MC Charles � o vencedor nacional do Duelo de MC's na Pra�a da Esta��o
Rapper do Cariri, no Cear�, conquista p�blico e jurados. Evento mostra for�a da cultura hip-hop em Minas e no Brasil com presen�a estimada de 20 mil pessoas
postado em 15/12/2019 20:38 / atualizado em 16/12/2019 21:48
MC Charles (CE) � o grande vencedor da batalha final do Duelo de MC's. (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Abram espa�o, reconhe�am e respeitem a hist�ria de 43 anos de luta e verdade da cultura hip-hop no Brasil. Arte que nasceu em S�o Paulo, na Rua 24 de Maio e no Metr� S�o Bento, de onde sa�ram artistas como Tha�de, DJ Hum, Racionais MC's e Rappin Hood, que ontem, definitivamente, na Pra�a da Esta��o, pediu passagem para ocupar todos os espa�os por direito e merecimento. Na grande final nacional do Duelo de MC's, a maior batalha de rimas do pa�s, o vencedor foi o MC Charles, do Cariri, no Cear�, que certamente tem no sangue o DNA repentista.
MC CHARLES, de Juazeiro do Norte, no Cear�, ganhou a �ltima batalha contra Noventa, do Esp�rito Santo, e levou o trof�u de campe�o do Duelo de MCs Nacional 2019, al�m do pr�mio de R$ 15.000.
Um dos favoritos e j� com muitos f�s, MC Charles, do Cear�, fez a batalha final com MC Noventa, do Esp�rito Santo, e levou a melhor diante de 20 mil pessoas, p�blico de jovens sonhadores, gente batalhadora e amantes da arte de rua com identidade e ideologia. No grito do "vai matar ou vai morrer", MC Charles mandou a rima mortal. Depois de enfrentar um processo seletivo intenso realizado em todo o pa�s, entre maio e novembro deste ano, que reuniu mais de 3 mil MCs, de pelo menos 300 cidades dos 27 estados, a batalha final foi emocionante e mostrou a grandiosidade do evento. O vencedor recebeu R$ 15 mil, al�m de apoio para produ��es musicais e audiovisuais.
Ver galeria . 20 FotosFinal do Duelo de MCs Nacional 2019 lotou a Pra�a da Esta��o neste domingo em Belo Horizonte
(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press )
Do mineiro Djonga ao paulista Emicida e ao baiano Baco Exu do Blues, estrelas do rap nacional que mobilizam uma legi�o de f�s, eles s�o apenas a ponta do iceberg, a galera do mainstream, diante de um mar de talentos que est�o construindo sua hist�ria dentro do movimento no Brasil. No palco da Pra�a da Esta��o, nomes menos conhecidos do grande p�blico e da m�dia, mas com milhares de f�s e seguidos nas redes sociais. Verdadeiros �dolos e exemplos para muitos. Nomes como Bispo (RR), MC Charles (CE), Tonh�o (CE), Vinicius ZN (PE), Neo (RJ), Noventa (ES), Lauro (PR), Ornaghi (PR), Jhon (DF) e Hate (DF) e muito mais.
MC Noventa (ES), de casaco vermelho, chegou � final, mas n�o levou (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Depois de 12 anos, a batalha de rimas voltou para o espa�o onde tudo come�ou com 20 pessoas e um som port�til. O Duelo de MCs Nacional 2019 fez parte das comemora��es dos 122 anos de Belo Horizonte, festejados com programa��o cultural e tur�stica gratuita.
L�o Cez�rio, um dos idealizadores do evento, disse que a ficha ainda n�o caiu, � preciso tempo para digerir e visualizar a dimens�o que o evento tomou. As batalhas debaixo do Viaduto de Santa Tereza j� n�o comportavam mais tanto p�blico e seguidores: “T�nhamos no��o que seria diferente, com maior fluxo de pessoas, mas ficamos impactados pela receptividade”.
L�o Cez�rio diz que o pr�ximo passo � chegar ao Mineir�o (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Claro, h� sempre o que melhorar. L�o Cez�rio destacou que o modus operandi necessita de ajustes: “Falta � cidade, enquanto gest�o, aprender a fazer melhor. Tivemos suporte efetivo da Pol�cia Militar e do Corpo de Bombeiros, mas h� normas e leis r�gidas no processo e � preciso boa vontade de todos os lados. Temos de estudar melhor. Todos aprendemos. Antes, fal�vamos que a pra�a tem de ser aberta, mas lidamos com vidas humanas e temos de entender que para o movimento crescer � importante segui-las”. Para 2020, ele pensa no Mineir�o: “Sonho alto e grande. Precisamos de mais patroc�nio para circular com mais poder pelas seletivas e fazer um evento ainda mais grandioso em BH.”
CELEBRAR E COMUNGAR
Pedro Valentim, o PDR, tamb�m organizador do Duelo de MC's, confessou que ainda “n�o � poss�vel mensurar tudo o que ocorreu. S� sei que precisamos de mais dinheiro, de patroc�nio e mais pol�ticas p�blicas para fazer do jeito que acreditamos. O recurso � um gargalo. E temos de criar rela��o mais leve com as inst�ncias p�blicas, j� que ao ocupar a cidade h� processo engessados. Poder�amos ter mais p�blico, por exemplo, mas nosso licenciamento foi para 20 mil pessoas”.
Pedro Valentim, o PDR, diz que o Duelo de MC's foi a festa de fim de ano do hip-hop (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Mas PDR estava feliz: “Este momento � a festa de fim de ano do hip-hop. Batalha e shows acabam sendo o momento de encontro com todos os amigos. Ent�o, celebrar e comungar s�o as palavras que nos definem”.
O rapper Samora N'Zinga, cria das batalhas, destacou tudo o que envolve a realiza��o do Duelo: “� muita luta, trabalho, e gente envolvida que acredita no sonho e na cultura hip-hop. Um sonho que come�ou com 20 pessoas e, agora, se depara com 20 mil. Multiplicou exponencialmente.” Ele tamb�m destacou a mistura de gera��o: “Muitos falam em new school, old school, mas defendo a true school, somos todos a verdade”.
Rapper Samora N'Zinga, cria das batalhas, lan�ou seu segundo CD no evento (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Uma das atra��es do evento, Samora N'zinga lan�ou seu segundo CD no palco da Pra�a da Esta��o: D.A.A.T, que aposta no afrotrap: “Trap � um subg�nero dos mais recentes do hip-hop e o afro vem do afrobeat. Assim, minha m�sica � uma mistura de funk, samba, trap. � um novo g�nero musical e sou um dos primeiros e investir nele no Brasil”.
J� Wallison Culu, artista dan�arino morador da Serra, onde comanda projetos sociais com foco na arte, cultura, lazer e dan�a urbana, e faz parte da Cia. Fusion de Dan�a Urbana, fundada h� 16 anos, acompanha as batalhas de rimas desde o in�cio: “Ver a evolu��o � sensacional, rica e eficaz. Ver isso hoje, aqui, diante dos meus olhos, faz com que o hip-hop, a produ��o e a fam�lia toda ganhem for�a para viver e executar esta arte”.
Wallison Culu, artista dan�arino, afirma que a evolu��o das batalhas de rimas � sensacional (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Walison Culu enfatizou: “Entendo que o hip-hop � evolu��o e respeito e a forma��o na batalha � essencial. Acredito que o social precisa sempre estar presente, preservar a tradi��o sem deixar de evoluir, que � o que acontece aqui hoje (ontem). At� porque a atualidade vivemos agora. Defendo a liberdade de cria��o com identidade. � importante que outras pessoas se informem e participem. Sem barreiras, sem muros. Hoje (ontem), ocupamos a Pra�a da Esta��o, quem sabe em 2020 n�o estamos na Avenida Afonso Pena?”
Luiz Carlos, C2, organizador de batalhas no Vale do A�o, estava acompanhado da fam�lia: a mulher, Dan�bia, e os filhos Lucas, 1 ano e 11 meses, e Maira, de 11 anos. Ele vendia pipoca, pa�oca e recolhia latinhas: “Acompanho toda a batalha, desde o come�o, e acabei levando para a regi�o. � interessante demais ver a dimens�o que isso tomou. Uma cultura deixada � margem, underground, agora aqui na pra�a com espa�o para todos, um convite a quem quiser chegar. � maravilhoso”.
Ao lado da fam�lia, C2, organizador de batalha no Vale do A�o, aproveitou para faturar vendendo pipoca, pa�oca e recolhendo latinhas (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
As batalhas, tamb�m conhecidas como duelos de freestyle, mostraram na Pra�a da Esta��o o encontro de pesos-pesados da cena. Assim, dois mestres de cerim�nia (MC's) batalham entre si com rimas improvisadas, podendo ser a capela ou com um beat (batida) tocada por um DJ durante 90 segundos para cada dupla.
Na batalha de sangue, assim chamada porque n�o existe tema, o conte�do � livre e tem como foco atacar (verbalmente) e responder o ataque do advers�rio, MC Charles foi o melhor. Todos os concorrentes mostraram dom�nio da palavra e conquistaram f�s. No encerramento, os shows ficaram por conta da DJ Kingdom, DJ LB, DJ Junin Bumbep, T�ssia Reis + Stefanie e Hot e Oreia.
O que se viu na Pra�a da Esta��o foi um evento que veio para ficar. N�o d� mais para ignor�-lo. N�o d� mais para falar que � movimento de gueto, de favela, restrito a determinada comunidade. � puramente arte e arte � para todos, ainda que uma parte da popula��o possa se sentir mais representada. O consumo e a admira��o do que tem qualidade n�o pode ter fronteira.
O tenente Washington do Comando da Pra�a Sete, 1º Batalh�o, 6ª Companhia, declarou que "tudo ocorreu com tranquilidade, s� ocorr�ncias corriqueiras". Mais um ponto a favor do evento. Tudo na paz.
HIST�RIA
Realizado pela primeira vez em 2012, o Duelo de MCs nacional se tornou um marco do hip-hop brasileiro. Em sete edi��es, o projeto passou por todas as regi�es do pa�s e recebeu grandes nomes em seu palco, com destaque para Djonga (MG), Cris SNJ (SP), Tamara Franklin (MG), Emicida (SP), Rappin Hood (SP), Marechal (RJ), DJ Nyack (SP), Mat�ria Prima (MG), Potencial 3 (SP), DJ Roger Dee (MG), Slim Rimografia (SP), Gustavo Pontual (PE), Bruno BO (PA), DJ Erick Jay (SP), Melanina MCs (ES), DV Tribo (MG) e Rico Dalasam (SP).
OS PRIMEIROS CAMPE�ES
Nas duas primeiras edi��es, em 2012 e 2013, a vit�ria ficou com o mineiro Douglas Din. Em 2014, quem venceu foi o MC Lar�cio Gonzaga, de Lauro de Freitas, na Bahia. No ano seguinte, a conquista foi para o Rio de Janeiro, consagrando o MC Orochi como campe�o. O brasiliense Sid foi quem venceu a disputa em 2016, levando o t�tulo para o Distrito Federal. Cesar venceu em 2017 e colocou o Esp�rito Santo de vez no mapa das batalhas no Brasil. De Dourados, no Mato Grosso do Sul, o MC Miliano venceu em 2018.
APOIADORES
O Duelo de MCs Nacional 2019 foi apresentado pela TNT Energy Drink e teve patroc�nio da Itaipava. A final contou com parcerias do Museu de Artes e Of�cios e do Rap Box. Em sua oitava edi��o, o projeto realizado pela Fam�lia de Rua (FDR) com apoio da Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e da Funda��o Municipal da Cultura.