eu n�o tivesse denunciado, poderia ocorrer com voc� amanh�.” Foi o que disse o taxista Luis Carlos Alves Fernandes, de 51 anos, que foi v�tima de discrimina��o racial e aguardava ansioso a decis�o do delegado sobre o crime: inj�ria racial ou racismo. Nat�lia Gomes, de 36, afirmou ao motorista que n�o andava com negros. Ao ser questionada sobre a declara��o, teria dito que era racista e depois cuspido no p� do agredido. Segundo a Pol�cia Militar, as agress�es prosseguiram na delegacia, onde a acusada chamou uma sargento de “sapat�o”. E n�o se trata de um crime isolado: a discrimina��o e o desrespeito seguem marcando presen�a em Minas Gerais, que registra a m�dia de praticamente um caso de inj�ria racial por dia – considerados apenas epis�dios que se transformam em queixa oficial. Dados da Secretaria de Estado de Justi�a e Seguran�a P�blica (Sejusp) mostram que foram registradas nada menos que 221 ocorr�ncias desse tipo nos primeiros nove meses do ano.
 
O caso ocorreu na tarde de ontem. Segundo o registro policial, o taxista Luis Carlos Alves Fernandes, h� 16 anos na profiss�o, estava parado na Avenida �lvares Cabral, em frente ao pr�dio da Justi�a Federal. Ele teria presenciado a mulher, identificada como Nat�lia Gomes, se aproximando com um idoso e aparentemente procurando um t�xi. Segundo o motorista, ele se dirigiu � mulher para perguntar se precisava do servi�o. Segundo relato da v�tima que consta do boletim de ocorr�ncia, no momento ele foi interrompido pela mulher, que teria dito: “Precisando de um t�xi estou mesmo, mas n�o ando com negros”.
 
 O taxista disse que questionou se a mulher sabia que estava cometendo um crime. Nesse momento ela respondeu, segundo o relato do condutor: “N�o gosto de negro mesmo. Sou racista”. E cuspiu no seu p�, contou ele. Ela chegou a entrar em um dos t�xis, mas foi impedida de seguir com a corrida. A v�tima narrou que todos ficaram muito revoltados e tentaram agredi-la. Entretanto, a pol�cia chegou muito r�pido. "At� ent�o, ela estava muito calma. Ela se exaltou ao chegar � delegacia, onde precisou ser algemada", completou.
De acordo com a PM, quando os militares chegaram ao local, a mulher os ignorou. Acabou sendo conduzida para a Delegacia Adjunta ao Juizado Especial Criminal (Deajec). Mesmo detida, segundo o boletim de ocorr�ncia, a mulher continuou exaltada. De acordo com a PM, uma sargento pediu para ela se sentar na delegacia. Como resposta, foi chamada de “sapata”.

Impunidade

 O taxista conta que exerce a profiss�o h� 16 anos como taxista e nunca havia sofrido nenhum tipo de preconceito, mas agora est� revoltado. Segundo a v�tima, desde o primeiro momento, a mulher foi muito arrogante e tinha certeza da impunidade. "Ela achou que diria o que disse e sairia impune. Disse que o pai � delegado e repetia 'voc� n�o sabe com quem est� falando'". Luis Carlos ainda disse que � importante ficar atento: “O racismo n�o est� s� nas palavras usadas pela mulher. Pode ser muito sutil, mas precisamos denunciar”, disse o homem, que espera que o caso seja classificado como racismo.
 
Dados da Sejusp mostram que os casos de inj�ria racial v�m se mantendo em patamares altos nos �ltimos anos. De janeiro a setembro deste ano, foram 221 registros. No mesmo per�odo do ano passado, foram 230 ocorr�ncias, e o mesmo n�mero registrado no estado nos primeiros nove meses em 2017. Em rela��o aos crimes de racismo, o total de casos registrados em 2017 foi de 173. O n�mero recuou para para 112 em 2018 e entre janeiro e setembro deste ano ficou em 73.
 
O advogado de Nat�lia e a irm� dela, que estavam na delegacia, n�o conversaram com a reportagem do Estado de Minas e disseram que responderiam durante o processo. At� o fechamento desta edi��o, Lu�s e Nat�lia estavam sendo ouvidos pelo delegado da Pol�cia Civil da Central de Flagrantes. O delegado definir� se a mulher responder� por inj�ria ou por racismo.

Casos de repercuss�o

 Pelo menos outros tr�s casos de inj�ria tiveram grande repercuss�o nos �ltimos meses em Belo Horizonte e regi�o metropolitana. Em 15 de novembro, um homem foi preso em Betim ao se referir a um taxista como “aquele pretinho ali”, segundo consta no boletim de ocorr�ncia da Pol�cia Militar. A declara��o ocorreu na presen�a de militares e outras testemunhas. O acusado, de 61, foi autuado em flagrante pelo crime, pagou fian�a e foi liberado.
 
O passageiro de um t�xi e o condutor, de 39, estavam em uma discuss�o sobre o pre�o de uma corrida quando a PM foi acionada. Em conversa com os policiais militares, o passageiro, Celso Serafim de C�ssia Rezende, afirmou, segundo consta no boletim de ocorr�ncia, que pediu uma corrida para Esmeraldas. O taxista aceitou e teria dito que a viagem ficaria em R$ 80. O homem, ent�o, tentou negociar e perguntou se podia ser feito por R$ 60.
 
Nesse momento, segundo apura��es da PM, o taxista teria dito a Celso que fosse a p�, o que deu in�cio a uma discuss�o. Os militares foram at� o local onde acontecia a briga e, durante os levantamentos do caso, flagraram Celso se referindo ao taxista de maneira discriminat�ria. Diante disso, o homem recebeu voz de pris�o por inj�ria racial e foi encaminhado � delegacia.
 
Na capital, um processo seletivo divulgado por duas empresas � investigado pois, ao divulgar vagas para cuidadores de idosos, a descri��o dos pr�-requisitos trazia a condi��o de que as candidatas n�o fossem “negras ou gordas”. Uma das exclu�das foi Elis�ngela Lopes, de 41, que tem quatro anos de experi�ncia profissional. “N�o vou me calar”, disse, em entrevista ao EM.
 
Outro caso ocorreu durante o �ltimo cl�ssico entre Cruzeiro e Atl�tico pelo Campeonato Brasileiro. Ap�s o empate por 0 a 0, as arquibancadas do Mineir�o viraram uma pra�a de guerra, onde torcedores se ofendiam e se atacavam, enquanto seguran�as tentavam cont�-los. Em meio � confus�o, Adrierre Siqueira da Silva se dirigiu ao seguran�a F�bio Coutinho com menosprezo e disse: “Olha a sua cor”. O irm�o de Adrierre, Nathan Siqueira da Silva tamb�m � acusado decometer inj�ria racial. Segundo a pol�cia, o torcedor chamou F�bio Coutinho de “macaco”. Ambos foram indiciados pela Pol�cia Civil e podem receber penas de um a quatro anos de reclus�o, al�m de multa, com base no artigo 140, par�grafo 3º do C�digo Penal.

Inj�ria racial

A inj�ria racial est� prevista no artigo 140, par�grafo 3º, do C�digo Penal, que estabelece a pena de reclus�o de um a tr�s anos e multa, al�m da pena correspondente � viol�ncia, para quem comet�-la. De acordo com o dispositivo, injuriar seria ofender a dignidade ou o decoro utilizando elementos de ra�a, cor, etnia, religi�o, origem ou condi��o de pessoa idosa ou portadora de defici�ncia. Em geral, o crime de inj�ria est� associado ao uso de palavras depreciativas referentes � ra�a ou cor com a inten��o de ofender a honra da v�tima.

Racismo

O crime de racismo, previsto na Lei 7.716/1989, implica conduta discriminat�ria dirigida a determinado grupo ou coletividade e, geralmente, refere-se a crimes mais amplos. Nesses casos, cabe ao Minist�rio P�blico a legitimidade para processar o ofensor. A lei enquadra uma s�rie de situa��es como crime de racismo, por exemplo, recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, impedir o acesso �s entradas sociais em edif�cios p�blicos ou residenciais e elevadores ou �s escadas de acesso, negar ou obstar emprego em empresa privada, entre outros.



receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)