
Quem estava fora do Brasil quando estourou a pandemia do coronav�rus no mundo, independentemente do motivo, pode estar passando por maus momentos. Cerca de 18 mil brasileiros estavam nesta situa��o nos meses de mar�o e abril. Em alguns casos, retornaram ao Brasil em voos comerciais. Em outros, como na �frica do Sul, foram resgatados em dois voos, um da Latam e outro da SAA (South Africa Airways), fretado pela embaixada brasileira em Pret�ria.
No total, segundo o Itamaraty, 12.700 brasileiros foram resgatados e trazidos de volta at� o momento. Restam 5.500, que est�o espalhados em 80 pa�ses. Estima-se que a maioria, cerca de 1.200, em Portugal. E alguns desses brasileiros que est�o fora do pa�s vivem dificuldades. Uns correm risco de perder o emprego, outros n�o t�m recursos para se manter, outros doentes, precisando de rem�dios. Enfim, as dificuldades s�o muitas. Veja abaixo alguns exemplos:
Argentina
Os irm�os mineiros Isac dos Santos Lopes, de 27 anos, e Isaura dos Santos Lopes de 20, que deixaram o Brasil e foram para C�rdoba, na Argentina, para estudar espanhol na Cepe Idiomas, come�am a ter esperan�a de conseguir retornar ao Brasil.
“No in�cio, o consulado brasileiro nos disse que ter�amos de pagar uma passagem de �nibus daqui at� Uruguaiana, no Uruguai, e que de l� estar�amos por nossa conta. Mas como chegar � nossa casa, em Coluna (Vale do Rio Doce), se n�o temos dinheiro e nossa fam�lia � pobre?. Mas agora, com ajuda da diretora da escola, que � uma brasileira, F�tima Maria Vieira, que intercedeu por n�s junto ao consulado, vamos ter um transporte at� Uruguaiana e, de l�, o governo brasileiro vai nos ajudar a voltar para Minas. Disseram, em princ�pio, que a viagem ser� no domingo, mas que a data pode mudar”, conta Isac.
Chile
O casal mineiro Andr� de Rezende Jardim, de 42 anos, e J�lia Cristina Magalh�es Prates, de 36, resolveu, h� dois anos, realizar o sonho de suas vidas: percorrer a Am�rica de carro. Venderam tudo, compraram um Chevrolet 1951 e o adaptaram com um dormit�rio e cozinha. Partiram primeiro percorrendo o Brasil, em maio de 2018.
Em outubro do ano passado, sa�ram de BH, foram para a Argentina e, em seguida, para o Chile, quando foram surpreendidos com a crise do coronav�rus. O plano de seguir at� o Alasca foi logo abortado.

Desde ent�o, tentam retornar ao Brasil, mas esbarram em problemas diplom�ticos. O caminho mais perto, voltando � Argentina e seguindo para o Rio Grande do Sul, que daria uma viagem de 1.700 quil�metros, est� fechado, pois a Argentina n�o permite que brasileiros circulem em seu territ�rio.
Pela Bol�via, seriam 3.600 quil�metros. Mas o problema � o mesmo. Para fazer a viagem, Andr� e J�lia precisariam de um salvo conduto, o que n�o conseguiram nem dos argentinos e nem dos bolivianos. E, segundo eles, o governo brasileiro tamb�m n�o tem ajudado.
O problema maior, segundo Andr�, � o carro. “Podemos pegar um avi�o aqui e retornar ao Brasil, assim que houver um voo para o Brasil. Mas ter�amos de deixar o carro, nosso �nico bem. Vendemos tudo que t�nhamos para comprar o carro e fazer essa viagem. E para deixar o carro, precisar�amos renovar a licen�a, que � de tr�s meses, e assim que a pandemia passar, voltar e resgat�-lo.”
Mas nesta quarta-feira (15), surgiu uma luz no fim do t�nel, segundo Andr�. “Pens�vamos que a renova��o da licen�a para o carro seria de mais tr�s meses e ter�amos que esperar que a atual vencesse. Mas estive na Pol�cia Federal Chilena e eles disseram que � poss�vel renovar por seis meses, ou seja, at� outubro. A�, retornar�amos de avi�o e depois voltar�amos para buscar o carro. Teremos de pagar o aluguel de uma garagem.”
Andr� e J�lia ainda n�o decidiram. “Vamos pensar. A outra op��o � permanecer aqui at� o final de maio, quando vence a atual licen�a, e torcer para que a quarentena acabe. Assim, poder�amos voltar”, diz ele.
Venezuela
Uma das situa��es mais intrigantes � a de Tawler Andrade dos Santos, de 31 anos, que � de Ponte Nova (Zona da Mata). Ele foi � Venezuela para conhecer e visitar amigos, mas foi pego de surpresa com o fechamento do espa�o a�reo e, basicamente, terrestre, pois Caracas � uma cidade, hoje, sem combust�vel. “N�o consigo comprar gasolina aqui.”

As f�rias de Tawler terminaram no in�cio do m�s, mas conseguiu uma prorroga��o na Distribuidora Bartofil at� o dia 13. Ontem, ele voltou a trabalhar, on line, o que custa caro.
“Consegui alugar o computador de um vizinho, ao lado do apartamento que estou. Mas estou pagando US$ 10 por semana. Hoje, trabalhei daqui. Est�o entendendo minha situa��o l� no Brasil”, diz ele, que se mostra sem esperan�a.
“Haviam dito que haveria um voo da aeron�utica, do Brasil, para buscar os funcion�rios da embaixada. Mas n�o falam mais nisso. Existe a informa��o que haver� um voo para Montevid�u, no Uruguai, mas as informa��es s�o desencontradas. Se houver mesmo esse voo, quero estar nele. Mas, por enquanto, n�o existe nenhuma possibilidade clara. Quero ir embora, preciso voltar para Ponte Nova. O governo, aqui, anunciou a prorroga��o da quarentena at� 15 de maio.”
Nam�bia
O casal paulista Eduardo Pereira de Almeida, de 55 anos, engenheiro, e Simone Faleiros de Melo, de 44, advogada, viajou de f�rias para a Nam�bia. O objetivo, conhecer os parques naturais de l� e depois em Botsuana. Quando estavam na primeira parte da viagem, no Etosha National Park, foram surpreendidos pela quarentena e aconselhados a voltar para a capital daquele pa�s, Windhoek.
L� chegando, tiveram de alugar um apartamento e comprar comida. Mas come�ou, a�, um sofrimento para tentar voltar pra casa, pois dependem de um voo da Nam�bia para Johanesburgo, na �frica do Sul. Da�, ent�o, vir para o Brasil.

Mas os dois pa�ses est�o com seus espa�os a�reos fechados. "N�o temos como sair daqui. Vai haver um voo de resgate em Mo�ambique, planejado pelo governo brasileiro, para sair de Mo�ambique e passar em Angola, Maputo-Luanda-S�o Paulo. Estamos tentando que nos peguem aqui. Foi esse o pedido que fizemos ao nosso embaixador, Jos� Augusto Silveira de Andrade Filho, com quem conversei por telefone. Mas ainda n�o obtivemos resposta”, conta Eduardo, que � hipertenso e depende de rem�dio.
Segundo ele, o medicamento que disp�e dar� at� 4 de maio, mas depois disso ter� de fazer uma consulta. “Terei de ir a uma cl�nica aqui e pagar para obter a receita e comprar o rem�dio.” O governo da Nam�bia estendeu a quarentena, que acabaria no pr�ximo final de semana, at� 4 de maio.
Portugal
K�tia Mundim, de 58 anos, aposentada, est� em Lisboa com a neta Giovanna, de 12. Elas seguiam para Paris e fizeram uma escala na capital portuguesa, mas n�o puderam seguir viagem por n�o serem residentes na Fran�a. Elas estavam indo ao encontro de duas filhas de K�tia, Juliana, a m�e de Giovanna, e Marcella, que � casada com um portugu�s e reside na capital francesa.
Isso aconteceu h� um m�s e, desde ent�o, av� e neta vivem pagando aluguel de um quarto numa casa de portugueses. K�tia toma rem�dios controlados, que est�o por acabar. Na ter�a-feira, recebeu a not�cia de que haver� uma repatria��o, s� que o voo para o Brasil ainda n�o tem data. A previs�o � de 19 de abril a 2 de maio.
As irm�s Marcella e Juliana Mundim est�o desesperadas. Filhas de K�tia, tentam ajudar a m�e. “Precisamos pagar a hospedagem da nossa m�e l� em Lisboa, mas n�o dispomos de recursos. O dinheiro que tinha, paguei o aluguel de onde ela est� agora”, diz Marcella.
A situa��o se complicou ainda mais, pois Juliana, que trabalhava num restaurante, foi demitida. Segundo Marcella, a �nica sa�da para retornar ao Brasil, e est� tentando junto � embaixada brasileira, � conseguir vaga num voo de resgate, que partir� de Paris para S�o Paulo, mas ainda sem data definida.
Fran�a
Brasileiros est�o passando at� fome nos arredores de Paris. Segundo Jucilene Barbosa Lucas, de 37 anos, que vive na Fran�a e � coordenadora do grupo Ami Du Br�sil, mais de 800 pessoas foram cadastradas para serem ajudadas.
“Tem gente aqui passando fome. Tem gente doente, precisando de rem�dios. Estamos ajudando, distribuindo comida, que nos � doada por franceses. Quem mais poderia ajudar, os restaurantes de brasileiros, fecharam. Conseguimos, essa semana, conversar com a embaixada brasileira e esperamos que possamos conseguir a repatria��o de todos”, diz Jucilene, que conta que seus dias come�am cedo, ainda de madrugada, e termina tarde da noite, pois tem de percorrer grandes dist�ncias para levar ajuda aos necessitados.