
N�meros ampliados a cada balan�o: em nova atualiza��o, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) informou ontem que o n�mero de mortes decorrentes das chuvas de quinta e sexta-feira, em Minas Gerais saltou para 45. Em todo o per�odo chuvoso, iniciado em novembro, foram 56 �bitos. Outras 19 pessoas continuam desaparecidas, todas no interior do estado. Na corrida para ajudar as cidades, decreto do governo estadual, que foi publicado na manh� desta segunda-feira, reconheceu situa��o de emerg�ncia em 101 munic�pios. Hoje, a Defesa Civil do estado informou que Diamantina e Nova Era entraram na lista. Desde de outubro do ano passado, 121 munic�pios decretaram emerg�ncia. Os decretos facilitam a transfer�ncia de recursos do governo federal para reparos e a entrega de doa��es – como colch�es, cobertores, travesseiros e alimentos – recolhidas pelo Executivo estadual. Ontem, o governo federal garantiu que tem R$ 90 milh�es para atender aos estados atingidos pelas enchentes. O ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, que veio a Minas, e o governador Romeu Zema (Novo) se reuniram com prefeitos para alinhar os repasses.
A maioria das mortes est� concentrada na Grande BH: 13 em Belo Horizonte, seis em Betim, cinco em Ibirit� e dois em Contagem. No interior, os �bitos est�o listados em 10 munic�pios da Zona da Mata mineira: Alto Capara� (quatro), Alto Jequitib� (tr�s), Carangola, Divino, Luisburgo (duas), Manhua�u, Pedra Bonita (duas), Santa Margarida, Tocantins e Simon�sia (tr�s). Ainda de acordo com o balan�o da Defesa Civil estadual, 17.241 pessoas est�o fora de suas casas em Minas: 13.887 desalojadas (6.767 na Grande BH e 7.120 no interior) e 3.354 desabrigadas (850 na RMBH e 2.504 no interior). Al�m disso, 12 pessoas ficaram feridas no estado – seis na Grande BH e outros seis no interior.
Por tr�s das estat�sticas, a dor da perda. Hist�rias como a da cozinheira que trabalhava em um asilo, o jovem que havia acabado de tirar carteira de motorista, a adolescente que iria se formar, o pai que n�o conseguiu batizar a filha. Sonhos de fam�lia enterrados na lama, lembrados por quem sobreviveu em locais como a Vila Bernadete, no Barreiro, na capital mineira, onde, depois de mais de 40 horas, terminaram na manh� de ontem as buscas por sete v�timas soterradas no desabamento de casas durante o temporal da �ltima sexta-feira.
Cinco corpos foram localizados pela manh� e dois haviam sido encontrados no s�bado, numa opera��o que usou t�cnicas semelhantes �s empregadas no rompimento da Barragem da Vale, em Brumadinho, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. As sete pessoas pertenciam a duas fam�lias.
O corpo do pequeno Jo�o Lucas, de 3 anos, foi o primeiro a ser localizado nos escombros ontem pelo Corpo de Bombeiros (Cobom), que pouco depois achou o pai dele, Thiago Rodrigo da Silva, de 26 anos, e a m�e, Kellen Santos Oliveira, de 25. Thiago retornou para casa para tentar salvar o filho, mas n�o conseguiu sair dos escombros, surpreendido por um outro deslizamento.
"O menino estava no quarto, n�o tinha como sair. Thiago voltou, mas n�o deu tempo", conta o tio dele, Carlos Roberto da Silva, de 55. A �nica a sobreviver na casa foi a pequena Maria Eduarda, de 7 anos, filha de Kellen. Ela ficou a salvo gra�as a Senhor do Conselho Gomes, de 57, pai de Thiago, que tirou a menina da sala da casa. A menina foi levada para o Hospital de Pronto-Socorro Jo�o XXIII.
A fam�lia morava em um barrac�o no fundo da casa de Senhor. O im�vel, tamb�m abalado pelo deslizamento de terra, resistiu � descida da lama e das casas que ficavam acima. Segundo o tenente-coronel Eduardo �ngelo, que acompanhou a reportagem na “zona quente” das buscas, todos os corpos foram encontrados pr�ximos a esse local, que serviu de barreira para os escombros.
No domingo, 28 bombeiros trabalhavam no resgate. A �rea era de alto risco porque uma casa amea�ava cair. O que se via era um rastro de destrui��o. Sof� dependurado, paredes destro�adas, roupas, sapatos, tudo destru�do pelo barro. Chamava aten��o a quantidade de fios el�tricos.
Nesse local, lavado pela lama, tamb�m foram resgatados os corpos da cozinheira Marlene do Carmo Silva, de 58 anos, e de sua filha Edv�nia Rodrigues Silva, de 17. Os outros dois filhos dela, Edmar Rodrigues Silva, de 25 anos, e Luiz Augusto Rodrigues Silva, de 19, foram encontrados no s�bado. A fam�lia de Marlene, que deixa outros tr�s filhos, � de Frei Gaspar, no Vale do Mucuri. Parentes acompanhavam as buscas.
Liga��o
Um dos filhos de Marlene, Gilberto do Carmo Silva, de 41, contou que a m�e estava assustada como terreno da vizinha cedendo e tentou ligar para a Defesa Civil. “Ningu�m veio”, disse. Ela era cozinheira de um asilo no Bairro Olhos D'�gua, na Regi�o Oeste, e morava com os tr�s filhos. Edv�nia estava fazendo curso de computa��o, Luiz tinha acabado de tirar carteira de motorista. Edmar tinha programado de marcar ontem o batizado do filho, de 2.
Na noite da sexta-feira, dia de recorde hist�rico de �ndice de chuva, um barranco cedeu e soterrou pelo menos cinco casas, na Vila Bernadete. Tr�s ficaram completamente destru�das e outras duas parcialmente foram danificadas. V�rios moradores contaram que, assim como Marlene, tentaram ligar para a Defesa Civil desde a madrugada de sexta-feira, avisando sobre uma escava��o no quintal de uma casa que estava jorrando �gua e desmoronando.
Somente a Pol�cia Militar (PM) foi ao local, �s 12h30 e aconselhou a sa�da. �s 21h, as casas desceram junto com o barranco. As buscas por sobreviventes come�aram na manh� de s�bado, quase 12 horas depois. Segundo os bombeiros, o local oferecia risco �s equipes, por causa da chuva e dos choques da rede el�trica. Dois policiais militares ficaram presos nos escombros.A popula��o ficou revoltada com a demora e ontem ainda cobrava respostas. “Fomos tentar resgatar e a PM barrou”, disse Warley Pablo, de 26, morador da Vila Bernadete. “Isso aqui daqui a pouco todo mundo esquece e depois acontece em outro lugar”, afirmou.
O prefeito Alexandre Kalil, que esteve no local na manh� de s�bado, disse que o telefone da Defesa Civil estragou na tarde de sexta-feira, quando o �rg�o p�blico recebeu mais de 500 chamadas relacionadas � chuva. O prefeito n�o soube precisar por quanto tempo o telefone da prefeitura ficou indispon�vel.
Fora da curva
A Defesa Civil informou que o local n�o era considerado �rea de risco e que soube da ocorr�ncia pela Regional Barreiro, mas que priorizou outros atendimentos. Kalil classificou o epis�dio como um “desastre natural” e informou que a for�a-tarefa da chuva vai continuar por tempo indeterminado, at� a reconstru��o da cidade.
� a primeira vez que os moradores da Vila Bernadete assistem a uma trag�dia relacionada a deslizamentos. Situada numa �rea de encosta pr�xima ao Anel Rodovi�rio, no Barreiro, a vila foi urbanizada h� pouco mais de 10 anos, quando chegou o asfalto na regi�o. Em 2002, a �rea, que pertencia ao Bairro Bonsucesso, passou a ser considerada vila. Nascida e criada na comunidade, Vanessa Aparecida, de 43 anos, conta que o local era s� mato. “Tinha uma �gua que corria no meio das casas. O pessoal foi construindo e essa �gua espalhou”, diz. Irm�o dela, Valdinei Alves, de 53, conta que a casa da fam�lia foi a primeira, erguida num terreno de propriedade de fam�lia tradicional de BH. “Os donos reviraram a terra para ningu�m construir, mas o pessoal foi chegando e depois virou um aglomerado”, lembra.
Doa��es
Ao mesmo tempo que levantam os preju�zos, as autoridades pedem doa��es para ajudar as pessoas afetadas pelos temporais. As ajudas podem ser entregues em qualquer batalh�o do Corpo de Bombeiros ou da Pol�cia Militar e no Servi�o Volunt�rio de Assist�ncia Social (Servas), localizado na Avenida Crist�v�o Colombo, 683 – Bairro Funcion�rios (Regi�o Centro-Sul de BH). (Com informa��es de Cristiane Silva)