
“N�o sei como vou fazer. Se volto, posso ficar debaixo d'�gua, mas minha vida est� parada at� que resolvam se vou poder morar na minha casa de novo”. O desabafo � do pedreiro Carlos Jos� Silva, de 23 anos. Como ocorre com ele, a possibilidade de n�o poder retornar nunca mais �s suas casas atormenta a vida das 51 fam�lias que foram removidas de �reas de risco de inunda��o devido ao fato de a Represa Vargem das Flores, operada pela Copasa, estar com n�vel acima de sua capacidade, como mostrou ontem a reportagem do Estado de Minas. O pr�prio diretor de opera��o da Copasa, Guilherme Frasson Neto, afirmou para a reportagem que n�o sabe ainda se as pessoas removidas, sobretudo da Vila das Flores, em Betim, na Grande BH, poder�o regressar ap�s o per�odo chuvoso. A Prefeitura de Betim e o Minist�rio P�blico (MP) tamb�m ainda n�o definiram o destino das pessoas removidas.
Com essa incerteza, v�rias pessoas est�o sem saber se devem se instalar de vez nas moradias provis�rias que a Copasa providenciou ou se passam o dia na casa em �rea de risco de inunda��o para que seus im�veis e pertences n�o sejam saqueados. “� importante deixar claro que n�o est� definido se no caso daquelas pessoas em locais mais cr�ticos e que foram para hot�is e casas alugadas a decis�o de retorno ser� para a �rea irregular (em que estavam). Se em 2021 houver chuvas excessivas, vai ocorrer um vertimento (quando a �gua passa da capacidade do reservat�rio e o excedente � eliminado por dutos) natural e todo mundo vai ter de ser removido de novo? N�o sei se isso vai acontecer”, afirma o diretor de opera��o da Copasa.
Em meio � indecis�o, a Copasa conseguiu reduzir em 1,1 ponto percentual o n�vel da barragem, registrando ontem um volume de 98,9% de sua capacidade m�xima, depois de seis dias trabalhando com a represa acima da capacidade. Tal situa��o tinha levado a �gua do barramento a verter o que exigiu o emprego de bombas e de descargas que removem 6 mil litros por segundo, o mesmo volume captado no reservat�rio Rio Manso, o maior da Copasa na Grande BH. Tudo que sai da represa invariavelmente � injetado no Ribeir�o Betim, que passou do porte de um pequeno c�rrego para o de um rio de correnteza forte, capaz de destruir pontes, invadir casas e vias p�blicas, sobretudo em caso de chuvas fortes como as previstas para o carnaval, acima de 100 mil�metros.
“Se tiver uma chuva forte, acima de 100 mil�metros, o excedente de �gua vai verter de novo para o rio, pois o barramento foi feito para isso. Abrimos descargas e colocamos bombas, mas ficou sete anos sem verter e nesse tempo as pessoas foram construindo na �rea de v�rzea do rio. Com a proje��o de chuvas at�picas, tivemos uma preocupa��o e tamb�m a prefeitura e a defesa civil de identificar se existiam pessoas na �rea de inunda��o. Tinha gente morando praticamente dentro do rio”, afirma Neto.
Ap�s as remo��es, os labirintos de vielas apertadas e barrac�es de tijolos sem reboco da Vila das Flores perderam o movimento intenso de pessoas indo para o trabalho, estudando, empinando pipa e pedalando bicicletas. A �rea mais baixa do bairro, em Betim, na Grande BH, se tornou um lugar silencioso, com ares de abandono onde perambulam sujeitos suspeitos e c�es que foram deixados pelas 51 fam�lias que sa�ram de suas casas situadas na v�rzea do Ribeir�o Betim, um manancial sob risco de inunda��es com a Represa de Vargem das Flores operando no limiar de sua capacidade m�xima.
As �nicas lembran�as dessa situa��o de perigo na comunidade abandonada s�o as numera��es que a defesa civil pintou com tinta spray vermelha nas casas que se encontram nas �reas de risco de inunda��o pelo Ribeir�o Betim. O maior medo da ajudante de obras Valeriana dos Santos, de 31 anos, � que ela e tr�s netos n�o possam mais voltar para suas casas. Segundo Valeriana, morar num hotel com crian�as � uma situa��o de extrema precariedade. “Para tirar a gente foi r�pido, mas at� agora n�o disseram o que ser� da gente. Estou no hotel no Centro de Betim, mas queria ficar na minha casa”, disse ela, que volta e meia precisa retornar � �rea de risco de inunda��o para buscar os filhos. “N�o queria sair n�o, mas assusta mesmo. A �gua entrou at� o meu terreiro e me deixou presa, sem lugar para sair de casa. Para meus vizinhos foi pior. Alguns perderam tudo e j� deixaram a porta do barraco aberta porque n�o sobrou nada mesmo”, conta.
Futuro
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel (Semmad) de Betim informou que liminar concedida pela Justi�a em 28 de janeiro estabelece medidas emergenciais visando � seguran�a da popula��o. “Existem tratativas junto ao MP para defini��o conclusiva quanto � situa��o das fam�lias que moram na mancha de inunda��o, eventualmente causada pelo vertimento da Bacia de Vargem das Flores (mancha essa apontada pela Copasa)”, informou a administra��o municipal.
A Semmad afirma que as ocupa��es irregulares s�o uma preocupa��o da Prefeitura de Betim, principalmente em �reas de Preserva��o Ambiental (APAs), como no caso da regi�o da V�rzea. “A Semmad tem intensificado a fiscaliza��o, garantindo a seguran�a dos mun�cipes e a preserva��o ambiental”.