'A Backer n�o me mandou nem um copo de �gua': depois da intoxica��o, a dor do desamparo
V�timas de cerveja contaminada denunciam um m�s de falta de assist�ncia da Backer. M�dico revela bastidores de identifica��o da s�ndrome misteriosa
postado em 11/02/2020 06:00 / atualizado em 11/02/2020 11:18
Geraldo Lopes Dias, mec�nico que sofreu contamina��o: "Minha esposa e minha filha j� tentaram contato com a empresa e n�o tivemos nenhum retorno" (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
“A Backer n�o me mandou nem um copo de �gua.” A frase de Geraldo Lopes Dias, de 68 anos, dita ao deixar a 4ª Delegacia da Pol�cia Civil de Minas Gerais, no Bairro Estoril, Regi�o Oeste de Belo Horizonte, sintetiza – pouco mais de um m�s ap�s o in�cio das investiga��es –, a sensa��o de desamparo que envolve v�timas de intoxica��o por dietilenoglicol em produtos da cervejaria. O mesmo sentimento motivou a divulga��o de carta aberta, por pacientes e seus familiares, em que cobram provid�ncias e apoio da Backer. O protesto coincide com o aumento de casos investigados, que passaram ontem a 34, segundo a Pol�cia Civil, com seis mortes.
Geraldo prestou depoimento na tarde de ontem, depois de ficar nove dias internado ap�s beber a cerveja Belorizontina. Ele foi uma das quatro pessoas – entre familiares e pacientes com suspeita de intoxica��o – intimadas a depor ontem. J� se passaram 35 dias desde a instaura��o do inqu�rito e as queixas de falta de assist�ncia por parte da cervejaria se multiplicam.
O mec�nico Geraldo ficou internado por nove dias no Hospital da Unimed, no Bairro Santa Efig�nia, na Regi�o Leste de Belo Horizonte, com a suspeita de intoxica��o. Hoje se recupera em casa, de onde contou ter sa�do com dificuldade de se locomover e problemas nos olhos, para ir at� a delegacia. Ele disse que consumiu tr�s garrafas de cerveja em casa, durante confraterniza��o em 2 de janeiro. “Tomei cervejas e uma dose de cacha�a. No dia seguinte, comecei a me sentir mal. Senti muita tonteira, dor abdominal, dor no corpo, minha vis�o ficou turva e fiquei com dificuldade para respirar. Emagreci 10 quilos no �ltimo m�s”, contou. A esposa dele, Luzi Braga, de 51, conta que tarefas simples de casa se tornaram desafiadoras para Geraldo: “Est� melhorando, mas se tornou outra pessoa”.
Esposa de uma das v�timas, que denuncia n�o ter recebido suporte da cervejaria: 'Minha filha de 8 anos chama pelo pai. Um dia ele deu boa noite, disse que a ama, e n�o voltou mais' (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
A fam�lia cobra um posicionamento da Backer e ajuda para custear o tratamento. O mec�nico sustenta que a empresa n�o ofereceu nenhum tipo de assist�ncia. “A Backer tem que ter respeito pelo seu consumidor. Espero que ainda me procurem”, disse. Luzi refor�a o apelo: “Preciso de ajuda. N�o posso deixar meu marido sozinho. Sou faxineira e n�o estou podendo sair de casa. Ele � mec�nico e tamb�m n�o consegue trabalhar. Temos uma filha. Espero que a empresa arque com os nossos gastos com o tratamento”.
Outro lado
A Backer afirma que recorreu ao MP para ampliar o apoio que tem dado aos familiares de consumidores que disseram ter sofrido algum problema de sa�de. “Diante disso, dentro das 72 horas, a empresa analisou documentos e realizou reuni�es de forma individualizada com familiares de 12 consumidores”, sustenta. De acordo com a cervejaria, ficou definido que o atendimento ser� formalizado junto aos familiares, uma vez que h� pedidos que extrapolam o fornecimento de recursos financeiros. A empresa sustenta que vai informar um contato para agendamento do atendimento psicol�gico individualizado ou . “Os familiares dever�o entrar em contato e realizar o agendamento de acordo com sua disponibilidade e comodidade”, informou.
“Os demais consumidores atendidos, que n�o foram contemplados pelo apoio preliminar da empresa nesse primeiro contato, continuar�o a ser monitorados e receber�o toda a assist�ncia da cervejaria para aux�lio nas pr�ximas fases e suporte m�dico conveniente ao caso”, disse a empresa, em nota. “O atendimento de Geraldo Lopes est� sendo realizado pela equipe multidisciplinar estruturada pela Backer. Ronaldo n�o entrou em contato por meio do canal disponibilizado. A cervejaria refor�a que, por tratar-se de objeto de investiga��es pelas autoridades, as informa��es sobre esses essas pessoas s�o confidenciais, por isso � importante que eles entrem em contato”, conclui o texto.
Sobre a carta aberta, a empresa divulgou: “As tratativas feitas em conjunto com o Minist�rio P�blico Estadual est�o sendo observadas na �ntegra e todas as comunica��es oficiais est�o sendo formalizados perante a autoridade competente, que est� ciente do cumprimento dos atos pela empresa”.