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Estado de Minas

Testes positivos para COVID-19 em Minas ultrapassam Nova York

Quase 25% dos exames t�m resultado positivo para coronav�rus no estado, taxa maior que a de Nova York. ''Assustador'', diz especialista


27/05/2020 04:00 - atualizado 27/05/2020 08:16

Funed realizou, em média, 222 exames por dia desde o início da pandemia, quando 5% davam resultado positivo, contra 23% no momento
Funed realizou, em m�dia, 222 exames por dia desde o in�cio da pandemia, quando 5% davam resultado positivo, contra 23% no momento (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press %u2013 12/3/20)

A positividade de pessoas testadas para COVID-19 em Minas Gerais, que � a rela��o de testes realizados para infectados e doentes encontrados, j� chega a 23% e � superior � verificada em Nova York, por exemplo, que era na casa de 20% durante o pico da epidemia. “O problema em Minas, infelizmente, � grande. Um em cada cinco se mostrando positivo, cada doente infecta 50 pessoas em pouco tempo. Isso significa que tem muita gente infectada circulando por aqui e que n�o deveria fazer distanciamento social, mas isolamento, inclusive da fam�lia”, afirmou ontem, ap�s reuni�o on-line do Hospital Samaritano, em S�o Paulo, o professor da USP e cardiologista do Hospital Albert Einstein M�rcio Sommer Bittencourt, uma das autoridades sobre controle do novo coronav�rus (Sars-CoV-2) no Brasil. Ele recomenda medidas ainda mais duras no estado e critica a falta de testes em mortos e pacientes com s�ndrome respirat�ria aguda grave (SRAG), como mostrado pela reportagem do Estado de Minas desde 10 de maio.

O especialista se baseia em dados da Funda��o Ezequiel Dias (Funed), de 19 de maio, que mostram que uma escalada acentuada da curva de exames positivos no estado. Ou seja, sempre que se faz testes, se encontra um n�mero cada vez maior de infectados (veja a tabela) apesar de o n�mero de amostras examinadas se manter no mesmo patamar di�rio. No in�cio da epidemia em Minas Gerais, entre 22 e 28 de mar�o, a positividade de testados era menor que 5%. Esse �ndice s� foi alcan�ado entre 12 e 18 de abril. A escalada foi forte no m�s de maio. Chegou a 10%, entre 3 e 9 deste m�s, saltando para 15% entre 10 e 15 de maio e alcan�ando 23% do dia 17 ao 18.

“O gr�fico de positividade mineira � assustador. Isso aqui assusta demais. Ter muitos resultados positivos significa testar pouco ou ter muitos doentes. N�o aumentaram a testagem significativamente em Minas Gerais, que est� em cerca de 222 exames por dia, sendo que o estado come�ou com menos de 5% (de positivos) e est� agora com 23%”, destaca Bittencourt. “Nem na rede privada (MG) est� com positividade baixa”, alerta.

O professor da USP e m�dico do Hospital Albert Einstein destacou tamb�m preocupa��o com a baixa testagem em Minas Gerais dos casos de SRAG, como vem alertando o EM. Na edi��o de ontem, a reportagem mostrou que a s�ndrome j� afetou expressivamente mais mineiros que em 2019, com 8.099 doentes neste ano contra 1.024 do mesmo per�odo do ano passado, uma alta de 691%. As mortes saltaram de 116 para 1.088, um aumento de 838% durante a pandemia. Contudo, entraram na testagem para a COVID-19 apenas 3.139 (38,7%) doentes e 307 (28,2%) mortos com esse quadro, segundo o Minist�rio da Sa�de. “S� a� j� dobraria o n�mero de casos graves. S�o 234 �bitos por COVID-19 confirmados (atualmente). Mas a maioria dos �bitos de SRAG ficou sem diagn�stico. O estado realmente tem mais testes do que eu esperava, me informaram 19.601. Como explicam n�o ter testes para todas as SRAG? A capacidade instalada tamb�m sugere que d� para testar todos esses casos, mas, infelizmente, o estado fala em 222 PCR por dia (exame de laborat�rio que usa enzimas para detectar a presen�a do v�rus no paciente)”, avalia Bittencourt.

ESTRAT�GIA

Para o m�dico, ainda � cedo para que se fale em abertura e o estado deveria planejar uma estrat�gia mais r�gida de enfrentamento que poderia ser capaz de controlar a epidemia em menos de um m�s. “Fazer s� exame sorol�gico, depois que a pessoa est� infectada, n�o adianta. Do ponto de vista do controle, quem est� com sintomas (gripais) tem de fazer isolamento. Sair de circula��o inclusive da fam�lia. Quem n�o pode, a popula��o mais pobre, o estado teria de fornecer isso, com hot�is, hospedagem universit�ria, alguma solu��o. Enquanto isso, a fam�lia e as pessoas que tiveram contato se isolam”, indica.

Os casos confirmados atualmente s�o 7.516, mas os suspeitos, que t�m sintomas e precisariam estar isolados at� serem testados, chegaram a 101.572 segundo o �ltimo boletim que trazia esse tipo de informe, de 13 de maio. Naquela altura, os confirmados eram 3.733, ou seja, sofreram um aumento de 101%. Para o m�dico, as pessoas com suspeita deveriam estar totalmente isoladas, enquanto as que apresentaram sintomas precisariam de buscas ativas rastreando com quem tiveram contato e indicando o afastamento social a essas pessoas. “A m�dia de tempo que uma pessoa transmite a COVID-19 � de nove dias. Se conseguirmos isolar os casos suspeitos e sintom�ticos por 10 dias, isto �, uma semana e meia, voc� controla a doen�a mesmo n�o tendo muitos testes. Mas falta cair a ficha de que investir em respiradores � enxugar gelo, esperar muita gente adoecer e morrer. N�o � controle da doen�a”, afirma Bittencourt. “A proje��o � de que as mortes continuem, pois estamos em fase de progress�o da doen�a no Brasil. A doen�a n�o acelera, mas tamb�m n�o desacelera”, avalia.

Transmissores podem ficar invis�veis


Comparando as realidades e estudos mundias sobre a doen�a, o m�dico M�rcio Bittencourt revela algumas caracter�sticas importantes da COVID-19 que podem ajudar no controle da sua prolifera��o. At� agora, a maioria dos casos � pouco sintom�tica e transmiss�vel, se tornando invis�vel sem a testagem. O novo coronav�rus se espalha tanto, ironicamente, por n�o ser t�o mortal. “Quando a doen�a � muito letal, a pessoa sai de circula��o r�pido e vai para o hospital, como no caso do ebola. Isso impede a transmiss�o. J� uma doen�a de m�dia letalidade, como a COVID-19, torna o doente capaz de circular e transmitir o v�rus antes de ser internado”, afirma.

A distribui��o do v�rus � muito vari�vel. A maior parte das pessoas n�o infecta ningu�m, mas algumas infectam muitos. E os chamados superdisseminadores, que s�o pessoas com grande capacidade de infectar outras, no caso da COVID-19, est�o ligadas a um conjunto de situa��es. “Desde uma pessoa com grande produ��o de saliva, � reuni�o de grupos em ambientes mais infectantes, fechados. Cen�rios oportunistas, como igrejas e cultos, onde as pessoas cantam. Cantar produz mais saliva e a projeta para mais longe. Teve um caso em um coral que todos pegaram e seis morreram. Nas academias, a capacidade de distanciamento � pequena e a perman�ncia das pessoas � prolongada. Nesses locais a infec��o � maior. Ao ar livre s�o muito poucos casos”, diferencia.


Governo admite subnotifica��o de 10%

Em meio ao enorme crescimento de mortes por s�ndrome respirat�ria aguda grave (SRAG) neste ano em rela��o a 2019, que conforme levantamento divulgado pelo Estado de Minas chega � marca de 838%, o governo do estado admitiu ontem que h� subnotifica��o de casos de COVID-19 em Minas Gerais. "Dentro de uma l�gica de vigil�ncia, � natural supor que voc� tem um grau de subdetec��o e um grau de subnotifica��o. Isso para qualquer patologia, em qualquer momento. Isso antes, durante e ap�s a COVID-19”, disse o subsecret�rio em Vigil�ncia e Sa�de da Secretaria de Estado de Sa�de (SES), Dario Ramalho. Para ele, contudo, o n�mero de diagn�sticos da doen�a pode ser corrigido em 10% – um caso extra para cada 10 –, o que significaria um acr�scimo de 751 casos confirmados em Minas, que elevariam para 8.217 o total de infectados pelo novo coronav�rus.

“Para qualquer patologia, existem in�meras pessoas l� fora, que n�s n�o temos capacidade de fazer o diagn�stico de todas elas", explicou Dario Ramalho, durante entrevista coletiva, deixando claro que h� dificuldade por parte do estado para testar pessoas. J� o titular da Sa�de Mineira, Carlos Eduardo Amaral, informou, na mesma coletiva, que foram distribu�dos para as prefeituras 551 mil testes r�pidos e que a orienta��o � para que sejam feitos em servidores da �rea da sa�de e seguran�a que apresentem sintomas. A testagem, nesses casos, seria prioridade para que essa parcela da popula��o possa voltar ao trabalho o quanto antes.

As afirma��es foram feitas um dia depois de o pr�prio governador Romeu Zema (Novo) negar que houvesse subnotifica��o em Minas Gerais. “No passado, as pessoas, talvez, n�o procurassem tanto o atendimento m�dico. Hoje, est�o procurando. Agora, podemos estar tendo, simultaneamente, aumento no n�mero de gripes, resfriados ou algum problema respirat�rio, mas que n�o s�o COVID-19. Quando as pessoas t�m sintomas (do novo coronav�rus), s�o testadas. � um surto viral que n�o a COVID-19”, declarou em entrevista exclusiva ao EM.

Na edi��o de ontem, a reportagem do EM mostrou que h� um aumento de 838% no n�mero de mortes por S�ndrome Respirat�ria Aguda (SRAG): de 116 no ano passado para 1.088 em 2020. E uma alta de 691% nos casos: de 1.204 nos 12 meses de 2019 para 8.099 neste ano, at� a �ltima semana epidemiol�gica com dados fechados pela Secretaria de Estado de Sa�de. Apesar de os aumentos serem substanciais, entraram na testagem para a COVID-19 apenas 3.139 (38,7%) doentes e 307 (28,2%) mortos com esse quadro, conforme balan�o obtido junto ao Minist�rio da Sa�de.

Sobre a situa��o dos testes e seus resultados em Minas, a SES disse, por meio de nota, que segue as orienta��es do Minist�rio da Sa�de, e fez “grande quantidade de testes”: um total de 20.254 exames PCR em sua rede p�blica de laborat�rios. “� importante frisar que neste momento, conforme orienta��o do Minist�rio da Sa�de, a indica��o para realiza��o para coleta de amostra e testagem � para unidades sentinelas de S�ndrome Gripal (SG) e S�ndrome Respirat�ria Aguda Grave (SRAG); todos os casos de SRAG hospitalizados, todos os �bitos suspeitos, profissionais de sa�de sintom�ticos, agentes de seguran�a p�blica sintom�ticos, por amostragem representativa e p�blico privado de liberdade”, disse o �rg�o, em nota.

Para a secretaria o n�mero de positivos alto em rela��o � testagem � observado de outras formas. “Mesmo n�o realizando exames em 100% dos casos notificados, a SES-MG possui mecanismos de controle capazes de avaliar o real cen�rio da doen�a. Um destes mecanismos � o acompanhamento di�rio dessas notifica��es”, diz o texto.


HIP�TESES

Na mesma nota, a SES comentou o aumento de �bitos por SRAG, dizendo que h� in�meras hip�teses sobre o tema. “Pode estar relacionado � maior sensibilidade em notificar casos de SRAG, � circula��o de outros v�rus sazonais e � circula��o da COVID-19 na popula��o mundial. A SES-MG, ressalta, ainda, que todos os casos graves de SRAG s�o testados, conforme protocolo. Em 2020, tivemos um n�mero maior de notifica��es, mas esse aumento n�o refletiu linearmente na sobrecarga do sistema p�blico de sa�de”.

A SES-MG destacou tamb�m que o n�mero de �bitos em Minas Gerais � “relativamente pequeno, em rela��o a uma pandemia t�o grande, e o sistema de sa�de em Minas est� preparado”. E acrescenta: “� necess�rio compreender tamb�m as dificuldades para se realizar a testagem das pessoas diante de um cen�rio que � de escassez no mundo inteiro”. (M�rcia Maria Cruz  e Gabriel Ronan Com MP)


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