
Quem passa pela Avenida Afonso Pena, na altura da Igreja S�o Jos�, no Centro de Belo Horizonte, n�o fica alheio ao pedido de doa��es de uma fam�lia de ind�genas venezuelanos para que possam se alimentar. A situa��o � a face aparente de uma das maiores crises humanit�rias do planeta, que faz com que milhares de venezuelanos migrem em busca de melhores condi��es de vida. A fam�lia chegou � capital mineira h� menos de uma semana. Sem ter onde morar e vivendo ao relento, a fam�lia composta por 10 pessoas, sendo cinco crian�as, ainda n�o tinha sido atendida por entidades de acolhida aos refugiados e migrantes. Ontem, no final da tarde, o Servi�o Jesu�ta a Migrantes e Refugiados informou � reportagem do Estado de Minas que contatou a fam�lia para fazer esse acolhimento.
Um dos maiores movimentos migrat�rios para o Brasil, no s�culo 21, vem da Venezuela, pa�s latino-americano, que enfrenta crise econ�mica e pol�tica. Pela proximidade entre Brasil e Venezuela, pa�ses fronteiri�os, muitos venezuelanos v�m para c� na esperan�a de vida nova. Em geral, ficam em Manaus, na Regi�o Norte, mas alguns poucos v�m para as regi�es mais ao sul do pa�s como o caso da fam�lia de Chilo Perez, de 40 anos, a mulher Flora Perez, de 35, e os cinco filhos.
De acordo com o relat�rio do Comit� Nacional para Refugiados (Conare), �rg�o ligado ao Minist�rio da Justi�a e Seguran�a P�blica, o continente americano tem cerca de 644 mil refugiados. A situa��o mais grave � na Venezuela. Em junho de 2019, estimava-se que cerca de 4 milh�es de venezuelanos naquele pa�s solicitaram reconhecimento da condi��o de refugiado. At� dezembro de 2018, o �rg�o recebeu 85.438 solicita��es de reconhecimento dessa condi��o. A maior parte delas (81%) foi apresentada no estado de Roraima. Em Minas, foram 378 pedidos.
Chilo, a mulher e os filhos engrossam esse contingente de venezuelanos que tiveram que sair do pr�prio pa�s. Durante o dia, eles percorrem as ruas do Centro da capital em busca de ajuda. Na manh� de quinta (27), a reportagem do EM conversou com Chilo, que estava com dois dos cinco filhos na esquina entre Avenida Afonso Pena e Rua Esp�rito Santo. As crian�as t�m 10, 11, 7, 5 e 1 ano de idade. Sem falar portugu�s, a fam�lia recebeu ajuda para confeccionar um cartaz e pedir doa��es para alimentar os filhos.
A fam�lia vem de Tucupita, cidade que tem grande parte da popula��o formada por ind�genas da etnia Warao e � a capital do estado Delta Amacuro. Esse fluxo migrat�rio se intensificou em 2017, quando milhares de venezuelanos fugiram do pa�s motivados pela fome.
Chilo chegou a Belo Horizonte h� quatro dias. A fam�lia entrou no Brasil por Manaus, depois seguiu para Fortaleza e de l� veio para a capital mineira. “Estamos muito cansados. Viajamos tr�s dias de �nibus de Fortaleza at� aqui”, contou. As crian�as est�o descal�as, mas aparentemente saud�veis. A fam�lia se divide, parte dos filhos fica com o pai e parte com a m�e. Os dois meninos brincam, fazendo topetes no cabelo, e, alheios �s pessoas que passam pela Avenida Afonso Pena, sorriem. Chilo disse que buscou ajuda em um abrigo e que est� tentando regularizar a situa��o aqui. Quando questionado sobre o que a fam�lia necessita, ele disse que a alimenta��o tem sido o maior problema. No per�odo em que conversamos com a fam�lia, percebemos a acolhida deles pelos belo-horizontinos. Muitos paravam para deixar uma colabora��o em dinheiro.
Situa��o grave
Em junho do ano passado, o Conare reconheceu como “grave e generalizada viola��o de direitos humanos” a situa��o na Venezuela. Essa decis�o possibilitou a ado��o de procedimento simplificado no processo de determina��o da condi��o de refugiado para nacionais venezuelanos, mas n�o dispensa os interessados da entrevista de elegibilidade.
O Conare informou que, em dezembro, concedeu ref�gio para 21.432 venezuelanos, uma decis�o hist�rica tomada a partir de uma resolu��o e de ferramentas de intelig�ncia que permitiram cruzamento de dados para julgamento em bloco de processos.
S�o considerados refugiados toda pessoa que deixa o seu pa�s de origem ou de resid�ncia habitual devido a fundado temor de persegui��o por motivos de ra�a, religi�o, nacionalidade, grupo social ou opini�es pol�ticas, como tamb�m devido � grave e generalizada viola��o de direitos humanos, e n�o possa ou n�o queira se acolher da prote��o de tal pa�s.
Crise humanit�ria
» Das 11.231 pessoas historicamente reconhecidas como refugiadas, atualmente, 6.554 mant�m tal condi��o no Brasil.
» At� dezembro de 2018, foram registradas 85.438 solicita��es de reconhecimento da condi��o de refugiado da Venezuela. Dessas, 61.681 foram recebidas apenas em 2018 e 81% das solicita��es foram apresentadas no estado de Roraima.
Fonte: Conare/Minist�rio da Justi�a