Flagrantes: unidades de sa�de t�m brechas na linha de frente contra novo coronav�rus
EM ouve de servidores de UPAs e centros de sa�de de BH que faltam m�scaras que d�o mais prote��o a profissionais, como tamb�m as mais b�sicas, inclusive para pacientes
postado em 13/03/2020 06:00 / atualizado em 13/03/2020 08:17
Em UPAs da capital, uso de m�scaras no atendimento n�o � regra (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Para cada 200 pacientes infectados pelo novo coronav�rus na China, cinco eram m�dicos e enfermeiros. Na luta para tratar os mais de 80 mil doentes, quase 2 mil desses profissionais tamb�m contra�ram a COVID-19 no pa�s. A situa��o mostra que, como est�o na ponta, funcion�rios do sistema de sa�de se tornam mais vulner�veis. Apesar da evid�ncia, h� unidades em Belo Horizonte que ainda n�o garantem prote��o recomendada a todos os servidores e usu�rios. Ontem, a equipe de reportagem do Estado de Minas foi a duas unidades de pronto-atendimento (UPAs) na capital e foi informada de que nos estabelecimentos n�o havia m�scaras N95 – modelo espec�fico a ser usado por quem entra em contato com poss�veis contaminados, segundo preconiza o Protocolo Coronav�rus 2020, da Secretaria Estadual de Sa�de (SES-MG). E, em um dos postos de sa�de visitados pelo EM no Aglomerado da Serra – comunidade mais populosa de BH, com mais de 46 mil habitantes – a informa��o era de que n�o havia sequer m�scaras comuns para pacientes ou trabalhadores.
Na UPA Oeste, na Avenida Bar�o Homem de Melo, no Bairro Jardim Am�rica, a manh� de ontem foi de sala de espera cheia, com 42 pessoas tomando assentos, se escorando em pilares e balc�es. Entre acessos de tosse e gente prostrada que aguardava atendimento, era poss�vel identificar perfis de risco entre as pessoas mais debilitadas, como beb�s carregados no colo por tr�s m�es e 12 idosos assentados, aparentando desconforto. Na recep��o, uma atendente usava m�scara cir�rgica simples. As outras duas sequer essa prote��o usavam. Segundo protocolo da Sa�de estadual, o coronav�rus tem uma zona de cont�gio a partir de dois metros.
Um homem se aproximou pedindo informa��es para atendimento a uma tia, que mora no Bairro Estoril, pois ela voltara de uma viagem � Terra Santa (roteiro que costuma incluir, al�m de Israel, a It�lia, onde o novo v�rus j� contaminou mais de 10 mil pessoas, matando mais de 600) e se encontrava com sintomas compat�veis com os da COVID-19: febre, cansa�o e tosse seca. A primeira rea��o de funcion�rias foi de espanto. Uma consultava outra, sem demonstrar n�tida certeza sobre procedimento e orienta��es a adotar. Uma que estava mais distante disse que o melhor seria levar a idosa a um centro de sa�de. “Leva para o Posto de Sa�de do (Bairro) Hava�. Mas p�e uma m�scara nela e liga l� antes, para que eles preparem tudo”, recomendou.
Consultando as mensagens do celular, visivelmente preocupado, o homem perguntou se poderiam fornecer-lhe uma m�scara para que a tia usasse e n�o contaminasse mais ningu�m. A resposta: “N�o temos m�scaras adequadas nem para n�s aqui na UPA. A gente precisaria de uma m�scara N95, mas s� temos poucas cir�rgicas comuns, que n�o servem para quase nada e n�o s�o suficientes nem para n�s”, relatou.
No extremo oposto da capital mineira, a UPA Leste, na Avenida dos Andradas, no Bairro Vera Cruz, o movimento era similar na manh� de ontem, com 43 pessoas esperando atendimento dentro e fora da unidade. De frente para a multid�o, as atendentes da recep��o n�o usavam m�scaras, como muitos funcion�rios internos que podiam ser vistos nos corredores e entre as salas de atendimento.
Trabalhadores relatam falta da prote��o mais eficaz e escassez da mais simples (foto: Mateus Parreiras/EM/DA Press)
Os que dispunham de m�scaras tamb�m usavam equipamentos comuns, ineficazes em caso de contato com eventuais portadores do novo coronav�rus. Ao ser perguntada se forneceria m�scaras para uma pessoa com suspeita de COVID-19, uma delas responde que sim, mas mostra tamb�m uma m�scara comum. Questionada se n�o haveria do modelo de maior prote��o, o N95, a mulher responde: “Aqui, s� temos dessa para todo mundo. A secretaria (Municipal de Sa�de) deixou uma caixa dessas, mas ningu�m tem de outro modelo, nem quem recebe e examina os pacientes”, admitiu.
Em centros de sa�de, a situa��o pode ser ainda mais prec�ria. No Posto Padre Tarc�sio, que atende � Favela do Cafezal, no Aglomerado da Serra, n�o h� nem sequer m�scaras, segundo informam funcion�rios. Sem se identificar e revoltados com a situa��o que os exp�em a risco de comprometimento da pr�pria sa�de e a de suas fam�lias, alguns afirmam que muitas pessoas deixaram de comparecer � unidade por n�o haver o acess�rio que previne contato. “N�o tem para n�s nem para os pacientes. J� pedimos e n�o entregaram. Uma pessoa, outro dia, quase foi expulsa porque estava tossindo muito. Foi um custo para trazer uma m�scara para a pessoa, mais para acalmar os outros pacientes, que j� estavam nervosos. Imagine quando essa doen�a come�ar a se propagar por aqui?”, questionou uma das funcion�rias.
O Sindicato dos Servidores e Empregados P�blicos de Belo Horizonte (Sindbel) confirma que tem recebido e que apura den�ncias de falhas na disponibiliza��o de equipamentos de prote��o em unidades de sa�de da capital.
'Uso racional'
J� a Prefeitura de BH, questionada sobre a situa��o, sustentou que Belo Horizonte segue as orienta��es da Secretaria de Estado da Sa�de quanto ao uso de insumos para o atendimento a casos suspeitos de COVID-19. “N�o h� falta de m�scaras na Rede SUS-BH. A Secretaria Municipal de Sa�de est� fazendo uso racional desses insumos e n�o realiza distribui��o de m�scaras para que as pessoas levem para casa”, diz nota do munic�pio.
De acordo com a PBH, somente profissionais que mant�m contato direto com casos suspeitos fazem uso da m�scara N95 – embora funcion�rios de duas UPAs tenham informado ao EM n�o haver esse tipo de material dispon�vel nas suas unidades. “Os profissionais que realizam o atendimento da linha de frente do Cecovid (centro especializado em coronav�rus), UPAs e centros de sa�de, como recepcionista, administrativo respons�vel pelas fichas e enfermeiros que se encontram na classifica��o, fazem uso das m�scaras simples”, acrescenta o texto. “A orienta��o � de que os pacientes com sintomas de caso suspeito sejam atendidos imediatamente e encaminhados para leito de isolamento, fazendo uso de m�scara simples.”
(foto: Arte EM)
Problemas tamb�m em unidade de refer�ncia
Se na rede municipal h� evid�ncias de falhas, na estadual tamb�m h� den�ncias de problemas. Segundo o Sindicato �nico dos Trabalhadores da Sa�de de Minas Gerais (SindSa�de), antes de o primeiro caso suspeito ser confirmado, a entidade foi chamada ao Hospital Eduardo de Menezes, refer�ncia para tratamento de pessoas infectadas pelo novo coronav�rus. De acordo com a entidade, o hospital n�o estava preparado, pois teria improvisado um setor para isolamento, com precau��o contra got�culas (para que as secre��es de tosse e espirro n�o passem pelas barreiras do isolamento).
Ap�s uma s�rie de reuni�es a situa��o na unidade melhorou, segundo a entidade de classe, mas “os leitos de CTI estavam sem isolamento adequado e pedimos para corrigir, mesmo n�o havendo um paciente grave, pois isso pode evoluir rapidamente”. “O que cobramos � que se instalem filtros que faltam, pois os leitos de isolamento do tratamento intensivo n�o s�o barreiras suficientes para evitar o cont�gio.”
Em nota, a Funda��o Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) informou que o hospital “est� apto a receber pacientes com suspeita de COVID-19 (coronav�rus). A unidade est� passando por adapta��es e possui capacita��o e equipe treinada para prestar a assist�ncia necess�ria”.
Na rede privada, o que mais preocupa ao Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Servi�os de Sa�de de Belo Horizonte e Regi�o (Sindeess) � a falta de treinamento de pessoal, em algumas institui��es, nesta fase inicial do enfrentamento ao COVID-19 em Minas Gerais. “Os profissionais s�o treinados e aptos a atuar em sa�de, mas necessitam de treinamento espec�fico diante da pandemia do coronav�rus”, informou a entidade.
Uma das unidades que preocupam, segundo a entidade, � o Hospital da Baleia, que realizou treinamento de uma hora. A institui��o informa que o treinamento teve in�cio ontem, mas que desde o in�cio vem trabalhando na dissemina��o de informa��es de preven��o e seguran�a, por meio da comunica��o interna. “O hospital lembra que n�o � uma institui��o com pronto-atendimento para a popula��o. Por isso, o protocolo � utilizado nos casos em que pacientes j� em tratamento estejam com suspeita.”