'M�es do bumbum' exp�em riscos da beleza a qualquer custo. Saiba como se proteger
Esteticista e dona de sal�o s�o acusadas de aplicar silicone industrial nas n�degas de pelo menos 100 mulheres. Proibido para esse uso, produto pode levar � morte
postado em 21/12/2019 06:00 / atualizado em 21/12/2019 09:03
O silicone industrial era injetado no sal�o de beleza, sobre uma maca, sem cuidados de assepsia
(foto: Fotos: Redes Sociais/Reprodu��o)
Busca do corpo perfeito que termina em deforma��o e at� risco de morte pelas m�os de quem n�o tem licen�a para atuar na �rea e ainda com uso de produtos impr�prios. Foram presas em Contagem, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, duas mulheres acusadas de aplicar silicone industrial, proibido para esse fim, em mulheres que agendaram o procedimento em um grupo de aplicativo de mensagens denominado “Filhas do bumbum”.
As suspeitas teriam feito pelo menos 100 v�timas, de Minas, S�o Paulo, Rio de Janeiro e at� vindas do exterior. Amanda Juliana Fernandes Fran�a, de 41 anos, e a empres�ria Dayse Viviane Martins Lopes, de 34, que seriam administradoras do grupo, realizavam os procedimentos em um sal�o de beleza chamado Vivi M�os de Fadas. Nenhuma das “m�es do bumbum” � profissional de medicina, os �nicos com licen�a para fazer procedimentos invasivos, que por si s� j� implicam riscos e exigem cuidado e planejamento (leia entrevista). Em outra ocorr�ncia, na segunda-feira, uma mulher de 48 anos morreu durante cirurgia para a redu��o de mama em uma cl�nica no Barro Preto, na Regi�o Centro-Sul de BH. Ontem, o espa�o, que n�o tinha alvar� para realizar esse tipo de procedimento, foi fechado.
O flagrante envolvendo o uso de silicone industrial foi feito no dia 6, no momento em que era realizada a aplica��o do produto, impr�prio para esse fim, nas n�degas de uma das v�timas. "Fizemos um servi�o de campana. N�o era qualquer pessoa que conseguia entrar. N�o era s� tocar campainha e entrar. No momento em que houve a abertura da porta do sal�o, a gente entrou e identificou uma cliente que estava aguardando para passar pelo procedimento”, disse em coletiva de imprensa, ontem, o delegado de Pol�cia Civil Rodrigo Bustamante, chefe do 2º Departamento de Pol�cia Civil Regional.
Os levantamentos apontam que Dayse era a respons�vel pelo agendamento dos procedimentos pelo aplicativo, enquanto Amanda, que � do Rio de Janeiro, ia uma vez por m�s a Contagem para realizar a aplica��o do silicone industrial – produto utilizado na limpeza de carros, impermeabiliza��o de azulejos e veda��o de vidros. “As suspeitas diziam que os procedimentos eram feitos com hidrogel, mas, na verdade, elas usavam o silicone industrial”, contou.
Segundo as investiga��es, Amanda cobrava cerca de R$ 4 mil por cada aplica��o e sa�a do Rio de Janeiro para fazer as aplica��es em Belo Horizonte. Dayse seria a respons�vel por captar clientes, com comiss�o de 10% do total do tratamento. Pelo retoque, era cobrado mais R$ 1 mil. “Por meio de um aplicativo de mensagens, ela mantinha uma rotina de agendamento de clientes. Isso come�ou com a Amanda, no sal�o da Dayse Viviane, a partir de fevereiro e mar�o deste ano, com uma m�dia de 6 pessoas ou at� um pouco mais por m�s”, explicou o delegado sobre o modo operante da dupla. “N�o eram fatos isolados e n�o ocorriam apenas aqui. Ela praticava esse exerc�cio ilegal da profiss�o tamb�m no Rio de Janeiro”, acrescentou.
Mulher sofreu deforma��es (abaixo) ap�s aplica��o do produto, que causa inflama��o
A investiga��o come�ou depois de quase 10 v�timas irem at� uma delegacia com deformidades no corpo e processo inflamat�rio. Segundo o delegado Luciano Guimar�es, tamb�m � frente das investiga��es, os procedimentos eram feitos dentro do sal�o de beleza, sobre uma maca, em um local inadequado e sem assepsia. “Se houvesse alguma intercorr�ncia, n�o haveria nem como socorrer”, disse. Ele explicou que a esteticista fazia uma esp�cie de torniquete nas coxas das clientes, aplicava a anestesia, furava as n�degas e depois aplicava o silicone industrial. A abertura era fechada com cola de secagem. “Como o produto provoca processo inflamat�rio, o corpo come�a a expeli-lo de alguma forma. Ent�o forma-se um buraco nas n�degas”, explicou.
Investigadores apreenderam materiais cir�rgicos, seringas, ampolas, anest�sicos e diversos antibi�ticos
(foto: Pol�cia Civil/Divulga��o)
SILICONE INDUSTRIAL
Segundo o delegado, o produto era acondicionado em embalagens com r�tulos de uma subst�ncia conhecida como hidrogel, que teve o registro suspenso em 2014 pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa). A ag�ncia tamb�m pro�be o uso de silicone industrial na utiliza��o de procedimentos est�ticos. “No entanto, em exames no Instituto de Criminal�stica, foi comprovado de que se tratava de silicone industrial. Mas, “essas pessoas corriam o risco de sua integridade f�sica. Uma das consequ�ncias da aplica��o de silicone industrial � a embolia pulmonar, que pode causar a morte, al�m das les�es”, explica Bustamante. O delegado Luciano Guimar�es disse que no local foram apreendidos materiais cir�rgicos, seringas, ampolas, anest�sicos e diversos antibi�ticos. “Um verdadeiro centro cir�rgico foi montado para a realiza��o desse procedimento est�tico”, informou.
At� 100 mulheres teriam sido atendidas por Amanda. “Uma das v�timas � uma mulher do Rio de Janeiro que mora em Portugal, veio ao Brasil e se submeteu a uma interven��o com ela. Ela est� buscando tratamento, mas s�o poucos cirurgi�es pl�sticos que fazem esse procedimento para retirar o produto. E cobram cerca de R$ 28 mil.” Ela pode responder por exerc�cio ilegal da profiss�o, estelionato e manuseio de produtos sem autoriza��o. Se condenada, pode pegar de 10 a 15 anos de pris�o.
(*Estagi�ria sob supervis�o da subeditora Rachel Botelho)
4 PERGUNTAS PARA
Rafael Kenji Cirurgi�o pl�stico, diretor t�cnico e coordenador da equipe de cirurgia pl�stica do Hospital Energia Vital
Quais os cuidados as pessoas que decidem fazer implantes est�ticos devem tomaro?
Primeiro cuidado que a pessoa deve ter � procurar um profissional capacitado e especialista na �rea, ou seja, um cirurgi�o pl�stico credenciado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Pl�stica. Al�m do profissional capacitado, � importante pesquisar sobre o local onde ser� feito o procedimento, se est� de acordo com todas as normas de sa�de e se tem capacidade de atender da melhor forma poss�veis intercorr�ncias, principalmente, as graves.
Como diminuir os riscos de quem decide se submeter a esses procedimentos?
� importante que o paciente que for se submeter a algum tipo de procedimento ou cirurgia seja uma pessoa saud�vel, que n�o tenha nenhuma comorbidade e que esteja no peso ideal. Tudo isso contribui para diminuir os riscos do procedimento. E, claro, procurar um profissional credenciado, com um local que atenda todas as normas.
Como saber se o profissional tem capacidade para realizar implantes e outros procedimentos cir�rgicos est�ticos?
Para saber se o profissional � capacitado para realizar o precedimento, � preciso acessar o site da Sociedade Brasileira de Cirurgia Pl�stica. No site tem o campo "encontre seu cirurgi�o". L� a pessoa pode digitar o nome do m�dico para saber se ele � cirurgi�o pl�stico credenciado pela SBCP.
Quais s�o os riscos para pessoas que injetam hidrogel e/ou silicone industrial?
O silicone industrial no corpo humano pode acarretar diversas intercorr�ncias, com chances de evoluir para casos graves e at� levar ao �bito. Se injetado em planos profundos por indiv�duos n�o capacitados, sem a t�cnica correta e o entendimento anat�mico da regi�o o risco aumenta: pode-se injetar o silicone intravascular e obstruir um vaso importante como, por exemplo, o do pulm�o – acarretando embolias graves. Outras intercorr�ncias graves s�o necroses e infec��es levando a deformidades severas no local que podem ser irrevers�veis. � muito comum tamb�m a migra��o do silicone industrial para outra regi�o do corpo, dissecando os tecidos por conta da gravidade.
PERIGO NA SERINGA
Confira os riscos do silicone industrial e como agir se foi submetido a ele
>> Riscos: Pode gerar diversas anomalias, seja na hora da aplica��o ou com o passar dos anos, como deforma��es, dores, dificuldades para caminhar, infec��o generalizada, embolia pulmonar e, at� mesmo, a morte.
>> Crime: A aplica��o � considerada crime contra a sa�de p�blica previsto no C�digo Penal – exerc�cio ilegal da medicina, curandeirismo e les�o corporal.
>> Orienta��o: A orienta��o para quem aplicou silicone industrial no pr�prio corpo � a de procurar um m�dico, mesmo que ainda n�o tenha sentido qualquer sintoma. Somente um m�dico especialista pode avaliar a gravidade de cada caso.
>> Den�ncia: Caso suspeite do uso de produtos de maneira incorreta, o cidad�o pode entrar em contato com a Anvisa por meio da Ouvidoria da ag�ncia.