
Sou brasileira, tenho 46 anos, casada com um brasileiro, tamb�m de 46. N�s nos mudamos para a Holanda em 2006. Luiz veio fazer doutorado em ci�ncia da computa��o na Universidade de Twente, em Enschede, uma cidade pequena na fronteira leste do pa�s com a Alemanha. Sou dentista e, desde 2009, consegui, ap�s um longo processo, autoriza��o para trabalhar na minha profiss�o. Luiz trabalhou em algumas empresas ap�s o doutorado e hoje � professor no Centro Universit�rio de Leiden e na Universidade de Twente e trabalha no Go Fair, uma iniciativa mundial para melhor tratamento e integra��o de dados. Temos uma filha de 12 anos, nascida e criada aqui. Desde o ano passado, ela come�ou a frequentar a escola m�dia – o equivalente ao 7º ano do ensino b�sico.
Com a COVID-19 chegando � Holanda, o governo holand�s decidiu no meio de mar�o colocar algumas medidas em vigor para tentar conter a pandemia. Desde 16 de mar�o, todas as escolas, universidades, bares, restaurantes, caf�s, academias de gin�stica e clubes esportivos, sal�es de beleza e todos os locais onde mais de 100 pessoas poderiam se reunir est�o fechados. Todos os eventos tamb�m foram cancelados. No in�cio, as restri��es seriam por tr�s semanas (o que acabaria em 6 de abril), mas agora, provisoriamente, essa data foi estendida at� 1º de junho.
Quem pode trabalhar a dist�ncia foi orientado a fazer isso. Todos devem evitar ao m�ximo sair de casa. Por�m, no primeiro fim de semana tivemos um tempo lindo, ensolarado, depois de semanas inteiras de chuva, como � muito comum por aqui. As pessoas sa�ram em massa para parques e praias; afinal, era s� uma gripe! Depois disso, o governo apertou as medidas, com multa em caso de descumprimento. Agrupamentos est�o proibidos nas lojas e supermercados. S� pode entrar um n�mero m�ximo de clientes, de acordo com a �rea do estabelecimento, e todos devem manter uma dist�ncia m�nima de 1,5m entre si. A maioria das lojas continua aberta, mas sem clientes. Os servi�os essenciais continuam funcionando normalmente.
"No primeiro fim de semana, tivemos um tempo lindo, ensolarado, depois de semanas inteiras de chuva. As pessoas sa�ram em massa para parques e praias; afinal, era s� uma gripe! Depois disso, o governo apertou as medidas, com multa em caso de descumprimento"
As ruas est�o claramente muito mais vazias. Os restaurantes que podem est�o arranjando maneiras de entregar os pedidos em casa. Mas o entregador deixa a comida na porta e fica de longe, olhando se voc� veio buscar sua encomenda. O mesmo ocorre com carteiros que v�m entregar pacotes de encomenda. Os hospitais j� est�o lotados. O governo est� fazendo o poss�vel para organizar tudo da melhor maneira, mas � muito complicado. Recentemente, chamaram os antigos funcion�rios dos hospitais, os aposentados ou os que mudaram de fun��o para ser volunt�rios e voltar ao trabalho no “front”. Todos est�o inseguros, amedrontados e o clima est� muito ruim, mesmo com os dias lindos e ensolarados de primavera das �ltimas semanas.
Fam�lia
Eu, sendo dentista, estou em casa. Os dois consult�rios onde trabalho est�o parcialmente fechados. Aqui somos obrigados a continuar atendendo os casos de emerg�ncia dos nossos pr�prios pacientes. Ent�o, essa parte continua. Em cada consult�rio, somos seis dentistas e aproximadamente 25 assistentes. Fizemos uma escala na qual cada dia da semana um est� de plant�o com uma assistente e uma recepcionista. Mas isso � muito pouco para sustentar a estrutura do consult�rio a longo prazo. As entidades de classe est�o tentando negociar com o governo um pacote de ajuda, pois muitos consult�rios est�o � beira da fal�ncia. Eu mesma, como aut�noma, n�o estou recebendo nenhum pagamento. Mas as conversas s�o infind�veis e n�o chegam a nenhuma solu��o definitiva.
J� tem muita gente falando em voltar a trabalhar, mesmo correndo todos os riscos. Como dentistas, estamos o tempo todo expostos ao aerossol e nosso material de prote��o regular n�o � suficiente para nos proteger adequadamente. Existe tamb�m o risco de falta de material. Ent�o vamos fazendo o que podemos e rezamos para n�o pegar a doen�a ou levar a contamina��o para casa.

� tamb�m muito dif�cil arranjar atividades para preencher as oito horas extras que tenho livres todos esses dias da semana.
Fora isso, tem o sentimento de estar presa, sem poder sair, sem poder ver os amigos. N�s temos aqui uma vida social muito intensa, muitos amigos, muitas reuni�es, festas… Estamos sentindo muita falta. Estamos tentando manter o moral alto atrav�s de reuni�es por videoconfer�ncia, cada um na sua casa, com uma bebidinha do lado e um bate-papo. Mas, infelizmente, o assunto sempre volta pro coronav�rus. � s� isso que est� na cabe�a de todo mundo.
"Estamos tentando manter o moral alto atrav�s de reuni�es por videoconfer�ncia, cada um na sua casa, com uma bebidinha do lado. Mas, infelizmente, o assunto sempre volta pro coronav�rus"
Estamos tentando tamb�m manter um ritmo de exerc�cios f�sicos semanais, em casa mesmo, para n�o sair do confinamento t�o fora de forma! Dizem que a endorfina tamb�m ajuda no humor e no bem-estar, ent�o a gente continua tentando. A academia criou um grupo no Facebook e faz todo dia um workout live. Se voc� perdeu, pode seguir por v�deo no dia seguinte.
Uma outra parte muito dif�cil neste momento � a preocupa��o com a fam�lia que est� no Brasil. Falo quase diariamente com meus pais e irm�os, que moram em Vit�ria, mas se alguma coisa acontecer com eles n�o poderei estar l� para apoi�-los. Estamos com passagens compradas para ir ao Brasil no final de julho, mas o mais prov�vel � que precisaremos cancelar tudo.

Para o meu marido, que j� trabalhava frequentemente de casa, a rotina n�o mudou muito. As viagens foram completamente suspensas. Como ele est� envolvido na coordena��o de disponibiliza��o, integra��o e an�lise de dados sobre a COVID-19, o ritmo de trabalho inclusive aumentou. Essa ocupa��o � positiva e faz com que ele n�o sinta tanto o impacto do confinamento.
E assim vamos levando, um dia de cada vez. Rezando e torcendo para que tudo acabe logo e bem. Mas o fim do t�nel ainda parece estar bem longe.
O que � o coronav�rus?
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
Como se prevenir?
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Quais os sintomas do coronav�rus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas g�stricos
- Diarreia
Em casos graves, as v�timas apresentam:
- Pneumonia
- S�ndrome respirat�ria aguda severa
- Insufici�ncia renal
Mitos e verdades sobre o v�rus
Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o coronav�rus � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.
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