
N�o ser� apenas um domingo. Nem mais uma data festiva com beijos, almo�o caprichado e fotos no celular. Este Dia das M�es ser� ainda mais especial e inesquec�vel para Eva Maria da Silva Domingos, de 62 anos, vi�va, que trouxe ao mundo Guilherme, Cristiane e Viviane e tem como xod�s os netos Vitor, Ana Clara, Gabriela, Felipe e Jo�o. “Ter� um sabor de renascimento, de vida, de sa�de”, revela Eva, que, mais do que nunca p�e f� na sabedoria popular. “H� males que v�m para o bem. E quem duvida de que Deus escreve certo por linhas tortas?”
Sua certeza tem uma raz�o bem especial de ser. Eva esteve a poucas horas de realizar um grande sonho – mas, para sua decep��o moment�nea, ele n�o decolou. Em 2 de mar�o, num grupo de 15 pessoas, viajaria para a Europa, come�ando pela It�lia e depois curtindo uma semana em Portugal. Mas o novo coronav�rus migrara da China para o Velho Mundo e ainda fazia seus primeiros estragos na regi�o italiana da Lombardia. “Viajar�amos num domingo. Passei o s�bado pensativa, at� que fui aconselhada pelos filhos a desistir. Logo depois, o aeroporto de Roma foi fechado”, relembra.
Ao lado da filha Viviane, ca�ula e vizinha, Eva conta n�o ter sido f�cil cancelar o passeio e deixar de lado o desejo de ir � Europa. “Mas, hoje, vejo que ter ficado no Brasil foi um presente de Deus. Tenho quase certeza de que, se embarcasse, j� que ainda n�o havia restri��es por parte das autoridades brasileiras, estaria doente ou, quem sabe, teria perdido a vida”, acredita. O motivo pra tal convic��o decorre de duas fortes pneumonias que a acometeram no ano passado. “Fiquei boa, mas, se pegasse a COVID-19, que ataca os pulm�es, seria perigoso demais.”
SABER ESPERAR Natural de Contagem, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), criada na localidade de Jaguara, em On�a de Pitangui, no Centro-Oeste de Minas, e moradora de Santa Luzia, na Grande BH, Eva � uma pessoa muito bem-humorada, conforme ela mesma se define, e tamb�m aben�oada. Foi batizada com o nome composto formado pelo da primeira mulher, de acordo com a B�blia, e de Maria, m�e de Jesus. “E ainda tenho o sobrenome Domingos, o que garante que poderei comemorar esse Dia das M�es, em fam�lia, por muitos e muitos domingos, depois que a pandemia passar. Se n�o d� para unir todos agora, n�o tem problema, pois cora��o de m�e sabe esperar.”
A conversa sobre o nome pr�prio � a deixa para Eva se lembrar do marido, Wilson, falecido em novembro de 2010 e que, curiosamente, tinha o apelido de Quarta-feira. “Aqui em casa, a semana, de domingo a domingo, sempre foi cheia de emo��es, com as alegrias e tristezas de todas as fam�lias brasileiras. E as m�es t�m seu papel importante, sabe por qu�? Porque ser m�e � um privil�gio de Deus. Amo muito meus filhos, e agora duplamente meus cinco netos.”
O plano de conhecer a It�lia e Portugal, acalentado durante tantos anos, volta � conversa. Funcion�ria de uma escola da rede estadual, Eva s� conseguiu coloc�-lo em pr�tica depois de ver os filhos criados e ap�s um ano inteiro pagando as presta��es da viagem. “Nunca imaginei que tudo seria interrompido pela pandemia do novo coronav�rus. Foi uma decis�o dif�cil, principalmente porque cinco pessoas do grupo, por sua conta e risco, resolveram embarcar. E, al�m disso, est�vamos com hot�is reservados, passeios marcados. Ficava imaginando conhecer os monumentos em Roma, o Vaticano, Floren�a, enfim, toda a beleza e cultura que a gente v� nos filmes e nos livros. Mas Deus sabe o que faz.”
Enquanto a viagem ainda parece distante e a pandemia n�o acaba, Eva e a filha Viviane se contentam em admirar, e reproduzir, o detalhe de A cria��o de Ad�o, de Michelangelo, maravilha da Capela Sistina, no Vaticano. “Um dia, verei de perto”, garante a m�e.
ATRA��ES S� PELA JANELA
Perto da padroeira do Brasil, Eva desliza os dedos pela imagem de Nossa Senhora Aparecida e se mostra tranquila. “J� pensou se eu tivesse ido e ficado l� com medo, sem poder visitar os monumentos, presa dentro do hotel, vendo apenas da janela? Sei que haver� uma pr�xima oportunidade. Entramos na Justi�a e deveremos ir no ano que vem.”
No roteiro em Portugal estava o Santu�rio de F�tima, onde Eva um dia quer rezar, acender uma vela para Nossa Senhora, pedir por toda a fam�lia e amigos. “N�o podemos perder a f�, muito menos a esperan�a”, resume. De repente, Eva puxa uma fotografia e aponta uma senhora da qual foi cuidadora h� muitos anos. “O sonho de visitar a Europa come�ou aqui. Um dos filhos dessa senhora, que gostava demais de mim, falou que pagaria minha passagem se ela decidisse viajar. Mas ela n�o quis... A� fiquei na saudade”, brinca.
Para este domingo de quarentena, Eva cogitou reunir os filhos, fazer um prato bem gostoso, uma sobremesa melhor ainda e ganhar muitos abra�os. Depois, pensou duas vezes, pois os tempos est�o complicados e a situa��o continua grave. “Ent�o, o melhor mesmo � ficar aqui em casa com a Viviane. Com os outros filhos e netos, vou falar pelo celular. O amor � o mesmo, a gente s� vai adiar um pouco o encontro.”