
Luciane Malafaia, de 46 anos, mora na It�lia h� 20 e � testemunha do caos que se instalou no pa�s europeu, que enterrou at� agora 28.710 pessoas v�timas da COVID-19.
Casada com o enfermeiro italiano Stefano Arcamone, de 49, e m�e de Giulia, de 18, e Gabriela, de 14, Luciane est� seguindo � risca as regras do isolamento social desde o fim de fevereiro em sua casa, na cidade de Terracina, que fica entre Roma e N�poles.
Segundo ela, que � mineira de Belo Horizonte, as mortes ocorreram de forma muito r�pida na It�lia. “De 11 mortos na Lombardia passou para 1 mil por dia, uma coisa absurda.” Foi a partir da� que o governo endureceu as a��es e em 7 de mar�o resolveram fechar o centro-norte da It�lia.

Mas Luciane conta que as pessoas ficaram sabendo da medida e muita gente fugiu para o Sul. “Os ignorantes do Norte da It�lia fugiram de trem antes da meia-noite para o Sul e levaram consigo o v�rus.” Para ela, foi isso que disseminou a COVID-19 pelo restante do pa�s.

“Se no Sul n�o tinha, passou a ter. O que eles queriam fazer, que era bloquear, n�o foi poss�vel por causa disso. � triste, � desumano, infelizmente � assim”, relata Luciane.
Como o marido continua trabalhando, o cuidado em casa � redobrado, ainda mais que o casal e uma das filhas s�o considerados do grupo de risco - ela sofreu um AVC, ele j� teve um infarto e a filha mais nova tem asma.
“Ele arrisca a vida diariamente. Mesmo sabendo que na nossa regi�o o n�mero de casos � muito menor do que no Norte, e eu rezo. Acordo cedo, desinfeto a casa todo dia com �gua sanit�ria, desinfeto a roupa. Tem uma frente fria que veio da R�ssia, mas, mesmo assim, abro as janelas.”
"Quando a doen�a estava somente na China, o pensamento geral era: 'N�o vai acontecer aqui" lll "N�o pode fingir que n�o est� acontecendo nada. Ver o Ex�rcito levar corpos para serem cremados, sem os parentes, � duro" lll "Muita gente ainda com medo da doen�a, mas muita gente precisando trabalhar. Muita empresa pequena falindo. � uma situa��o muito dif�cil"
As filhas est�o tendo aulas online. “Das 8h30 �s 13h, as duas assistem �s aulas, cada uma num lugar da casa”. Falta um ano para Giulia terminar o curso de turismo e Gabriela est� terminando o ensino m�dio. Ela explica que o governo auxilia as fam�lias que n�o t�m computador e enviam tablet.
Luciane diz que a fam�lia est� redescobrindo algumas coisas, “como fazer massas em casa, jogar War, enfim, coisas positivas”. Segundo ela, as filhas entenderam que � um momento cr�tico e “temos de ser como o camale�o”.
Governo e regras
Uma das medidas tomadas pelo governo italiano foi proibir a ida aos hospitais. Luciane explica que “quem tinha os sintomas tinha que ligar para um n�mero espec�fico e a ambul�ncia ia at� a casa da pessoa. Voc� n�o pode ir a um hospital se tem possibilidade de ter o v�rus e correr o risco de infectar outros pacientes que est�o com outro problema. Eles � que falavam o qu� as pessoas iriam fazer, se ficar em casa ou ir pro hospital”. Uma pessoa por fam�lia pode ir ao supermercado, que abre de tr�s em tr�s dias. E h� multa para quem descumpre as regras estabelecidas.
Uma das medidas tomadas pelo governo italiano foi proibir a ida aos hospitais. Luciane explica que “quem tinha os sintomas tinha que ligar para um n�mero espec�fico e a ambul�ncia ia at� a casa da pessoa. Voc� n�o pode ir a um hospital se tem possibilidade de ter o v�rus e correr o risco de infectar outros pacientes que est�o com outro problema. Eles � que falavam o qu� as pessoas iriam fazer, se ficar em casa ou ir pro hospital”. Uma pessoa por fam�lia pode ir ao supermercado, que abre de tr�s em tr�s dias. E h� multa para quem descumpre as regras estabelecidas.
Ela considera que o governo italiano fez o que deveria fazer e recorda como foi no come�o. “Quando a doen�a estava somente na China, o pensamento geral era: 'N�o vai acontecer aqui'. Em Roma, um casal de turistas chineses foi para o hospital. O governo ainda tinha a esperan�a de n�o ser nada, apenas uma influenza. O casal foi para Mil�o. Em 20 de fevereiro, apareceu uma pessoa infectada perto de Mil�o, contagiou muita gente e espalhou. Em 28 de fevereiro, eram 530 casos. Em 8 de mar�o, 5.830. Ficamos doidos. Entra p�nico e desespero. A� o pessoal come�ou a fazer o que tinha de ser feito. Desde o come�o, o governo agiu de forma correta. Todo mundo metia o pau. A Espanha, os Estados Unidos e o Reino Unido disseram que a It�lia estava exagerando e agora est�o sofrendo.”
Segundo ela, “a It�lia foi o primeiro pa�s europeu a suspender voos para a China e cercar cidades [na Lombardia]. Em 23 de fevereiro, o presidente decretou emerg�ncia sanit�ria, fechou escolas no Norte do pa�s e depois fechou tudo e o Ex�rcito foi para as ruas”.
Coletividade
Para Luciane, as pessoas precisam ter consci�ncia da gravidade da situa��o e ser solid�rias. “A It�lia est� tendo apoio de v�rios pa�ses. Estamos conseguindo descer, mas estamos em isolamento. Tem que ter solidariedade, bom senso, ser um ser humano bom e pensar nos outros seres humanos.”
Para Luciane, as pessoas precisam ter consci�ncia da gravidade da situa��o e ser solid�rias. “A It�lia est� tendo apoio de v�rios pa�ses. Estamos conseguindo descer, mas estamos em isolamento. Tem que ter solidariedade, bom senso, ser um ser humano bom e pensar nos outros seres humanos.”
Ela lembra um caso que reflete bem o que pensa. “Pararam um senhor andando de bicicleta. 'O senhor n�o pode estar aqui', disse o policial. 'Tenho 86 anos, se eu tiver de morrer, eu morro', disse o homem. 'O senhor tem 86 anos, mas tem muitos jovens que podem morrer por causa do senhor', disse o policial”.
“N�o pode fingir que n�o est� acontecendo nada. Ver o Ex�rcito levar corpos para serem cremados, sem os parentes, � duro. E tem que ser feito dessa forma. Crian�as est�o morrendo, policial de 46 anos morreu. J� s�o 97 m�dicos mortos.”
O sentimento de Luciane frente a tudo isso � de tristeza. “Fico triste. Uma It�lia linda est� unida. Pessoas cantam o hino nacional. Dor, sofrimento, choro, mas unidos. Tentando ser civilizados. N�o � melhor parar agora do que depois ver tanta gente morrendo?”
Em rela��o � flexibiliza��o das medidas na It�lia, Luciane diz que as opini�es est�o divididas. “Muita gente ainda com medo da doen�a, mas muita gente precisando trabalhar. Muita empresa pequena falindo. � uma situa��o muito dif�cil. Hoje mesmo (29), aumentaram mais 2.000 pessoas infectadas e 400 mortos.”
Ela revela um certo temor em rela��o a Terracina, cidade onde mora. “Estamos com medo, n�o sabemos como vai ser o ver�o aqui. A minha cidade � litor�nea. Turismo, hotel, barcas, shows de ver�o, feirinhas... N�o sabemos como vai ser”.
Preocupa��o
“Como vai ser no Brasil?” A pergunta de Luciane carrega a preocupa��o com a terra natal e com a fam�lia, que mora em Lagoa Santa, Regi�o Metropolitana de BH.
“Como vai ser no Brasil?” A pergunta de Luciane carrega a preocupa��o com a terra natal e com a fam�lia, que mora em Lagoa Santa, Regi�o Metropolitana de BH.
“Estou rezando para n�o acontecer no Brasil o que houve aqui, porque tenho at� medo de pensar como seria. Ser� que as pessoas cumprir�o o isolamento social como tem que ser feito?”, questiona Luciane.
“Temos que ser calmos. A economia est� caindo, a popula��o est� empobrecendo, pequenas empresas fechando. As pessoas t�m que ser menos ego�stas. Nossa defesa � permanecermos em casa”, conclui Luciane.
Ele [o marido] arrisca a vida diariamente. Mesmo sabendo que na nossa regi�o o n�mero de casos � muito menor do que no Norte, eu rezo. Acordo cedo, desinfeto a casa todo dia com �gua sanit�ria, desinfeto a roupa”