
Para eles, a festa � trabalhar, garantir a alegria de todos, e, � claro, faturar. Quanto mais melhor. Mas pra isso, t�m que suar e l� se vai a pr�pria folia. Nada de participar de desfiles ou ao menos assistir aos cortejos. A hora � de garantir o sustento e complementar a renda. Bebidas, fantasias de �ltima hora, viseiras, tudo para agradar o foli�o. Muito suor, cerveja para todos e bom humor para n�o desafinar.
O casal Rodrigo Queiroga, de 41 anos, e Alexandra Carvalho, de 39, j� trabalha com artesanato h� 20 anos. Propriet�rios de uma loja na feira da Savassi, os dois aproveitam o carnaval para incrementar os ganhos. Eles mesmos produzem brincos de paet� vendidos ao p�blico por R$ 15 o par, e viseiras femininas, a R$ 25 cada uma, ambos tend�ncias do carnaval belo-horizontino, com multiplica��o em grande escala dos artes�os que os produzem.
“J� trabalhamos com fantasias de carnaval h� algum tempo e, como sobraram essas mercadorias, apostamos em vend�-las no carnaval. Vimos pelo Instagram que os brincos est�o muito na moda. Imaginamos que, na ter�a-feira (amanh�), arrecadaremos um bom dinheiro”, confia Alexandra, que prometia andar de bloco em bloco na regi�o central para ampliar as vendas.

A tamb�m artes� Priscila dos Santos, de 28, investiu na venda dos tradicionais arquinhos femininos, mas n�o estava satisfeita com o movimento. Ela come�ou a trabalhar no bloco Chama o S�ndico, mas depois ia investir no Al� Abacaxi, tamb�m com trajeto na �rea central. “Achei que o fluxo de venda seria melhor. Mas h� muitos ambulantes e lojas abertas. No domingo, normalmente as lojas n�o abrem, mas hoje est�o cheias.”

Propriet�ria de uma loja de eletr�nicos em BH, a comerciante Caroline Oliveira, de 32, espera arrecadar mais no carnaval para investir na educa��o dos filhos. Pela primeira vez, ela optou por investir na compra de bebidas e refrigerantes para vender nos blocos. Segundo ela, o objetivo � embolsar pelo menos R$ 1 mil por dia l�quidos. “Concorr�ncia tem em todo lugar. J� trabalho no com�rcio h� algum tempo e conhe�o bem as dificuldades. E o maior problema � aquele vendedor que joga os pre�os muito para baixo para acabar r�pido com a mercadoria. Isso atrapalha os demais”.
Este ano, mais um empecilho para driblar: a bebida carregada em coolers pelos pr�prios foli�es para abastecer a galera. “Eles compram cervejas e refrigerantes por atacado com pre�o bem abaixo do que vendemos. Ent�o, nosso lucro fica menor”. J� a artes� Dani Moreira apostou no bloco Pena de Pav�o para faturar com a venda de tiaras. No s�bado, ela esteve no bloco Divina Banda e passou todo o dia em Santa Tereza, para onde voltou ontem � tarde, durante a apresenta��o do Rom�nticos s�o Loucos.
FOLI�ES ECON�MICOS
Se tem gente querendo trabalhar, n�o falta foli�o no outro lado da corda tentando gastar menos. Na companhia de cinco amigos, a comerciante Let�cia Reis, de 21 anos, veio de Contagem com um cooler com refrigerantes, vodka e cervejas para n�o ter economizar. “Se f�ssemos comprar tudo diretamente da m�o de vendedores, gastar�amos uns R$ 250. Mas tudo o que compramos ficou um pouco mais de R$ 100. Essa economia � importante. A gente se diverte e protege o bolso”.Igor Duarte, de 22, fez o mesmo. Morador de Divin�polis, ele est� hospedado na Rua S�o Paulo, no Bairro Lourdes, Regi�o Centro-Sul da capital mineira. "Para onde eu for, levo esse cooler", contou o foli�o, calculando um economia de R$ 100.

Nem a dist�ncia impediu Lucas Pimenta, de 18, de tentar economizar. Morador de Ribeir�o das Neves, ele chegou de �nibus a Belo Horizonte segurando um cooler e um carrinho de compras t�pico de feiras e sacol�es. Junto com o amigo Cleiton, de 38, tamb�m de Betim, ele acredita ter economizado mais de R$ 200. "Pegamos um objeto de cada amigo e montamos esse cooler. Aqui,a cerveja � quase R$ 8 e n�s compramos por R$ 2,70."
COM SABOR DE OUSADIA
O l�quido toca a l�ngua e o gosto de “suco de pozinho” � logo sentido pelo foli�o. Ent�o, ele passa pela garganta e a sensa��o, agora, � de que h� algo queimando por dentro, como se fosse um gole forte de vodca. A a��o � repetida mais algumas vezes e, a�, a bebida finalmente ativa. Depois disso, � melhor perguntar a seu amigo o que acontece….
A bebida em quest�o � a Ousadia, nova sensa��o do carnaval de Belo Horizonte, que � produzida pela Arbor Brasil, mesma fabricante da catuaba Selvagem, que j� foi estrela na cidade . De v�rias cores – verde, amarelo, laranja e vermelho – e poucos sabores, o drink caiu no gosto dos foli�es este ano. E � bom avisar que o verbo tem dois sentidos: � beber e cair. Com meio litro de muita cor e 13,5% de muito �lcool, a bebida � sempre vista na m�o dos foli�es.

“Fico arrepiada quando bebo esse tipo de coisa. Parece �lcool com corante”, diz uma jovem que j� teve a ousadia em experimentar a novidade e prefere manter dist�ncia da garrafa. Por outro lado, h� quem tenha aderido � nova sensa��o e comprovado que a moda, durante o carnaval, tamb�m passa pela garganta. Segurando uma ousadia verde, “sabor lim�o”, Willian Lima, de 23 anos, n�o mostra nenhuma d�vida ao falar sobre a bebida: “� mil vezes melhor do que corote de lim�o”, afirma ao comparar com a bebida que mais fez sucesso na folia do ano passado.
SUCESSO
Ao curtir o cortejo do Angola Janga, na Pra�a Sete, com uma blusa verde estampada com a frase “Cruz Quero”, Jo�o Victor, de 23, celebra a nova bebida. “� melhor que corote, porque al�m de embriagar, nos d� ousadia”, diz o n�o t�o s�brio foli�o.

Quem comemora tamb�m o sucesso da bebida s�o os ambulantes, que com a grande procura, chegam a vender o �lcool por R$ 10. “Essa playboyzada gosta, ent�o a gente vende”, explica Vin�cius, de 18 anos, que vende Ousadia em um pequeno cooler, junto com sua namorada Laura Ara�jo.
“A gente fala que � gostoso, mas nem sabemos o gosto”, confessa outra ambulante, Ivone das Gra�as, de 43. Ela conta que, atualmente, a bebida � a mais vendida. Desde sexta, quando o carnaval come�ou, Ivone j� vendeu 6 caixas de 15 garrafas. “Ousadia � o que mais vende, o Corote – que brilhou no ano passado – j� est� saindo de moda”. O pre�o, segundo ela varia, de R$ 5 a R$ 10, dependendo da regi�o por onde passa o bloco.
Al�m do Ousadia, outra bebida que atrai os foli�es � a Skol Beats GT (com Gin T�nica). A Lata de 269 ml chega a superar os R$ 10, sendo encontrada, mesmo na Regi�o Central de Belo Horizonte, onde os pre�os costumam ser menores, por R$ 12.
Ao mesmo, apesar de todas as inova��es, os ambulantes confirmam: a boa e velha cerveja segue sendo a mais procurada. Custando, em m�dia, R$ 6, os lat�es de Skol, Brahma e Budweiser s�o vendidos por praticamente todos os ambulantes da capital mineira. “A Brahma continua imbat�vel”, explica Guilherme dos Santos, ambulante que vendia v�rios tipos de bebida na Pra�a Sete, na tarde de ontem.
E o nosso bloco, uai!
Estreia nos bastidores

“Nascida em fevereiro, foli� de carteirinha e apaixonada pelo carnaval. Antes mesmo de trabalhar no Estado de Minas eu j� havia dado as caras nas p�ginas do caderno de cultura, justamente por causa da festa de Momo. 'Alegria compartilhada: carnaval � usado muitas vezes como pretexto para a reuni�o de amigos de longa data', dizia o texto. Mas n�o em 2020. Neste carnaval, me separei dos amigos de folia e comemorei meu aniversario a trabalho, no desfile do Tchanzinho Zona Norte. Quando me perguntaram se eu gostaria de participar da cobertura da festa, na mesma hora abri um sorriz�o e concordei sem pestanejar. Na cabe�a o pensamento: 'de carnaval eu entendo'. Mas, que nada! Muito al�m das fantasias e da empolga��o de foli�, durante minha primeira cobertura do carnaval descobri que a festa mais democr�tica do mundo era tamb�m protesto, arte e principalmente resist�ncia. Foram quase 30 dias acompanhando cada detalhe da folia, os problemas com a chuva, as dificuldades financeiras dos blocos, os preparativos, os impasses com os trios, que permaneceram at� o �ltimo momento. Brinquei com os colegas da Reda��o: 'Voc�s querem carnaval com ou sem emo��o?'. E bota emo��o nessa cobertura.”