
O toque da sirene que h� um ano expulsou 125 fam�lias de seus im�veis em Macacos, como � mais conhecido o distrito de S�o Sebasti�o das �guas Claras, em Nova Lima, na Grande BH, ganhou, para alguns, o apelido de “toque do terror”. Ainda mais por soar 22 dias ap�s a maior trag�dia humanit�ria do pa�s, o rompimento da Barragem da Mina C�rrego do Feij�o, tamb�m da mineradora Vale, em Brumadinho, com o dram�tico saldo de 259 mortos e 11 ainda considerados desaparecidos. “Estava vendo tev� na hora do alarme. Chovia demais. Fiquei com medo de morrer bebendo barro, pois a imagem, naquele momento, era a de Brumadinho”, diz Carlos Alberto de Melo, conhecido como Xuru, que amarga muitos preju�zos.
Dono de uma f�brica de bala del�cia famosa na regi�o, hoje fechada, Xuru traz h� meses um “n�o engasgado”. Ap�s ajuizar a��o contra a empresa para receber indeniza��o, ouviu a negativa de um advogado. O caminho agora ser� via conciliadores, para acelerar o processo. “Tenho vontade de ir embora daqui com a fam�lia, mas, antes, preciso resolver essa quest�o”, resume.
Morando com a mulher, Paloma, e o filho Raphael, de 11, em casa alugada pela mineradora, Xuru foi na quarta-feira, com o Estado de Minas, � frente do emp�rio comandado pela mulher e em cujo subsolo funcionava a f�brica, ent�o com sete empregados fixos e quatro indiretos. “A sirene tocou �s v�speras do carnaval, ent�o estava com 300 potes de bala prontos e 900 em produ��o para o per�odo da folia. Em m�dia, faz�amos de 24 a 26 quilos de bala por dia.”
Na porta do emp�rio, v�-se a placa da Defesa Civil informando que o im�vel se encontra em �rea de risco. “No in�cio, foi um terror. Agora, j� estamos mais calmos”, conta Xuru, enquanto guia a equipe cortando caminho, como ocorre muito no interior, pelos quintais de amigos e familiares. Uma das paradas � na casa de dona Aur�lia, m�e de Paloma. Do forno, ela tira roscas caseiras e oferece aos visitantes, com suco de frutas. Felizmente, nesta resid�ncia, a fam�lia pode continuar respirando aliviada e curtir todos os encantos que Macacos oferece, j� que a moradia n�o fica em �rea de risco.
DANOS MORAIS Residente h� alguns anos em Macacos, uma mulher que prefere n�o se identificar conta que perdeu o emprego, e diz n�o concordar com os m�todos da Vale no trato com a comunidade de maneira geral. “H� muita falta de informa��o”, afirma, “e a �ltima delas diz respeito a uma 'nova mancha', de onde foram evacuadas mais fam�lias”, sustenta.
Criticando a falta de isonomia quanto aos acordos no escrit�rio da mineradora com os desalojados e demais prejudicados, a mulher reclama da morosidade nas negocia��es. “O prazo entre uma reuni�o e outra, para definir as indeniza��es, � dilatado demais”, indigna-se. Na sua pauta est�o os preju�zos pela perda do emprego (lucro cessante) e danos morais. “S�o muitos os absurdos”, resume.

"Estava vendo tev� na hora do alarme. Chovia demais. Fiquei com medo de morrer bebendo barro, pois a imagem, naquele momento, era a de Brumadinho"
Carlos Alberto de Melo, o Xuru, que teve de fechar a f�brica de bala del�cia localizada em �rea de risco
Resposta em nota
O Estado de Minas enviou uma s�rie de perguntas � Vale, com base nas queixas e den�cnias de moradores de Macacos. Recebeu de volta um texto com considera��es sobre um ano do alerta. Veja os principais trechos:
» Assist�ncia
“A Vale segue empenhada em prestar assist�ncia �s 125 fam�lias que foram acomodadas, com seguran�a, em hot�is, pousadas, casas de parentes ou moradias alugadas pela empresa. Em 28 de janeiro deste ano, outras duas fam�lias tamb�m foram realocadas em car�ter preventivo, levando em considera��o o termo de compromisso firmado com o Minist�rio P�blico de Minas Gerais para revis�o do dam break (proje��o de impacto real em caso de vazamento dos rejeitos da barragem) de todas as barragens em Minas. Resultados preliminares sugeriram uma mancha de inunda��o pr�xima do horizonte que considera 100% do carreamento de rejeitos em um cen�rio extremo de rompimento, o que implicou na realoca��o.”
» Doa��es e indeniza��es
“Os moradores da zona de autossalvamento ou aqueles que possuem im�veis e/ou atividades comerciais nas �reas evacuadas receberam doa��es financeiras no valor de R$ 5 mil para despesas emergenciais. Desde mar�o, cada um tem direito tamb�m a vouchers-alimenta��o no valor de R$ 40 por dia, que podem ser usados em 63 estabelecimentos do vilarejo. Uma fam�lia de quatro pessoas, por exemplo, recebe R$ 4,8 mil por m�s com o benef�cio.”
» Danos morais e materiais
Para “uma solu��o c�lere e justa para danos individuais”, a Vale firmou com a Defensoria P�blica de Minas Gerais um termo de compromisso para indeniza��o de danos materiais e morais, referente ao rompimento da Barragem I, da Mina C�rrego do Feij�o, em Brumadinho. “Esse termo serve de par�metro para indeniza��es referentes � evacua��o das barragens Sul Superior, em Bar�o de Cocais, e B3/B4, em Macacos. No total, a Vale j� celebrou mais de 5 mil acordos, indenizando integralmente as pessoas. Nessas a��es, j� foram destinados recursos superiores a R$ 2,8 bilh�es. As indeniza��es por danos materiais e morais s�o negociadas individualmente.”
» Plano de desenvolvimento
“Em setembro do ano passado, a Vale lan�ou o Plano de Desenvolvimento de Territ�rios Impactados, cujos recursos ultrapassam R$ 190 milh�es, contemplando ainda Bar�o de Cocais e Itabirito. O conjunto de iniciativas foi constru�do com base nas demandas, car�ncias e voca��o de cada uma das localidades. Em Macacos, j� foram entregues a escola provis�ria Rubem Costa Lima, a reforma da Associa��o Comunit�ria e a revitaliza��o do Espa�o do Produtor.”
» Turismo
“A Vale est� apoiando, oficialmente, o pr�-carnaval e o carnaval em Macacos, com infraestrutura e financiamento de blocos e outras atra��es.” O texto diz que “dados da Secretaria de Turismo de Nova Lima apontam ocupa��o pr�xima de 100% nas pousadas e hot�is durante o per�odo, o melhor indicador, ao longo do �ltimo ano, da retomada do turismo na cidade”.
» Seguran�a da barragem
“A barragem B3/B4 � monitorada 24 horas por dia por meio de v�deo, radar e sat�lite. Tamb�m possui esta��es rob�ticas capazes de detectar movimenta��es milim�tricas. Entre as melhorias, est�o a instala��o de piez�metros, o rebaixamento do n�vel de �gua dos reservat�rios, a limpeza dos canais de drenagem e a perfura��o de po�os e constru��o de canais de cintura para evitar a contribui��o de �gua da chuva para o interior da estrutura.”