Confira as hist�rias de pessoas lutam contra o desemprego em meio � pandemia
Reportagem do Estado de Minas volta a fazer contato com pessoas que, no ano passado, estavam � procura de trabalho e agora enfrentam ainda a pandemia de coronav�rus
postado em 11/05/2020 04:00 / atualizado em 11/05/2020 10:09
H� pouco mais de um ano, o EM os entrevistou para retratar a vida daqueles que compunham os 13,4 milh�es de desempregados. Hoje, a pandemia de COVID-19 � mais um obst�culo (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press; Paulo Filgueiras/EM/D.A Press; Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press; Arquivo pessoal )
H� pouco mais de um ano, o Estado de Minas conversou com brasileiros que estavam havia meses ou at� anos procurando empregos. Jovens rec�m-formados, profissionais experientes e pessoas sem ensino superior se encontravam na mesma luta: a busca por trabalho, para garantir o sustento de si pr�prio e, em alguns casos, at� da fam�lia. Hoje, 376 dias depois, a reportagem retornou �s casas dessas pessoas e comprovou que a situa��o de alguns chegou a melhorar, mas de outros segue na mesma. Enquanto isso, o cen�rio brasileiro � ainda pior: apesar de registrar 500 mil desempregados a menos do que o mesmo per�odo do ano passado (eram 13,4 milh�es), o pa�s vive um dilema na sa�de p�blica, com uma pandemia que j� contaminou cerca de 160 mil brasileiros, deixou mais de 11 mil mortos e obrigou o com�rcio e a ind�stria a diminuir o ritmo como nunca visto na hist�ria recente do mundo.
Nos tr�s primeiros meses do ano, conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), 12,2% da popula��o brasileira estava desempregada, o que corresponde a 12,9 milh�es de pessoas. Em compara��o com o �ltimo trimestre de 2019, esse n�mero significa uma alta de 1,3 ponto percentual no �ndice de desempregados. J� em rela��o ao mesmo per�odo do ano passado, houve uma melhora de 0,5 ponto percentual. No entanto, esse �ndice representa os dados de empregabilidade dos tr�s primeiros meses do ano e, portanto, exclui abril, m�s mais afetado pelas consequ�ncias econ�micas do isolamento social para frear o avan�o da COVID-19, no territ�rio brasileiro. V�DEO PUBLICADO EM 01/05/2019:
Simultaneamente ao isolamento, o governo federal anunciou medidas de concess�o de cr�dito a empresas e aux�lios emergenciais a pessoas f�sicas para tentar salvar empregos e garantir uma renda b�sica � popula��o. Entre essas medidas, est�o tr�s parcelas de R$ 600 concedidas a microempreendedores individuais (MEIs), contribuintes da Previd�ncia Social e trabalhadores informais que perten�am � fam�lia com renda per capita n�o superior a R$ 522,50, ou com renda total abaixo de R$ 3.135. Em caso de m�es chefe de fam�lia, o benef�cio pode chegar at� R$1.200.
De acordo com a Caixa Econ�mica Federal, at� a �ltima quinta-feira, cerca de 50 milh�es de pessoas j� tinham recebido o benef�cio. A previs�o � de que ao longo de maio, outros milh�es de pessoas entrem nessa conta. Al�m disso, o governo anunciou um programa que garante o seguro-desemprego a trabalhadores que tiveram seus contratos suspensos por at� dois meses. A medida tamb�m estabelece uma din�mica de completar o sal�rio daqueles que tiveram os vencimentos reduzidos, sempre com base no seguro-desemprego. De acordo com o Minist�rio da Economia, at� o �ltimo dia 7, mais de 6 milh�es de pessoas j� tinham entrado no programa – 600 mil em Minas Gerais.
Esse � o caso de Augusto Henrique Meiva da Silva, de 28 anos. Ano passado, quando o Estado de Minas conversou com ele, a preocupa��o era outra: Augusto trabalhava como professor de ingl�s, porque n�o conseguia encontrar emprego no ramo da engenharia de produ��o, �rea em que se formara em dezembro de 2017. Atualmente, ele continua na escola de idiomas, mas devido � pandemia, teve seu contrato suspenso por dois meses e vive com os cerca de R$1,8 mil do seguro-desemprego. “Cheguei a fazer alguns c�lculos e, mesmo com a redu��o, d� para pagar as d�vidas. N�o d� para fazer nada a mais, s� esses gastos mensais e, talvez, guardar algo para uma urg�ncia”, conta.
Quase dois anos e meio depois de se formar, Augusto explica que n�o busca mais emprego em sua �rea inicial. Ap�s in�meros “n�os”, ele agora pretende se profissionalizar na carreira de professor, enquanto monetiza um blog de viagens (mochila e prosa) que tem com seu amigo. “Ainda n�o conseguimos fazer dinheiro com o blog, mas pretend�amos fazer a partir deste ano. No entanto, muito do que a gente escreve � em rela��o � viagem e agora as pessoas n�o est�o procurando sobre isso, porque n�o podem viajar”, lamenta.
EFEITO CASCATA Em Belo Horizonte, o isolamento social deve durar dois meses, j� que, ap�s press�o do empresariado, o prefeito Alexandre Kalil (PSD) anunciou que pretende flexibilizar a medida a partir do pr�ximo dia 25. No entanto, assim como j� vem sendo feito em cidades asi�ticas e europeias, eventos, festivais e festas devem demorar para voltar, j� que qualquer aglomera��o maior de pessoas pode acarretar uma nova onda de cont�gio.
Pensando nisso, o seguran�a Renato Gil, de 36 anos, j� cogita mudar de �rea, para garantir o sustento de suas filhas de 8 e 18 anos. No ano passado, Renato contou ao EM que n�o tinha contrato fixo desde agosto de 2016, quando foi demitido de uma empresa que prestava servi�o de seguran�a para a Receita Estadual. Desde ent�o, ele vinha atuando em eventos isolados para ajudar sua esposa, que � t�cnica de enfermagem, a pagar as contas.
O seguran�a Renato Gil foi demitido em 2016 e no ano passado chegou a trabalhar como vigilante em eventos, mas ainda n�o conseguiu emprego fixo (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
“Eu tinha contato com conhecidos que me chamavam para trabalhar como vigilante. Trabalhava e eles me davam o dinheiro por dia. Mas com essa pandemia, todos os eventos foram suspensos. Se eu n�o voltar a trabalhar logo, praticamente n�o aguentarei nem mais um dia. Eu e minha esposa sempre divid�amos os gastos com os filhos, mas como n�o estou recebendo nada, ela que est� tendo que segurar tudo”, conta.
Para aguentar financeiramente, Renato j� come�ou a cortar servi�os n�o essenciais, como internet e TV a cabo. Ele explica que financiamentos feitos antes da pandemia tamb�m j� n�o ser�o pagos. “Vamos ter que deixar de pagar e o nosso nome vai para o SPC. Temos que cortar os gastos para continuar nossas vidas, porque � completamente imposs�vel continuar pagando tudo”, afirma.
''Estou desesperan�oso de a minha �rea
voltar agora. Se eu pudesse entrar no
calend�rio, eu apagaria o ano de 2020''
Marcelo Bastos, rela��es-p�blicas
Outra consequ�ncia da COVID-19 que atrapalhou os planos de Renato foi a suspens�o do programa de menor aprendiz da filha de 18 anos. Mesmo que a remunera��o n�o fosse grande, ele e a esposa j� estavam contando com a quantia para relaxar o programa financeiro da fam�lia. “Acabei solicitando o aux�lio de 600 reais no meio de abril, mas ele est� em an�lise, n�o sei o porqu� de tanta demora. Talvez nossa renda familiar n�o permita”, questiona.
EMPREGADO POR UM M�S Situa��o parecida � vivida por Marcelo Bastos, de 54 anos e pai de dois filhos (14 e 21). Com vasta experi�ncia em rela��es-p�blicas, no ano passado ele contou ao EM que estava desempregado h� 2 anos e 4 meses, depois que perdeu um cargo de confian�a na prefeitura, com a troca de governo. Sete meses depois da reportagem, ele voltou a arrumar um emprego, por indica��o de um amigo; contudo, mais uma vez sofreu com a troca de superiores e voltou a ficar desempregado.
Depois disso, Marcelo voltou a trabalhar apenas como mestre de cerim�nia, fun��o que j� exercia paralelamente quando estava empregado. Por�m, com a pandemia, ele viu suas demandas irem por �gua abaixo, j� que os eventos foram todos cancelados. “O �ltimo setor que vai voltar � o de eventos e sabe-se l� se as pessoas v�o querer fazer, porque elas v�o ficar preocupadas. Acredito que esse setor s� vai se restabelecer no ano que vem. Estou desesperan�oso de a minha �rea voltar agora. Se eu pudesse entrar no calend�rio, eu apagaria o ano de 2020”, afirma.
A fam�lia tamb�m sofreu com a suspens�o do contrato de est�gio do filho mais velho, que apesar de n�o ser uma quantia grande, j� ajudava em algumas despesas. “Sei que quando as coisas voltarem, meu filho volta tamb�m. Mas como a minha �rea vai ser a �ltima, eu n�o posso nem pensar em fazer c�lculos de sobreviv�ncia. Se eu pensar, a gente endoida”, finaliza.