
Classificada como a maior favela de Minas Gerais e a terceira maior do Brasil – ficando atr�s apenas da Rocinha, do Rio de Janeiro, e da Favela do Sol, no Distrito Federal –, o Aglomerado da Serra abriga cerca de 50 mil moradores. Castigados pela pobreza e carentes de servi�os de sa�de de qualidade, os moradores dessas �reas est�o na lista dos mais vulner�veis � contamina��o do novo coronav�rus. Por isso, l�deres da pr�pria comunidade se re�nem e tomam medidas para conscientizar, ajudar e proteger a popula��o.
Esse � o caso de Cristiane Pereira (Kika) e Kdu dos Anjos. Os dois s�o respons�veis por uma s�rie de a��es feitas em conjunto para evitar que a COVID-19 se alastre pelas ruas e becos do Aglomerado da Serra, que fica no limite entre as regi�es Centro-Sul e Leste de Belo Horizonte.
“As pessoas n�o entendem, muita gente n�o quer enxergar, acha que � exagero. Aqui tem casa em que moram 10 pessoas em dois c�modos e n�o podem parar de trabalhar. E a�, como faz? � complicado, porque a gente precisa de ajuda do poder p�blico, mas o governo n�o ajuda a gente”, diz Kika, l�der da Associa��o de Moradores.
Em meio � pandemia de coronav�rus, ela e outras lideran�as resolveram contratar um ve�culo de som para conscientizar a comunidade. Nas mensagens, as m�ximas que v�m sendo repetidas por autoridades de sa�de do mundo inteiro: fiquem em casa, cuidem dos idosos, lavem as m�os e sigam � risca as recomenda��es das autoridades. Pedidos que ecoam durante todo o dia pelas ruas da favela. “Salve, Serr�o, salve, comunidade, muito cuidado com o coronav�rus. Ele mata. Ent�o, pega a vis�o: quarentena n�o � f�rias. Vamos ficar em casa.”
O Minist�rio da Sa�de recomenda que as pessoas suspeitas de estar infectadas devem se manter isoladas em um c�modo distante dos outros membros da fam�lia. No caso dos aglomerados, se a casa tiver apenas um c�modo, a orienta��o � de que quem tiver sintomas fique a pelo menos um metro de dist�ncia dos demais moradores.
“A gente est� tentando ajudar essas fam�lias que n�o t�m nem como comer. S�o pessoas que trabalham como aut�nomos e com a pandemia n�o conseguem colocar comida na mesa. � preciso ter um olhar para essa gente. Fico muito aflita, porque n�o temos muitas respostas”, conta Kika.
A l�der � tamb�m uma das respons�veis pelo grupo Serra Resiste, organiza��o comunit�ria. Ela conta, que apesar de ter sido criado h� um ano para outras reivindica��es, o movimento, inicialmente organizado pelo WhatsApp, “tomou for�a” depois da pandemia da COVID-19. Eles s�o respons�veis pelo recolhimento de doa��es e a distribui��o de mensagens pelas m�dias sociais da campanha de preven��o contra a contamina��o pelo coronav�rus.

Kdu dos Anjos, l�der do centro cultural L� da Favelinha, tamb�m est� lutando contra a prolifera��o do v�rus. O grupo, que originalmente foi criado com a inten��o de promover projetos culturais, tomou a frente da conscientiza��o e come�ou a promover v�deos sobre o assunto. O primeiro foi o Coronga News e teve a participa��o de v�rios nomes importantes da comunidade, como o rapper Djonga, Welleton Carlos, Talmon Lima, Negotinho Rima, o pr�prio Kdu e a l�der comunit�ria Kika.
O grupo est� promovendo tamb�m aulas de funk e empreendedorismo on-line. “Essa iniciativa � para mantermos nossa sustentabilidade e incentivar as atividades f�sicas, durante a pandemia de coronav�rus”, diz p�gina no Instagram. Kdu enfatiza a import�ncia da conscientiza��o neste momento. “A gente v� os pontos de �nibus cheios. As crian�as brincando nas ruas. Eu morro de d� de ter que falar para elas ficarem em casa. � complicado”, conta.
Risco maior
Para al�m da alta densidade populacional, as condi��es sanit�rias tamb�m trazem desafios nas favelas. "Nas comunidades, temos transmiss�o muito grande de doen�as respirat�rias, como � o caso da tuberculose. Voc� tem casas muito fechadas, com pouca ventila��o, locais onde n�o chega a luz do sol, com muitas pessoas morando por c�modo", explica a pneumologista Patr�cia Canto. “As medidas podem parecer duras num primeiro momento, mas elas s�o fundamentais para proteger as pessoas de maior vulnerabilidade", incluindo os idosos, ressalta a especialista. "Isso inclui as pessoas com vulnerabilidade social", acrescenta.
Multid�o
No Brasil, aproximadamente 13,6 milh�es de pessoas moram em favelas, e destas, 97% mudaram sua rotina por causa do novo coronav�rus. � o que mostra a pesquisa feita pelo Data Favela em parceria com a Central �nica das Favelas (Cufa) e o Instituto Locomotiva em 20 e 23 de mar�o. Foram entrevistados mais de 1.200 moradores em 262 favelas de todo o Brasil.
A pesquisa mostra que sete em cada 10 fam�lias tiveram a renda reduzida ap�s a pandemia. Isso porque 47% dos moradores vivem como aut�nomos, e apenas 19% t�m carteira assinada. Deste total, dois em tr�s j� tiveram o pagamento das contas comprometido. Ainda de acordo com o levantamento, 53% dos moradores t�m filhos – m�dia � de 2,7. Segundo os dados, 86% deixaram de ir para a escola. Por isso, os gastos aumentaram 84% entre as fam�lias entrevistadas. *Estagi�ria sob supervis�o da subeditora Rachel Botelho
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