Volunt�rios imprimem em 3D escudos protetores contra o coronav�rus
Grupo de makers mineiros 'materializa' 300 equipamentos de prote��o por dia e doa a institui��es de sa�de. Demanda de hospitais cadastrados na plataforma � de 70 mil unidades
postado em 07/04/2020 12:26 / atualizado em 22/04/2020 10:42
Impress�o de al�as usa pol�mero apropriado para o setor da sa�de (foto: Fred Bottrel/EM/D.A Press)
Professor Pardal, o criativo amigo do Pato Donald, era uma figura do bem, disso ningu�m duvida. E nestes duros tempos de crise fora dos quadrinhos, os "inventores malucos" da realidade tampouco decepcionam. Em Minas Gerais, um grupo de volunt�rios se uniu para imprimir em 3D escudos protetores destinados a profissionais de sa�de e do�-los a hospitais. O equipamento de prote��o cobre todo o rosto e � considerado essencial no trato direto com pacientes infectados, enquanto crescem os n�meros da pandemia do novo coronav�rus. A demanda de hospitais que se cadastraram na plataforma do projeto � de 70 mil escudos protetores no estado.
Os propulsores da ideia foram os empres�rios Daniel Lopes, dono da 3D Lopes, uma empresa de impress�o 3D e Carlos Ribeiro, fundador do Faz Makerspace, espa�o desses em que prot�tipos e ideias se materializam em impress�o tridimensional e m�quinas de corte a laser. Daniel conta como tudo come�ou: "Encontramos um projeto, disponibilizado gratuitamente na internet por designers da Rep�blica Tcheca, e imprimimos as primeiras 30 pe�as para doar para o Hospital das Cl�nicas".
Daniel Lopes: agora o objetivo � aumentar a rede (foto: Fred Bottrel/EM/D.A Press)
A partir da�, houve aumento da demanda e os dois decidiram acionar a rede de makers e fablabs de Minas Gerais, a Trem Maker, criada a princ�pio para divulgar a cultura desses espa�os, ligados a universidades ou geeks entusiastas, onde brotam cria��o, inova��o e tecnologia.
Duas semanas depois, a produ��o havia saltado de 30 para 300 escudos protetores ao dia - a capacidade atual da rede � de 500 unidades di�rias, e o processo tamb�m � lento pois � preciso haver adequa��es t�cnicas de padr�o para a produ��o. O movimento hoje conta com 100 volunt�rios cadastrados.
Rafael opera a m�quina que corta o acetato: "Contribuir com uma solu��o para o problema � muito gratificante nessa situa��o" (foto: Fred Bottrel/EM/D.A Press)
"Como a impress�o 3D � ainda um processo lento, entendemos que acionar a rede seria a maneira de ganhar escala. Em produ��o, aproximadamente 80 impressoras est�o em atividade, para criar as pe�as que chegam aqui todos os dias, onde fazemos a montagem e a triagem", conta Carlos Ribeiro.
A m�dica Adriana Franca Ara�jo Cunha, especializada em infectologia e controle de infec��o hospitalar, atuou como consultora para as m�scaras made in Minas, desde o princ�pio. "A constru��o tem a regra da ABNT, par�metros da Anvisa e fizemos avalia��o da produ��o, para ver se estava dentro dos crit�rios. O escudo de rosto tem maior durabilidade e n�o � material cr�tico, n�o tem contato direto com vias respirat�rias ou sangue, n�o precisa portanto ser esterilizado, mas sim higienizado com �gua e sab�o e �lcool 70%. E ele n�o pode ser poroso, tem que resistir ao �lcool", detalha a m�dica.
O equipamento segue especifica��o t�cnica da Anvisa e norma da ABNT (foto: Fred Bottrel/EM/D.A Press)
Por dentro do makerspace
M�scaras embaladas com r�tulos de diversos hospitais da capital mineira estavam sobre a mesa na manh� em que nossa reportagem visitou a Faz Makerspace, espa�o que funciona em um sobrado na Avenida Afonso Pena, no Bairro Funcion�rios, Regi�o Centro Sul de Belo Horizonte. Dali, seguiriam para a entrega na parte da tarde.
No segundo andar do espa�o, impressoras 3D seguiam a todo o vapor, na feitura, como que por m�gica, dos suportes do escudo. A al�a que se ajusta na cabe�a do profissional de sa�de e tamb�m a base do equipamento, que garante a curvatura do acetato, s�o impressas em 3D. Em vez de tinta, a impressora usa um pol�mero, no caso o PETG, recomendado para uso em setores como sa�de e alimenta��o. A partir do projeto tridimensional no computador, o bico da impressora vai depositando, em uma plaquinha, o material. Em aproximadamente quatro horas, a al�a est� pronta.
Carlos Ribeiro e os escudos organizados para doa��o a hospitais (foto: Fred Bottrel/EM/D.A Press)
Enquanto isso, na oficina, o t�cnico Rafael Braga da Costa trabalhava na m�quina de corte a laser, preparando os acetatos para o encaixe - aquela parte transparente do escudo. A partir de projeto no computador, a m�quina gera o corte com as bordas arredondadas do material que vai proteger o rosto de m�dicos e enfermeiros. O bico fumegante da m�quina faz tamb�m os furinhos na placa, para propiciar o encaixe das al�as impressas em 3D.
"Em meio a tanto p�nico que est� rolando, a gente consegue fazer uma coisa diferente, consegue mudar a situa��o um pouco, para ajudar. Ent�o, em vez de ficar s� em casa, parado, a gente contribuir com uma solu��o para o problema � muito gratificante nessa situa��o", orgulha-se Rafael.
Quem cuidava da montagem, na manh� em que visitamos o espa�o, era a dentista Lu�sa Nascimento Bicalho. Com a habilidade manual de seu of�cio, somava esfor�os ao trabalho volunt�rio, polindo as pe�as e unindo as duas coisas: a parte impressa tridimensionalmente em pol�mero e o acetato cortado a laser: "Quando a gente entende que tem uma demanda mundial para esse tipo de equipamento de prote��o, n�o pode ficar em casa parado s� assimilando trag�dia e pensando no que vai ser do mundo. Precisamos colocar a m�o na massa".
Amplia��o da rede
Agora, a fase � a de convoca��o a novos volunt�rios que t�m m�quinas de impressora 3D em casa e desejo de contribuir. O processo de adequa��o tamb�m leva um tempo, j� que cada produtor � avaliado e recebe orienta��es de higieniza��o para se adequar. A mesma plataforma que recebe cadastro de volunt�rios concentra tamb�m os pedidos das institui��es de sa�de. E, como se pode imaginar, o crescimento tem sido vertiginoso.
"Temos 1,5 mil pedidos cadastrados na plataforma, o que contabiliza aproximadamente 70 mil unidades de escudos protetores. Para isso, precisamos de mais makers, mais volunt�rios, para atender a essa enorme demanda", diz Daniel. A plataforma para se cadastrar e conhecer melhor o projeto � a Trem Maker.
A rede de colabora��o inclui institui��es e empresas como a Trem Maker, a 3D Lopes, o Faz Makerspace, a Hotmart (que disp�s fundo de R$ 1 milh�o para projetos como este), a Newton, o Laborat�rio Aberto, a UFMG, a Fiocruz, o Uni-BH, o Apubh (Sindicato dos professores de universidades federais) e o Sindifes (Sindicato dos Trabalhadores nas Institui��es Federais e de Ensino).